19.4.08

Apenas um homem ou também um senhor?

Encontrado está um homem para contrabalançar a tendência, sem contudo a alterar. Esse homem vive no extremo nordeste do país e dá pelo nome de Trás-os-Montes, apelido da família que remonta há séculos e que ele teima em perpetuar apesar de se sentir isolado. Sente-se isolado mas sempre cultivou esse isolamento. Trás-os-Montes é um homem duro, empedernido, de feições que a vida se encarregou de marcar. Um homem de antes quebrar que torcer, senhor do seu nariz que conhece como ninguém as fronteiras das suas terras, onde levantou com sacrifício muros sobre os montes que a Natureza criou em terrenos de um vizinho chamado Marão. Não é um homem bonito e a maior parte das pessoas tem dificuldade em considerá-lo um senhor. Mas para mim é um senhor, apesar de saber que ele gosta mais que o tratem por homem. Trás-os-Montes nunca foi menino. Já nasceu homem. Mesmo bebé, o rosto macho e fechado jamais admitiu confusões a quem dele se acercava. Quando lhe perguntam sobre o lema da sua vida, menciona sem hesitar uma breve passagem de um livro de José Saramago que retrata o legado de um avô a um neto: “trabalho que se começa, acaba-se, a chuva molha, mas ossos não parte”. O primeiro nome de Trás-os-Montes não é Salvador, João Maria ou Bernardo. Ele chama-se António e não é um homem de uma beleza consensual. Há até quem diga que bonito é coisa que ele não é, mas a verdade é que as mulheres não lhe resistem, seja pelo seu ar misterioso, ou pelo carácter forte e personalidade vincada. Ri-se pouco e ri-se mais si que dos outros, revelando-se uma pessoa segura e terrena. Trás-os-Montes é um homem saudável, forte e entroncado, de voz grave e aperto de mão firme, e que acredita na vida e aceita o seu vai-e-vem sem temor, oferecendo-se a ela na certeza que o destino está apenas e só nas suas mãos e na sua força. E acreditem que o homem é uma força da Natureza. Moldá-lo? impossível. Conquistá-lo? leva um tempo dos diabos e até Satanás foge desse trabalho como da cruz. Esse é o segredo. Para seduzir e conquistar Trás-os-Montes não se vai lá com diabruras, falinhas mansas ou falsos propósitos, que o homem não é desses. De uma honestidade moral inquestionável, ele é de uma lealdade que jamais sofre o mais pequeno abalo. Digam o que disserem, para mim não é apenas um homem, é também um senhor.

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

"Falta de sensibilidade dos homens", disse o Mike lá no "Estado": tá bem abelha :)
A coincidência é que hoje tenho programada uma "viagem" a Trás-os-Montes, sem sair de junto da lareira :)

Anónimo disse...

Então vai bem acompanhada nessa viagem. :)

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