7.12.13

Rudimental. Estou rendido a estes miúdos.



Dear Mandela,



This small letter will find you on your last way to a deserved and final freedom. I must confess, to be honest, that I am not really sure why I am writing this letter. Somehow I feel this strong need to do it, but I also feel that it doesn’t make sense. We both know that nobody is eternal but you know, Nelson, I can’t avoid feeling a bit like an orphan. We all know that you were not a saint, unless we see a saint as a sinner that keeps trying. You said it. The problem, my dear Nelson, is that you were the last public personality alive that I truly admired. That’s why I feel a kind of fatherless. And I am old enough to know that most of us, all over the world, that cried your death will forget your teachings and your legacy. We will say “no we won’t” but we will. And you will not be here to remind us with your wisdom, your kindness, your love and above all your strength, your faith and your goodness. It has already happened with Christ and Mahatma Gandhi. Nobody on earth is able to do what you have done. It’s not about reading what you said or what you did. It’s about your unique character. A unique character and courage of a simple man that puts himself a task considered impossible by many, but which made possible the miracle of reconciliation of a nation: freeing both the oppressed and the oppressor. It’s not about doing the right things when life smiles at you. It’s about doing the right things when life turns its back to you. The job is never done, isn’t it? But your job has been done. I recognize that smile of yours. The smile that only men and women have when the job is done. Well done in your case, I would say.

With my deepest respect and warm regards.

Farewell, Nelson Mandela.




1.12.13

O valor da paz. Descobri-o no interior de Angola.

O Bailundo é uma pequena cidade histórica do imenso planalto central angolano. O Bailundo é como uma pessoa. Uma mulher de raça negra do interior de Angola. Uma mulher envelhecida, com cabelos já brancos e muitas rugas vincadas num rosto dorido. Uma mulher magra, com os ossos a marcarem cada contorno da pele. Uma mulher que viveu a guerra e sobreviveu a ela, mas com fantasmas chamados memórias ainda e sempre a ocupar a sua vida. Uma mulher de olhos tristes, cansada, mas que nunca deixa de nos acenar com um sorriso. O sorriso que a paz lhe trouxe e que é mais importante que a pobreza. Só dá, verdadeiramente, valor à paz, quem viveu a guerra, ouvi no Bailundo. Envelhecida, ainda cansada da guerra, de cabelos brancos, muitas rugas no rosto, magra e com memórias amargas. Mas porque é que, mesmo assim, eu achei a tua terra bonita Edite?

10.11.13

A principio é simples, anda-se sózinho
Passa-se nas ruas bem devagarinho
Está-se bem no silêncio e no borborinho
Bebe-se as certezas num copo de vinho
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
Diz-se do passado, que está moribundo
Bebe-se o alento num copo sem fundo
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
Entra-se cansado e sai-se refeito
Luta-se por tudo o que se leva a peito
Bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
Olha-se para dentro e já pouco sobeja
Pede-se o descanso, por curto que seja
Apagam-se dúvidas num mar de cerveja
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar, sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
E outra maré cheia virá da maré vaza
Nasce um novo dia e no braço outra asa
Brinda-se aos amores com o vinho da casa
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

6.10.13

Treinar o riso?


Passei os últimos tempos da minha vida de relance. E num relance, como foram os últimos tempos da minha vida. Poucas pessoas, muito poucas, me fazem sorrir ou rir. Penso, preocupado, que nunca precisei de ninguém que me fizesse sorrir. Só precisava de mim. “Tens que treinar, tens começar hoje”, diz-me com um sorriso quem me faz rir. Diz-me quem amo. Dei como adquirido o sorriso e o riso, mas a vida, por vezes, tem outros projectos para nós. Quiçá para nos pôr à prova. Deve ser isso, ela gosta de nos pôr à prova. Mas o riso treina-se? Pergunto, vacilante, aos meus dois neurónios. Claro, responde-me um deles sem hesitar, que o outro continuava de cara fechada. O sorriso e o riso são como os músculos do nosso corpo e o nosso cérebro: têm que ser exercitados. Vou dar início aos treinos, mas primeiro sozinho e isolado, não vá alguém achar que devia ser internado. Devia andar sempre com os livros do Calvin & Hobbes e era remédio santo. E podia sempre dizer que tinha dois personal trainers estrangeiros.  

1.10.13

Cidades


Há pessoas que, logo num primeiro contacto, mostram o que são: desorganizadas e desordenadas, iletradas, incultas, pobres e que emanam uma felicidade e uma descontracção que, inevitavelmente, consideramos irresponsável. Há outras pessoas que são diferentes. E que conseguem fazer com que levemos tempo até percebermos que afinal não são. Excepção feita à felicidade e descontracção. Emanam uma tristeza e um ar sério que, equivocadamente, consideramos responsável. Descobri que com as cidades também é assim. Talvez por serem habitadas por pessoas diferentes. 

2.8.13

Sobre o sacrifício.


Só conheci uma pessoa que me falava dos sacrifícios da vida com um sorriso nos lábios. Um sorriso apaziguador e que nos embalava como se fossem dois braços firmes e calorosos. E que nos fazia esquecer os sacrifícios. É preciso que a vida passe por nós para percebermos o verdadeiro significado do que essa pessoa nos queria transmitir quando citava Mohandas Karamchand Gandhi. “Uma vida de sacrifício é o cume supremo da arte; é cheia de alegria verdadeira”. Porque uma vida de sacrifício significa que nos entregámos a causas e, mais importante, aos outros, não é mãe? 

1.8.13

Hoje.

Hoje.
Hoje lavei a alma. E a alma sorriu-me mais forte que ontem. 
Sorriu, tímida, com um sabor inesperado a sal. Hoje lavei a alma. 
Hoje voltei aqui, depois de mais de dois anos sem desconversar.
Hoje. E amanhã? Amanhã é amanhã, certo?