Os jovens e as suas carreiras. Ou os jovens e o trabalho?
Todos sabemos que o acesso dos jovens ao trabalho é um assunto que requer a nossa atenção e, mais que isso, trata-se, ou deveria tratar-se de uma preocupação social. Há medida que o tempo vai passando, e nas empresas onde tenho trabalhado, vejo-me cada vez mais rodeado por gente jovem, talentosa e com sonhos legítimos. A muita dessa gente jovem é já possível, infelizmente e demasiado cedo, observar atitudes e vícios que deveriam estar, quanto muito, guardados para outros tempos. A esses jovens por quem, apesar de tudo tenho apreço, que muitas vezes e do alto dos seus pedestais feitos de barro assentes numa ignorância que a vida ainda lhes permite mas não desculpará, começo por citar uma passagem extraordinária que descreve o diálogo entre uma freira americana que cuidava de leprosos algures no Pacífico e um milionário texano. Disse-lhe ele, vendo-a a tratar dos infelizes, “Irmã, eu não faria isso por dinheiro nenhum do mundo”. E ela respondeu-lhe, “eu também não, meu filho”. Não vou fazer uma apologia à probreza, mas antes ao trabalho e à paixão por algo que escolhemos como sendo a nossa profissão. Gengis Khan não controlou um império quatro vezes maior que o de Alexandre e o dobro do de Roma, por dinheiro. A determinada e fascinante Madame Curie não dedicou a sua vida à ciência por dinheiro. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro, nem Michelangelo passou 16 anos a pintar a Capela Sistina por dinheiro. Amavam o seu ofício e dedicaram-se a ele de alma e coração, fascinados pelo realizar. Colocar paixão no que fazemos é preferir o erro à omissão, o fracasso ao tédio; é fazer, errar, tentar, falhar, lutar. E não acomodar-se e desperdiçar a oportunidade de ter vivido. Não sou eu que o digo. Vem na Bíblia e está escrito na carta de Laudiceia. Entregarmo-nos ao que escolhemos ser a nossa profissão é não nos sentarmos e passarmos a ser analistas da vida alheia, sermos meros espectadores do mundo, comentadores do quotidiano e tornarmo-nos pessoas que vivem a dizer “eu não disse? eu sabia”. Todos nós temos um amigo batalhador que construiu alguma coisa e outro amigo muito inteligente e fracassado que nos conta tudo o que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega de poetas não publicados, de empresários de mesa de restaurante, de pessoas que “fazem” coisas fantásticas no fim-de-semana, mas nunca as conseguem concretizar à segunda-feira. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem, nem querem trabalhar. Acreditem que o trabalho não mata, ocupa o tempo e evita o ócio que é uma morada obscura. O trabalho é a alavanca para se construir alguma coisa, ou se calhar tudo, na vida. Só o trabalho nos leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E é a isso que se chama sucesso. Um amigo ofereceu-me um livro de José Saramago, com uma feliz dedicatória, na qual faz menção a uma breve passagem, que retrata o legado de um avô ao neto, e com a qual termino. “Trabalho que se começa, acaba-se, a chuva molha, mas ossos não parte”.
Post inspirado e adaptado de um texto de Nizan Guanaes, um famoso publicitário brasileiro. Porque o seu a seu dono.
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5 comentários:
Hum...
olhar muito menos fulminante.
Sorriso a despontar.
Gostei.
:-)
Ainda bem fugidia. :)
Obrigado.
Concordo inteiramente: nunca trabalhei por dinheiro, e a minha conta bancária é uma boa prova disso... mas sempre tive paixão por tudo aquilo em que me meti, e esse prazer não há dinheiro no mundo que pague!
"Youth is wasted on the young", já lá dizia o velho Bernard Shaw.
josé, o alfredo, o inglês foi revisto? É que a AV anda por aqui... ;)
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