23.4.08

Afinal os actos ficam para quem?

Nem sempre foi assim, não me custa confessá-lo, mas à medida que os anos avançam, as coisas que faço na vida são, na maior parte das vezes, as coisas que entendo que devo fazer. É importante esclarecer que esta afirmação não deve ser confundida com “as coisas que gosto de fazer”. Haverá porventura uns felizardos que poderão dizer que fazem apenas o que gostam de fazer. Mas não é o meu caso. Infelizmente, penso eu, nos dias mais difíceis; felizmente, noutros dias, a maioria. O que me trouxe a este tema, e mais não estou que a desconversar, é o facto de achar curiosa a relação que se estabelece entre os seres humanos e no equilíbrio muitas vezes precário que se cria e vai desenvolvendo entre as partes quando uma delas faz o que entende que deve fazer, mesmo que isso acarrete inevitáveis sacrifícios, e a outra parte usufrua dessa atitude. Acho curiosa porque uma das partes faz que entende que deve fazer sem esperar nada em troca, nem mesmo reconhecimento ou agradecimento, e tendo até uma sensação inexplicável de pudor quando o assunto é abordado, propositadamente ou não. A outra limitando-se ao usufruto, tem a tendência de perder a lucidez de olhar em redor e, porque não dizê-lo, perder também a noção da realidade que a rodeia. Ah, mas isso quer dizer que devia ficar agradecida? Nem por isso, ou melhor, não de todo. Quer apenas dizer que devia ter a clarividência e evidenciar uma atitude diferente perante o que usufrui, e outro comportamento junto da tal parte que faz o que entende que deve ser feito. Volto a reforçar que não se trata de ingratidão de uma das partes, nem de “tendência para otário” da outra. Acho apenas curiosa, e sem qualquer espécie de mágoa, esta relação que nem chega a estabelecer-se. E vou continuar a seguir os ensinamentos sábios de quem me criou, e permanecer neste rumo de fazer o que entendo que devo fazer. Os actos não ficam para quem os pratica? Continuo a achar que sim, sem ter a certeza absoluta disso. Como me dizia alguém que muito prezo, certezas absolutas mais não são que becos sem saída.

4 comentários:

CPrice disse...

grande desabafo sim senhor !
Mas deixe-me dizer-lhe meu amigo :)que os actos ficam sempre (e eu raramente uso esta palavra) para quem os pratica, tal como a consciência de dever - direito cumprido.
O resto? como costumo dizer .. o resto são peanuts! ;)

Bom fim de semana xl *

Anónimo disse...

Agradecido pelo simpático e solidário comentário, Miss Once.
E como eu gosto de amendoins (risos)... mas não me fazem lá muito bem...
Bom fim-de-semana xl para si também. :)

cristina ribeiro disse...

Inteiramente de acordo com Once!
Este seu post, Mike, caberia, direitinho, na sua série "Vidas" ; nem tudo o que reluz é ouro, mas a conclusão do mesmo é que vale...
Gostei de ler.

Anónimo disse...

Obrigado Cristina. :)

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