Chegamos sentindo-nos como exploradores cansados, depois de um dia em que os quilómetros percorridos na savana infindável, nos traz à memória a epopeia de Serpa Pinto e aquela travessia solitária e arriscada que moldou a imagem de um homem. Chegamos com África entranhada, acreditando que existem seis sentidos e não cinco. O jipe, indolente e tão cansado como os viajantes, aproxima-se vagaroso do lodge que haveria de ser o nosso poiso por dois dias, e que nos recebe de braço dado com o crepúsculo africano, um momento único em que o sol parece dar as boas vindas à lua. Quem nos recebe abre um sorriso amistoso e cumprimenta-nos num inglês a roçar o perfeito. Um nativo vestido de branco com um porte que não deixa esconder as origens Masai, acompanha-nos aos nossos aposentos, uma tenda Vitoriana inesquecível, revestida de cores fortes e acolhedoras. O detalhe, o requinte e a atmosfera romântica perfumada pelo odor de alfazema, trouxeram-me à memória passagens de a Verdade ao Amanhecer de Hemingway, um apaixonado por estas terras atravessadas pelo equador. Que outra recepção poderia haver para viajantes fatigados nos confins de Mara? Do banho, que seria tomado já ao anoitecer, darei conta na crónica seguinte.
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4 comentários:
Primeiro senti-me transportada para lá pelas suas palavras, Mike. Depois apeteceu-me fazer as malas e seguir para lá hoje mesmo, tal é o apelo por essas paragens e a qualidade da sua descrição.
Mas como não posso fazê-lo agora, infelizmente, fiquei a roer-me de inveja...
AV, palavras que não conseguem descrever uma viagem que nos marca irremediavelmente e para sempre. Não pode fazê-lo agora mas recomendo que faça um dia. :)
E obrigado.
O primeiro impacto da fotografia da tenda fez-me pensar na que foi montada pela Cimeira de África para o Kadafi.
A sua descrição transportou-me ao ambiente aventureiro e romântico do Out of Africa, com evocações da banda sonora inesquecível.
E, no recôndito da minha memória, lembrou-me a minha experiência africana, no Zaire, há um bom par de anos (83), vivida em circunstâncias muito particulares (representante da Camel Portugal no Camel Trophy desse ano, 1000 milhas a atravessar a selva africana), toda ela também inesquecível.
Tenho gravadas as imagens dos esplendorosos pôr e nascer do sol, das paisagens a perder de vista, mas também das chocantes imagens da miséria mais miserável a viver paredes meias com a opulência absurda do Sr.Mobutu Sese Seko, dono de tudo quanto luzia, nesse tempo, no Zaire, entre o qual o hotel onde fiquei hospedado em Kinshasa, da cadeia Intercontinental a que pertencia o nosso Ritz, de um luxo paradisíaco (acho que foi o melhor hotel onde estive na vida).
Fico atento a aguardar pelo desenvolvimento desta sua crónica magnífica. Parabéns.
Um abraço
Agradeço as suas palavras e a partilha da sua experiência em terras africanas, psb.
Um abraço.
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