Não sei se é ponto assente ou não, lá mais para a frente encontrarão razões para serem levados a pensar, como eu, que não será bem assim, mas é pelo menos comum dizer-se, suportando-se em explicações de carácter técnico ou através da experiência de vida, que ao contrário dos homens, as mulheres têm uma capacidade, eu diria inata, para fazerem várias coisas ao mesmo tempo. Fazer várias coisas, escutar diversas conversas ou enredar-se em inúmeros pensamentos, também simultaneamente. A experiência diz-me que assim é e salvo raras excepção, devem ser muito raras porque não consigo lembrar-me de nenhuma de momento, elas conseguem, na generalidade, fazer mesmo várias coisas ao mesmo tempo. Normalmente confirmam-no orgulhosamente e com um ar de superioridade, e eles limitam-se a concordar com um encolher de ombros e semblante enfadado. Se nas mulheres, e continuo a acreditar nisso, essa capacidade é inata, já não estou tão certo que nos homens, ela, sem nunca atingir os níveis femininos, não seja alvo de aprendizagem. Mais ou menos como os sentidos: elas nascem com seis e com o tempo adquirem oito e os mais afortunados de nós, com o mesmo tempo e muito a custo, conseguimos chegar aos cinco sentidos e meio.
A minha mãe, mãe de dois rapazes nunca foi de aparar golpadas e os dois rapazes foram habituados a não esperar que as coisas aparecessem feitas, isto é, os meninos sempre tiveram que dar corda aos sapatos nos afazeres da casa. Mas uma coisa de cada vez, que a mãe, compreensiva, nunca nos exigiu o impossível. A vida dá voltas, como uma montanha russa equipada com pilhas Duracell, e um dos rapazes vê-se em casa rodeado de criançada e de tudo o resto que significa estar rodeado de criançada, principalmente ao final do dia. A caminho de casa já está a pensar o que será o jantar, melhor dizendo, o que é que vai cozinhar para o jantar, enquanto dá atenção à mais nova e responde ao mesmo tempo às perguntas do mais novo. Depois? Bem depois é assim: panela ao lume, o mais novo no banho, de caminho verificam-se os trabalhos de casa da mais nova (que é mais velha que o mais novo), vai de deitar a massa na panela que a água ferve, uma olhadela no pequeno que está na banheira já com menos água lá dentro porque a que falta está no chão da casa de banho, corrige-se a conta de dividir em que a mais nova andava às voltas e volta-se a desligar a televisão que a culpa do erro é dos Morangos. O relógio de cozinha dá o sinal... a massa está pronta mas falta o resto, conta-se até trinta porque o mais novo não quer sair da maldita banheira, a mais nova resmunga enquanto a mesa é posta... porque perdeu parte dos Morangos, que lata a dela... volta-se à casa de banho e... chega menino, fora da banheira, que há um pijama para ser vestido. Por fim sentados à mesa... pai, a mãe cozinha melhor que tu... raios, o que ele tem que ouvir com um sorriso nos lábios e pior, é obrigado a concordar. Jantar acabado, há uma cozinha para arrumar e ao mesmo tempo as lancheiras para preparar e, de caminho, deixar pronto o biberon da manhã que fazê-lo ao acordar já deu asneira várias vezes. Ainda resta tempo para ver o Ruca enquanto se lê o jornal, com intervalos pelo meio para se certificar onde é que a mais nova anda pela internet.
Dir-me-ão as senhoras com filhos que resistiram à leitura até aqui, que por enquanto não detectaram nenhuma novidade. Acredito, mas também acredito que para elas seja mais fácil, não menos cansativo, mas mais fácil. Por ser inato para elas, digo eu, enquanto para nós constitui uma aprendizagem dura, sofrida e contranatura. Não, não é um queixume, apenas a constatação de que nós também fazemos várias coisas ao mesmo tempo, mas irra que não é fácil. Uma amiga minha, entre gargalhadas bem dispostas, que interpretei como um elogio só depois de passado algum tempo, que ao princípio soou-me mal (por preconceito masculino, claro), disse-me que eu estava a “engagizar-me”. A quê? Ah, percebi-te... mas se pudesse escolher, preferia nunca ter ouvido esse... como dizer? vou chamá-lo novo conceito. Ao que um gajo chega... e o que um gajo tem que ouvir...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Acerca de mim
Arquivo do blog
-
▼
2008
(374)
-
▼
março
(55)
- Vidas (I)
- O Atlântico foi atravessado pelo ar, pela primeira...
- Para a mãe, pelo dia de hoje.
- Jazz Favorites (XII). O senhor Conde.
- Gosto de praia? Gosto é do mar.
- Torre de Hércules, Corunha, Espanha.
- Bom fim-de-semana.
- Jazz Favorites (XI). Mr. Dizzy Gillespie
- This is art.
- Afrobeat at its best.
- "Um jogo normal com um resultado normal".
- Antes duas pedras na mão que duas pedras nos rins.
- Jazz Favorites (X). The Bird
- O jovem repórter de espírito aventureiro.
- Olá Primavera.
- Páscoa Feliz
- Jazz Favorites (IX). Miss Divine One.
- Se fosse à terra...
- Solidão
- Vertigem.
- Jazz Favorites (VIII). O senhor sax tenor
- Morrer na praia.
- Alentejo, ai solidão...
- Rua das Carmelitas, 144, Porto.
- Jazz Favorites (VII). Little Jazz
- O mar vai estar bom.
- Que soda...
- Objectos de culto (XIX). Mercedes SLR McLaren. Ava...
- Verdes são os campos
- Bom fim-de-semana
- Mal me quer, bem me quer...
- Jazz Favorites (V e VI). The President and Lady Day
- Como faço para não ter medo?
- Cruzeiros? nem na reforma.
- Objectos de culto (XVIII). Via Filodrammatici, 2, ...
- Envelhecida, gasta e envolta num glamour que preci...
- Gosto do Alentejo à noite.
- Jazz Favorites (IV). O revolucionário do jazz.
- 8 de Março. Os anos vão passando e eu cada vez ent...
- Objectos de culto (XVII). Os sonhos têm um preço.
- Elas conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo....
- Bom fim-de-semana
- Hi, blue eyes.
- Jazz Favorites (III). The Duke.
- Objectos de culto (XVI). Twickenham, London Boroug...
- Ribeira Grande, S. Miguel, Açores.
- Um excerto d’ Os Maias.
- Jazz Favorites (II). Ella é eterna.
- Objectos de culto (XV). O carro mais vendido no mu...
- Vacilar? nem pensar...
- Foi um jogo para homens... os rapazes podem esperar.
- Cidade da Horta, Ilha do Faial, Açores.
- Precisas é de arranjar um homem...
- É preciso tempo para se terem certezas.
- Objectos de culto (XIV). O que nos fica de um livro?
-
▼
março
(55)
À conversa com
- A Curva da Estrada
- Acto Falhado
- Adeus, até ao meu regresso
- Ares da minha graça
- Coisas da Vida
- Corta-fitas
- Crónicas do Rochedo
- Delito de Opinião
- Designorado
- Esconderijo
- Estado Sentido
- Grande Jóia
- Miss Pearls
- O privilégio dos caminhos
- Pátio das Conversas
- Saber viver numa multidão
- Sonhos nas Pontas dos Dedos
4 comentários:
ora bem .. como é que eu vou dizer isto .. (risos) ..
Caro Mike, falta uma sopa nessa mesa, a massa é cozinhada mais concretamente com o quê? e fruta? não há birra para comer fruta? óptimo!
Depois falta desembaraçar o cabelo à criança menina que despejou um frasco de amaciador e teve de lavar a cabeça duas vezes. Há as escolhas dos pijamas que nunca são bem aqueles que se colocaram em cima da cama para vestir .. e mais uma série de detalhes que nos fazem suspirar pelas 10h30 - hora de cama sem reclamações (risada)..
E não acho que se esteja a "enwhatever" .. acho sim que as suas crianças têm uma sorte dos diabos mesmo que não seja um Michel na cozinha!
;)
Ora aqui está uma senhora com uma filha que resistiu à leitura até ao fim (risos). Ora bem... como é que eu vou dizer isto? (risada)...
Assim: não só tenho que ouvir que a mãe (dos meus) cozinha melhor (e é verdade), como ainda tenho que ouvir outra mãe (a da princesa) lembrando-me o que ficou por fazer (mais risos)... pois saiba miss Once, que essas coisas também tocam a este "rapaz" ;) e só queria poupar quem me lê... :)
Resta-me agradecer-lhe as suas palavras simpáticas... mesmo não sendo (acho que nunca serei) um Michel na cozinha (risota)...
nada a agradecer Mr. Mike .. está bem apanhada a "coisa" da nossa rotina ;)
É impossível fazer duas coisas utilizando o mesmo sentido. Por exemplo, ouvir duas conversas ao mesmo tempo e captar tudo delas é impossível, vc vai no máximo captar metade de uma e metade da outra... se você quizer fazer duas coisas ao mesmo tempo, você tem que ter 2 cérebros, ou dividir o seu no meio. é muito possível fazer coisas distintas, sem focar nelas muito. para você melhorar nisso, basta treinar. Dizer que as mulheres têm mais capacidade para isso é puro sexismo, pois na verdade, elas são ensinadas a isso desde pequenas. Qualquer um, com treino, consegue manejar muitas coisas ao mesmo tempo. Você acha que os grandes empreendedores homens só consegue mfazer uma coisa ao mesmo tempo? ha!
Enviar um comentário