30.6.09

Por mais que me custe admiti-lo, penso o mesmo.

"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a esperteza é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal e se tira um só jornal, deixando-se os demais onde estão. Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito; onde os directores das empresas não valorizam o capital humano; onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos; onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros; onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é “muito chato ter que ler”) e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser “compradas”, sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta. Como “matéria prima” de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa “chico-espertice portuguesa” congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós. Eleitos por nós. Nascidos aqui, não noutra parte. Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada. Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa “outra coisa” não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados, igualmente abusados. É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda. Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro. Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos. Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro de que o encontrarei quando me olhar ao espelho. Aí está. Não preciso procurá-lo noutro lado. E você, o que pensa?"

Eduardo Prado Coelho

Exige-se transparência.

O Instituto da Construção e Imobiliário (InCI), organismo público que ficou responsável pela execução do Código dos Contratos Públicos, e pela criação de um portal, onde devem ser publicitados todos os ajustes directos e derrapagens, em nome da transparência e do rigor no uso dos dinheiros públicos, não está a conseguir, neste mesmo portal, dar o melhor exemplo. O artigo completo escrito por Luísa Pinto fala-nos de falta de transparência quando e onde ela é mais exigível. Neste caso e noutros, quer se trate de relações pessoais, profissionais, ou que envolvam empresas ou organismos públicos, transparência é coisa que é bem vinda. Confesso que para mim o segredo continua a ser a alma do negócio e nem sempre fui transparente. Mas aprecio a transparência.

29.6.09

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Gwyneth Paltrow

28.6.09

Meus companheiros inseparáveis (XX)


Nirvana (e Kurt Cobain)

A minha mais nova começou com aulas de viola clássica. Ainda naquele dedilhar tímido e inseguro, faz questão de mostrar as suas habilidades e a evolução que, nesta fase, é notória semanalmente. Há dias resolveu surpreender o pai com os acordes iniciais de uma música de uma banda que é minha companheira inseparável. Se fiquei feliz? Nem vos conto quanto.

Viajar. Ou outra forma de respirar.

Não é só a falta de tempo. É, principalmente, o facto da minha cabeça ter estado mais ocupada que o metro em hora de ponta. Isso e o cansaço contribuem para a escassa disponibilidade mental e para a inexistência da dose elementar de discernimento que considero indispensável para escrever. E estou um sem-vergonha descarado, inspirando-me em textos de outras pessoas. Um deles, em que viajar é o tema, escrito com uma mestria admirável e invejável, é um bom exemplo. Cheguei de Angola no pico do Verão de 1975 e desde então viajar é um verbo que tenho praticado. Uma necessidade incontrolável que comparo, exageradamente, bem sei, ao acto de respirar, ou de me manter vivo. Mas em Lisboa, devo confessar, apenas se reforçou o desejo e a vontade de algo que sempre fez parte da minha vida, desde que me lembro e até onde a minha fraca memória me pode levar. Viajei muito em Angola com os meus pais, nessa terra imensa em que os planaltos grandiosos parecem não ter fim, tal como a minha decepção ao chegar à metrópole, que me ensinaram ser a capital do império. Uma metrópole acanhada e provinciana, povoada de mentalidades estreitas e desconfiadas. Em 1976 os meus pais levaram-me a mim e ao meu irmão a Londres. Essa viagem foi a gota de água que fez transbordar o copo vazio. Sim, o meu espírito pouco mais era que isso, um copo quase vazio. Nunca mais, desde essa viagem, passou um ano sem que saísse de Portugal. Nem que fosse passar a fronteira para comprar caramelos. Não espero que entendam esta minha vontade de pisar um chão diferente, de ouvir outras Línguas, de ver outras pessoas, de respirar outro ar. Na esmagadora maioria das vezes em que viajei não senti saudades do meu país, saudades de casa, ou aquela sensação home sweet home à chegada. E em mim, paradoxalmente, porque ao longo da vida fui fazendo as pazes com Portugal, e Portugal comigo, porque não admiti-lo, o desejo de viajar acentua-se. Disse que é outra forma de respirar? Então disse bem, porque é isso mesmo que viajar representa para mim.

24.6.09

O que é nacional é bom. (VI)

Nasceu em Lisboa, estudou engenharia e é director de fotografia. É doutorado pela Universidade de Sorbonne de Paris, onde creio que vive, e recebeu a condecoração da Ordem do Infante. Foi nomeado pela Academia de Hollywood para o Óscar na categoria de Melhor Fotografia, pelo seu trabalho com Peter Weber no filme «Rapariga com Brinco de Pérola», depois de, em 1998, concorrer na mesma categoria pelo seu trabalho em «As Asas do Amor», de Iain Sofley. Para além destes dois realizadores, Eduardo Serra tem no seu curriculum trabalhos com Chabrol, Patrice Leconte, Michael Winterbottom e Michel Blanc. Será dele a responsabilidade da direcção de fotografia para “Harry Potter and the Deathly Hallows”. Eduardo Serra tem reputação internacional como director de fotografia, é nacional e é bom.
Este "o que é nacional é bom" é em especial para a Luísa, por se tratar de fotografia, um talento que felizmente não é oculto, e para que se mantenha numa boa onda.

Rua Amauri, 319, São Paulo.

Era, pelo menos enquanto vivi em São Paulo, um dos locais da badalação no fervilhante Itaim e ostentava a grife Fasano, tendo como um dos proprietários o empresário João Paulo Diniz, herdeiro da gigantesca cadeia Pão de Açúcar. A decoração é moderna e é um dos atractivos da casa, e foi criada pelo arquitecto Isay Weinfield. As paredes transportam o nosso imaginário para o cinema italiano e são decoradas a preceito por posters da sétima arte transalpina. Mas o charme da Forneria San Paolo, para mim, é o imenso balcão de vinte e dois metros de madeira envelhecida. Este restaurante é o local ideal, na capital paulistana, para uma refeição supostamente leve, depois de uma ida ao teatro. Do cardápio destaco o delicioso panini em pão de miga, com muzzarella, tomate fresco e manjericão, e o panini na massa de pizza com queijo brie, peito de peru, tomate fresco e azeitonas pretas. Não deixamos que a sede se apodere de nós e, para quem não aprecia cerveja, há bom vinho servido a jarro. Da cozinha também saem pizzas, pastas, saladas, carpaccios, carnes e deliciosas sobremesas. Também há os clássicos italianos que fazem sucesso, como o hamburguer com queijo cheddar e o hot dog com salsicha especial, feitos com massa de pizza e assados no forno de lenha. Uma delícia. Para quem deseja apenas uma sandwich, a lista é enorme e de fazer crescer água na boca. Confeccionadas pelo chef Rodrigo Gonçalves em pão de miga, em pão chapata, ou em massa de pizza, com mais de 30 opções de recheio, acompanhadas de salada ou batatas fritas. A partir da meia-noite, uma jukebox com 600 músicas entra em acção e a selecção é feita pelos próprios clientes, através duma ementa levada à mesa pelos empregados, quer dizer, pelos garçons. Resta-me acrescentar que a Forneria San Paolo é muito bem frequentada.

These guys are damn good.

Flight of the Conchords. From New Zealand.
Bret McKenzie e Jemaine Clement são uma dupla de comediantes.
Galardoados com um Grammy, entre vários prémios.

23.6.09

O que é nacional é bom. (V)

Foi fundada em 1906, contou com a presença no dia de abertura de, entre outros, Guerra Junqueiro, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa. O edifício, projectado por Xavier Esteves, foi construído de raiz em estilo neogótico e surpreende, a quem ali entra, pela escadaria circular, as enormes estantes iluminadas pela suave luz da clarabóia, e pelas estantes e bancas onde vivem cerca de cento e vinte mil títulos diferentes. A Livraria Lello é portuguesa e foi considerada a terceira mais bela livraria do mundo pelo The Guardian, jornal que a apelidou de "divina".

22.6.09

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Angelina Jolie

21.6.09

Meus companheiros inseparáveis (XIX)


Jimi Hendrix

Cenouras e pepinos, e uma certa ética.

















A minha mãe teve dois filhos homens. Mas desde cedo que não alinhou a educação dos dois filhos pela bitola, muito frequente há trinta anos atrás, de desculpabilização por certas coisas não contarem com a nossa participação por sermos dois rapazes. Em casa, objectivamente na cozinha, fomos saudavelmente compelidos a deitar mão a tarefas normalmente atribuídas às filhas. Costumo dizer que, em casa, a única coisa que não faço (até ver) é passar a ferro. E há quem diga que um dia me há-de ver a dobrar meias a dois. Nada a opor, antes pelo contrário. Mas há um ética pela qual me oriento, de que não abdico. Tem a ver, particularmente, com essas raízes de cor alaranjada e esses frutos de casca verde, de que tanto gosto. Cenouras e pepinos. Uma ética que aplico, mesmo na intimidade do lar e do casal. As senhoras podem deliciar-se, descontraidamente, saboreando cenouras e pepinos inteiros, depois de devidamente lavados, claro. Só uma mente prevertida e subjugada a ideias a que o Diabo não é alheio, pode ajuizar negativamente ou ver o mal onde ele não existe, quando uma senhora saboreia cenouras ou pepinos inteiros. Mas um homem não. Eu, pelo menos, continuarei a orientar-me e a seguir uma certa ética alimentar. Cenouras e pepinos, um homem só deve comer às rodelas. Não fica bem, entendem-me? Estou certo que sim. Da mesma forma que não fica bem a uma senhora ir à praça e tratar o tomate no plural, mesmo que compre uma dúzia de... tomate. Fui educado a fazer tarefas que normalmente estavam reservadas a raparigas, mas há limites, não acham? É uma questão de ética.

18.6.09

A minha aldeia? Nem adoptada.

Não escondo, (e porque haveria de o fazer?) que tenho preferências de leitura na blogosfera e admito que essas preferências se sedimentam com textos escritos com mestria, mesmo que homenageando e glorificando, de certa forma, algo que me é distante, como as aldeias. Devo, contudo, confessar, que foi a firmeza e frontalidade de um gira o disco e toca o mesmo que me fez sentar à frente do computador e voltar a escrever, desafiando o tempo que não tenho e, sobretudo, a disponibilidade mental para o fazer. E escrever sobre quê? Sobre as tais aldeias que me são distantes. Nunca tive uma aldeia, ou nunca senti que tivesse. E há trinta e quatro anos que desconheço o sentimento de ir à terra. Ou será que sempre desconheci? Não critico quem a tem e quem à terra vai. Mas também não invejo. Não gosto de aldeias, sejam elas pequenas e pitorescas, tenham dez habitantes ou um milhão. Não gosto da palavra, do que ela significa para mim ou como, de uma forma muito pessoal, é por mim percepcionada. Digo aldeia, como poderei dizer vila. Locais onde, supostamente, as relações se desenvolvem de uma maneira mais genuína e onde as coisas são mais ricas porque o tempo parou e a civilização também. Onde a nostalgia prevalece e se vivem raízes. Não gosto de aldeias. Desses locais pequenos que, pelo que me posso aperceber, nos acolhem e nos afagam, inundando-nos em memórias. Aldeia traz até mim um conceito de isolamento, uma coisa mignone e fôfinha que me tira a respiração. Aldeia é claustrofobia. Porventura porque nunca tive uma. Ninguém sente a falta do que não teve e entre mim e a aldeia é exactamente isso que se passa. Nunca tive e, confesso, não quero ter, nem mesmo adoptada.

5.6.09

Rosetta Tharpe ganhaste mais um fã.

Não resisti e confesso que não estou muito preocupado sobre o que o L. possa pensar deste descarado roubo ao Designorado. É que eu vibrei e muito com esta senhora a que o meu amigo L., com toda a propriedade e alguma ironia à mistura, apelida Jimmy Hendrix Granma. Não faz parte dos meus companheiros inseparáveis mas acreditem que podia e merecia. Rosetta Tharpe foi, e continua a ser, um caso sério de boa música. E ganhou mais um fã.

4.6.09

Bom fim-de-semana.


Foto: Nuno Ramos

1.6.09

O que é nacional é bom. (IV)

É conhecido (por poucos) pelo engenheiro da Pala do Pavilhão de Portugal, cujo nome é normalmente atribuído a um famoso e reputado arquitecto português. António Segadães Tavares foi o primeiro português a ser laureado com o prémio OStrA (considerado como o Óscar da engenharia de estruturas) pela ampliação do aeroporto da Madeira. É Professor Catedrático e um dos nomes incontornáveis e mais respeitados da engenharia de estruturas em todo o mundo. E é português.

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Jessica Lange

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