31.7.10

Está calor!

Gosto.

Gostei dela no primeiro encontro. Do sorriso luminoso, do olhar irrequieto, do rosto bonito e sereno, da gargalhada descontraída. Gosto dela. Gosto mais dela hoje do que gostava ontem. E é bom sentir que gostarei mais dela amanhã do que gosto hoje. Gosto mesmo dela.

30.7.10

Amigos de infância.

Três amigos de infância. Amigos de uma infância africana, numa Angola distante mas presente. Uma amizade construída entre pescarias, patifarias e travessias secretas de uma baía num barco rústico de bimba, só mais tarde confessadas aos progenitores. Sem data para se encontrarem, passam-se anos sem se verem ou falarem. Quando se encontram é como se tivessem estado juntos no dia anterior. E quando se separam não marcam o encontro seguinte. A conversa é de hoje, não de ontem, versa o presente e o futuro, e muito raramente o passado. Um passado que está lá, mas não torna o encontro nostálgico ou saudosista. Gosto dos almoços destes três amigos de infância. Gosto destes dois meus amigos de infância.

Bom fim-de-semana.


Este fim-de-semana está a apetecer-me pôr a criançada em cima da prancha...

... a criançada e não só.

29.7.10

A propósito de apreciações enigmáticas...

... venho aqui falar de uma actividade que me está próxima, tal como a caça, mas à qual não me tenho dedicado, já faz tempo. E como pescas há muitas, fiquemo-nos pela pesca à linha. Essa mesmo, com linha e anzol e que ainda é uma das principais formas de capturar peixe. Lembro-me de acompanhar o meu pai e o meu avô à pesca, desde menino de tenra idade. E é impossível esquecer-me dos tempos em que pescava nos esporões que entravam pelo mar revolto, ou no velho pontão de tábuas gastas e carcomidas que, timidamente, avançava pelas águas calmas da baía. E também sei porque a caça foi ocupando o lugar da pesca, na minha vida. A pesca é, pelo menos para mim, e arrisco-me a dizer para a maior parte dos pescadores que conheço, um acto de solidão. Momentos de silêncio e que nos trazem paz, momentos de poesia serena. Que nos convidam à introspecção, ao pensamento livre, apenas com as rédeas que quisermos ou formos capazes de lhe impor. Momentos de quietude, de contemplação e de cumplicidade com o peixe que jamais chamamos presa. Sim, na pesca submarina é diferente, mas também por isso lhe chamamos caça submarina. Na pesca que conheço, mesmo quando não estamos sós, o silêncio impera a maior parte das vezes. E quando esse silêncio é quebrado, é expectável que o seja com um tom de voz baixo e pausado. Apenas ao som do mar é permitido quebrar esse silêncio, sem que se quebrem os momentos de paz, introspecção e contemplação. Lembrei-me da pesca, a propósito de apreciações enigmáticas que se arriscam, porém, a verificarem-se equivocadas.

25.7.10

Colocaram um pecado capital no meu caminho.


Foi, definitivamente, a preguiça que se apoderou de mim. Por mais justificações, todas elas soando plausíveis, que dê a mim próprio sobre o meu afastamento da blogosfera, como por exemplo, a anormal carga de trabalho, a consequente falta de tempo e uma criteriosa redefinição das prioridades quotidianas, a preguiça desempenha um papel muito importante. Também há o cansaço e, como me dizia alguém há dias, quando estamos cansados, o corpo deixa de ser um instigador para passar a ser um mero executante. A mente, essa orienta-nos inteligentemente para o que deve e não para o que pode ser feito. Pelo menos a minha, e considero-a amiga. Mas a preguiça, que sempre considerei uma inimiga a combater ferozmente, foi posta, com argúcia, pela minha mente no meu caminho. Disse-me ela, a mente, quando discutíamos o assunto, naqueles momentos de solidão e silêncio de que falam, e melhor escrevem, a Luísa e a GJ: estás com problemas por ser um pecado capital? queres que te relembre outro que tenhas já cometido para te atenuar a culpa? não, obrigado, deixa estar assim, que há uns mais capitais que outros! e pelos vistos estás a lidar mal com a indolência… lido mal com ela mas neste caso está a saber-me bem… então porque não deixas que a preguiça se atravesse no teu caminho? é por causa da negligência? por teres pessoas que te querem bem e para quem o teu silêncio pode causar preocupação? também, creio que é principalmente por isso! então escreve, disse-me a mente, escreve sobre a preguiça. De caminho, porque é de caminhar que se trata, e me é imposta uma certa terapia por quem me ama, deixem que vos diga que já nem estou certo que este texto faça sentido ao falar de preguiça, de tão doridos estarem os meus gémeos e tão moídas estarem as minhas virilhas. Que raio de terapia esta, que transforma a areia molhada da praia quando o dia ainda é uma criança, em inimiga dos membros inferiores de um rapaz que já passou meio século de vida? Um dia destes pego na minha terapeuta e atiro-a, delicadamente, claro, para cima da prancha. Só para ter o prazer de ver o feitiço a virar-se contra a feiticeira.

Raios! Que o calor desperta em mim o pecado.

Mulher, está a apetecer-me melancia! Será gula?
Pode até ser, mas este calor e com este desejo irresistível de melancia, não só não evito, como me apetece pecar.

4.7.10

Programa familiar.

Foi bonita a 8ª Gala de Boxe Olímpico, com o Pavilhão Casal Privilégio engalanado para receber inúmeros apoiantes e apaixonados pela nobre arte. O orgulho do meu irmão, escondido com dificuldade, tinha origem no facto de ser o treinador de alguns dos atletas que representavam o nosso clube e não por ser o gerente de algo que inicialmente não passava de um velho barracão e hoje é, depois de esforços incalculáveis e de uma dedicação extrema, um respeitável clube de boxe amador da Grande Lisboa. Estou certo que é com muita dificuldade e hercúlea compreensão que alguém possa entender a ida a uma gala de boxe amador como um programa familiar. Mas foi assim ontem, com três gerações sentadas na primeira fila. A minha mãe nunca foi e não é agora, aos oitenta e dois anos, que se irá tornar apreciadora. Mas sente que cumpre uma missão, ao apoiar um dos filhos. Eu não, eu sempre fui fã mesmo de antes de praticar. Para o mais novo foi a sua estreia de boxe ao vivo, aos cinco anos. E gostou, principalmente quando pediu dois pares de luvas ao tio e subiu com o pai ao ringue, depois da gala ter terminado e o pavihão ser só nosso. Gosto de boxe, principalmente de boxe amador. Mas isso não interessa agora. O que importa é ter gostado de rever o Pelé, um dos meninos que "tirámos da rua". Venceu o seu combate e teve uma performance fantástica (está a combater muito bem o miúdo). Foi gratificante constatar que se mantém humilde e respeitador e sentir o meu momento de orgulho silencioso e solitário quando me disse que tinha passado o ano com muito boas notas. Afinal... afinal ainda há esperança.

3.7.10

Bom fim-de-semana.


Estes votos de bom fim-de-semana têm uma dedicatória especial à Luísa, a quem algo prometi e não cumpri.

(Foto tirada das traseiras da nossa nova casa "pé na areia" num momento em que fechámos os miúdos na cozinha)

1.7.10

Esperança (ou a falta dela).

Ainda sobre Luanda, apesar de ter dito que não haveria muito mais a dizer sobre a minha breve estadia nessa imensa e desordenada metrópole africana. Em Luanda vê-se e convive-se com a pobreza. Uma pobreza visível e assumida que, inevitavelmente, nos incomoda e faz-nos pensar. Diferente da nossa, que é uma pobreza envergonhada, complexada e escondida, a acreditar nos últimos estudos que apontam para números preocupantes que revelam o facto de 50% dos portugueses viverem abaixo ou no limiar da probreza. Dizia-me há tempos alguém que divide o tempo lá fora e cá dentro, que quando chega a Portugal, não fosse o desejo de estar com a família, iria de imediato das “chegadas” para as “partidas” sem sair do aeroporto, por sentir o país cada vez mais deprimido e depressivo. Mas voltemos a Luanda e aos seus habitantes. Porque se riem eles e se mostram optimistas se são na sua maioria pobres e enfrentam problemas básicos, muitos deles para nós já há muito ultrapassados? Creio, e não encontro outra razão, que é por terem esperança, viverem com ela. E esperança, ou a falta dela, não tem a ver apenas com pobreza, pois não? É caso para dizer que a pobreza é quase toda igual, mas esperança, uns têm-na e outros perderam-na ou vivem o sentimento de estarem a perdê-la (não sei o que é pior). Talvez tivesse sido, também isso, que me fez sentir estar numa cidade onde as coisas estão a acontecer e se vive um clima de optimismo, apesar de tudo.

A imagem foi escolhida em agradecimento à GJ, autora do texto "Pontos de encontro".