29.5.08

Tarefas e preconceitos.

Uma destas manhãs, cumprido que estava o compromisso diário matinal de levar os mais novos à escola, e rumando ao escritório entre o trânsito de uma Lisboa desorganizada e caótica, deparei-me com uma situação que me proporcionou sensações contraditórias. Um camião do lixo estava estacionado em segunda via e quatro pessoas, quais formiguinhas obreiras num vai-e-vem, transportavam contentores que eram depois despejados automaticamente para dentro do camião. Comecei por achar curioso o facto dessas pessoas estarem bem dispostas e, aparentemente, divertindo-se umas com as outras, entre algumas gargalhadas que não conseguia ouvir. Estariam fazendo o que gostavam? ou exprimiam a saudável atitude de quem aprendera a gostar do que fazia? Não importa, e não foi isso que despertou em mim as tais contraditórias sensações. As quatro pessoas que faziam o transporte do lixo eram mulheres. Que raio, pensei, isto não é trabalho para uma mulher. E lembrei-me do meu pai. É que lá em casa havia serviços que uma senhora, no entender dele, que passou a ser meu, não faz. Nem deve. Levar o lixo à rua, tanto quanto me lembro, era tarefa dos homens. E na minha casa continua a ser assim. Ora bolas, não havia quem visse isso naquela empresa? Quatro mulheres a fazer um trabalho que devia ser feito por homens, não me pareceu nada, mas mesmo nada bem. Segui o meu caminho e, entretanto fui pensando quão descabida poderia ser a minha postura, num mundo de igualdade reclamada e legítima, em que o quebrar de barreiras e preconceitos é reclamado e saudável. Será? Assim como assim, ainda antes de ter chegado ao escritório, e não levei muito tempo, cheguei à conclusão que em algumas matérias corro o risco de me manter preconceituoso. O meu pai tinha razão e razão alguma me fará pensar que não. E cá em casa há preconceitos que continuarão a sê-lo. Ó mais velho, vai pôr o lixo na rua. Queres ajuda? (do pai, claro, que o mais novo já está a dormir).

20 comentários:

fugidia disse...

Hum... sim, há por aí umas coisitas que têm que ser resolvidas... :-p

Mas quanto ao lixo, meu caro Mike: se quiser ter a caridade de vir tratar do meu, esteja à vontadinha... não se acanhe, não?
:-) :-) :-)

PSB disse...

Mike
Tropecei numa cena semelhante não há muito tempo, com dois homens e uma mulher que trabalhavam afincadamente, para já porque estavam a entupir o trânsito. Também pensei que aquele trabalho seria duro demais para uma mulher, pelo esforço físico que exigia. Mas, qual quê, ela fazia exactamente o mesmo que eles e com cara de bem disposta.
É que hoje o tempo não está para preconceitos destes, quando a fome e o frio obrigam o lobo a meter-se ao caminho.
Um abraço

CPrice disse...

Caro Mike .. excelente reflexão mas tenho de concordar com o Pedro .. é que quando a necessidade aperta, o frigorifico clama por conteúdo e a barriga "ronca" de fome não há impedimentos que nos impeçam a nós, mulheres, de fazer o que quer que seja.

E depois, bom, em minha casa a coisa havia de ser dificil (risos)

Bom fim de semana

Anónimo disse...

Fugidia, há coisitas que já não se resolvem... :) Quanto ao seu lixo, senhorita, tenho a certeza que haverá um cavalheiro por perto e que ele não se irá acanhar... (risos)

Pedro, estou inteiramente de acordo consigo e assumo que é um preconceito da minha parte. E como diz, e bem, a vida não está para preconceitos destes.
Gosto de o ler por aqui.
Um abraço.

Miss Once, bem sei, bem sei. E assumo como preconceito da minha parte. Já em sua casa... ups, pois... (risos).
Bom fim-de-semana para si.

nocas verde disse...

Não me importo que me cedam lugar, abram a porta, esperem por mim para passar, tirem os sacos das compras das mãos... não considero preconceito. Já haver trabalhos deste ou daquele género... alinho com a Miss Once eo Pedro... infelizmente, permita-me que acrescente.
um abraço e bom fim de semana

Anónimo disse...

Nocas Verde, :)
Tal como disse ao Pedro e à Once, assumo que se trata de um preconceito. Contudo hei-de debruçar-me sobre se a realidade é a necessidade de trabalhar ou o trabalho em si... :)
Bom fim-de-semana, para si.

ana v. disse...

Seria ridículo vir aqui defender o "direito" das mulheres a despejar o lixo, mas é preconceito sim. Desde que haja capacidade física, qualquer tarefa pode ser feita por homens ou mulheres.

Dito isto, estou com a Nocas: há preconceitos que nos sabem muito bem, e não desejo nada que acabem. Enquanto os homens tiverem a generosidade de serem cavalheiros, apesar dessa paridade que reclamamos, eu não tenho nada contra...

Luísa A. disse...

Muito bem, Mike. Sabe que, se calhar porque não vivi os tempos da inferiorização feminina, não tenho a menor simpatia pela causa igualitária e defendo acerrimamente a discriminação… positiva. Que um homem me dê primazia no sentar à mesa ou no transpor de uma porta contribui muito para a minha felicidade; que se ocupe do lixo é essencial! Além de que, sem aquela discriminação positiva que dá pelo nome de «cavalheirismo», o planeta se arrisca a enveredar por um caminho de desinteresse/desânimo/apatia/quebra do ritmo reprodutor/apagamento total do impulso/desertificação humana, que só pode desembocar no fim do mundo. :-)

Luísa A. disse...

Queridas Ana e Noca, vamos com calma... ;-D

Anónimo disse...

Ana, pois... pouco mais poderei dizer, não é? :)

Luísa, a senhora é uma preconceituosa, portanto. (gargalhada). Portanto e ainda bem, digo eu com um egoísmo declarado de quem encontra um aliado neste preconceito. Mas não é, pois não Luísa? :)

PSB disse...

Bom!
Eu acho que todos temos preconceitos, uns mais à flor da pele outros mais subterrâneos. Faz parte da natureza humana, da educação que recebemos e da massa de que somos feitos. Poderia enumerar alguns que, naturalmente, tenho.
E percebo as Senhoras que aqui se manifestaram, puxando, por um lado, os galões da igualdade, por outro, gostando de receber as atenções de Cavalheiros. Acho que uma coisa não tira a outra.
E, verdade seja dita, a nós dá-nos gozo (àqueles a quem dá) ter estas (e outras, claro) gentilezas com as Senhoras.

Anónimo disse...

O meu muitíssimo obrigado, Pedro. Não fui capaz, em comentário nenhum, de expor o assunto tão claramente.
Um abraço.

ana v. disse...

Não faz mal, Mike. Desde que não deixe de levar o lixo, abrir a porta, puxar a cadeira, etc, as senhoras perdoam facilmente a falta de clareza...
;)

Luísa A. disse...

No meu último comentário, onde se lê «Noca», deve ler-se «Nocas», evidentemente.
E relendo a sequência, noto que também devia incluir a Once no meu discreto apelo ao uso de travões. :-)
E não, não sou preconceituosa, Mike. Apenas quero reforçar a igualdade com alguns pequenos privilégios. :-)

CPrice disse...

Querida Luisa e eu interpelada a dar-lhe razão no que concerne ao que nós gostamos que seja feito. Contudo o meu comentário visava somente a necessidade .. e essa minha Amiga é "madrasta" :)

Mr. Mike .. perdoe o correio .. sei que perdoa *

O Réprobo disse...

Meu Caro Mike,
eu não tenho senão um preconceito, o de desconfiar de quem diz não os ter. Aquilo que faz a qualidade ou a falta de qualidade de um Homem são... os seus preconceitos. O Grande Samuel Jonhson já dizia que não há ideias mais preconceituosas do que Bem e Mal. E quanto àqueles que afirmavam não acreditar na diferença entre ambos, acrescentava: "Sir, ou esses homens não acreditam no que defendem e não vejo que vantagem retiraremos da companhia de seres tão falsos; ou acreditam. E então não nos guardemos de contar os talheres de cada vez que eles saiam de nossa casa".

Quanto à questão que despoletou a polémica serei o mais próximo que, paquidérmico como sempre, consigo do sibilino.
O general Espírito Santo, posto perante uma pergunta de poderem ou não as Senhoras desempenhar as mesmas funções militares que os machos, respondeu:
"Que possam pilotar aviões a jacto tão bem como eles, com certeza que aceito em tese geral. Se me pergunta se podem, como eu tive de fazer, passar oito dias na lama, sem higiene on agasalho, direi que não devem".
A Bom Entendedor uma algaraviada destas chega e sobra.
Abraço

Anónimo disse...

Ah, Ana, fico mais descansado, então. :)

Luísa, estamos de acordo relativamente a esse reforçar de igualdade com alguns pequenos privilégios. :)

Miss Once, só não terá perdão se não usar o correio. :)

E não é que chegou e sobrou, Caro Réprobo?
Abraço.

Anónimo disse...

realmente

há coisas

que são de gaijo

e outras

de gaija

mas enfim

anda tudo

tão trocado

que dps ninguem

entende

pq nao se entende

consigo

com os outros

...

ab L. e bejs às meninas do lixo ,)

Anónimo disse...

Tu entendes-me L., tu entendes-me, amigo.
Um abraço.

Anónimo disse...
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