Disse-lhe que fosse para Farmácia. E que arranjasse um namorado rico com quem casar. Formou-se em 2007, mas sem dar ouvidos ao pai. As meninas cá de casa são assim, a mais nova já vai pelo mesmo caminho. Depois de ter o canudo na mão foi viajar pela Europa. Voltou e meteu mãos à obra fazendo o que gostava, a hora era bem paga mas o trabalho só chegava de vez em quando. Pegou nas ecomomias e, ano passado, abalou para o Oriente. China, Macau e Bali, claro, onde as ondas são as melhores e o surf mais exigente e prazeiroso. De regresso a Lisboa, entre esse trabalho que só chega de vez em quando, tratou de conseguir uma bolsa de estudo e partiu para Barcelona. Lá deixou-se encantar e foi seduzida. Pela cidade, que namorado rico nem vê-lo. Cansa só de ler, não cansa? É o que eu lhe digo, mas não me dá ouvidos, a moça. Voltou em Janeiro e esta semana arremessou-me, convicta, que quer ir para a Austrália. Muito bem, vamos conversar, disse-lhe eu. Afinal já se tinha informado sobre tudo, ia (já foi) a uma entrevista na embaixada e agora empenhou-se em arranjar o dinheiro suficiente para partir, com bilhete de ida, apenas. A meio da conversa, as palavras dela despenharam-se sobre mim como um comboio de que não temos tempo de nos desviarmos. Pai, eu olho para ti e vejo-te a trabalhar doze horas por dia para nos sustentares, vivermos com conforto e pagares contas. E olho para este país e não consigo ver no horizonte uma perspectiva risonha. Ainda se trabalhasses tanto e pudesses ter a sensação de estares a construir um país melhor daqui por quinze anos, era diferente. Não quero sentir isso quando chegar à tua idade, percebes? Percebo, claro que percebo. E agora? Que raio de sentimento este que tenho de que isto pega-se.
Li, há dias, e não foi na imprensa cor de rosa, que a Madonna anda algo apurrinhada com o facto de lhe ter sido vedada, pelo menos por enquanto, a adopção de uma criança do Malawi. Não sou dos que se manifestam contra a adopção de crianças pelas vedetas superstar, apesar de sentir que poderá haver, por vezes, um aproveitamento mediático delibrado e de favorecimento da imagem pessoal. O que chamou a minha atenção para o artigo do jornal diário que não estava a ler, apenas passava os olhos pelos cabeçalhos, foi o título que dizia algo parecido com “Madonna faz votos com Jesus”. Sabendo-a seguidora da Cabala, fiquei a pensar para com os botões da minha camisa, que raio Jesus tinha a ver com aquilo. Confesso a minha ignorância em relação a esse sistema (ou deverei chamar-lhe religião?) que se afigura como a vertente mística do Judeísmo (ou será Judaísmo?... Cristo, vê se te decides, Mike) e, precipitadamente, concluí que Jesus tivesse alguma coisa a ver com tudo aquilo. E não é que tinha mesmo? A Madonna, não podendo adoptar uma criança do Malawi, não foi de modas e adopta Jesus, uma outra criança, mais maiorzinha e bem nutrida, mas do Brasil. E o rapaz, a quem certas más línguas viperinas já chamam de boy toy, vai converter-se à Cabala. Ai Jesus, o que faz o amor. Eu que nem sou dado a mexericos, deu-me para escrever sobre a Madonna, artista que admiro, e peguei logo pela vida pessoal que só a ela (e à família dela) diz respeito. Até parece uma cabala.
Foi o comentário da Si que originou este texto. Aparentemente tenho quatro sócias. Quantos homens não gostariam de estar na minha pele? Muitos, imensos, resmas, paletes. Mas vamos por partes que esta sociedade tem que se lhe diga. Primeiro porque uma das sócias não quer ter participação na sociedade e pretende reservar a sua posição como assalariada. É bom de ver o que está por trás desta pretensão. Se correr mal não tem nada a ver com o assunto, mas se correr bem, e tudo aponta nesse sentido, teria uma participação dos lucros a título de prémio de produtividade e rendimento. Não condeno, acho até justo, mas neste caso sou apologista de assunção e partilha de compromisso no negócio. Portanto, GJ, ou é sócia ou não entra no negócio. Depois há a situação da Fugidia. Que assar frangos é para mim, que tem o sonho de ter um cabeleireiro, que as madames depois precisam de quem lhes tire o cheiro a frango do cabelo, e que o negócio só faria sentido se houvesse um salão de cabeleireiro ao lado da casa dos frangos. Está-se mesmo a ver que a Fugidia poria as mãos nos cabelos das madames norueguesas e eu teria as minhas enfiadas nos frangos e no carvão. Pelo menos aceita o risco da sociedade, mas pôr as mãos nos frangos, está quieto. Vou deixar a Luísa para o fim e perceberão porquê. Vamos à Si. A Si é eloquente, fala sueco numa prosa poética e alvitra com grande lata. Diz a Si, muito despachada com um making a point glamoroso, que a Fugidia “cabeleireira”, a Luísa fotografa (imagino que sejam os frangos, só pode), a GJ “assalaria” (estou para saber o que quer dizer com isto), Ela propõe-se “sloganizar” (por acaso é a minha profissão, mas pronto), e eu asso. Eu asso mas não é frangos. Asso na grelaha e saio é assado neste negócio de aves. Mas em relação à proposta da Si há mais. Não, não se riam, Ela criou, à luz de ser empreendedora e nunca perder uma oportunidade, o seu próprio negócio. Lindo: eu a assar e a Si a ganhar dinheiro com os direitos dos slogans. E ainda pergunta quando recebe a primeira tranche. Credo! Eu até dei uma gargalhada nervosa por me ter lembrado de um célebre peru que ia ser trinchado com uma faca de sobremesa, por pura incompetência. Mas não, Ela está a falar da tranche em dinheiro, claro. Por fim a Luísa, que parece ser a única sócia que, genuinamente, se propõe trabalhar. Seriedade, rigor, sem receio do trabalho, mãozinhas nos frangos e no carvão, de avental e touca na cabeça. Não vos parece que esta ideia de assar frangos tem que se lhe diga? Cá me parece que há apenas um frango que sairá assado neste negócio. E não tem asinhas.
Num quadro cada um vê o que quer ou consegue ver? Não quando é a Leonor a descrevê-lo, no Delito de Opinião. Aí passamos a ver apenas o que a Leonor vê, num dos quadros que diz ser da sua vida.
O facto de se tratar de uma monarquia constitucional não é motivo para me apoquentar, a mim que sou republicano sem que saiba explicar porquê. Monarquia Constitucional com uma democracia parlamentar. Esta segunda parte diz-me alguma coisa mas não tudo, por conhecer bem de perto uma democracia parlamentar que deixa a desejar. Avancemos. O clima, que pode ser oceânico, continental, sub-ártico e alpino, é rigoroso e mesmo no Verão, a temperatura nunca passa de amena. Digamos que não é sedutor. Mas como não são férias que estão em causa e sim o negócio, verifiquemos outros indicadores, como a economia, por exemplo. É próspera, o país é dotado de ricos recursos naturais e possui o segundo maior PIB nominal per capita do mundo. E apesar de ser um país rico, não se cometem as loucuras a que nos habituámos a assistir noutros países liberais. Talvez por ser governado por gente séria que coloca os interesses dos cidadãos em primeiro lugar. Por falar em cidadãos, vamos às pessoas que habitam este país do norte da Europa. Habitam-no pessoas cultas e conscientes, que lá terão as suas razões para terem decidido, por duas vezes, permanecerem fora da União Europeia. São 5 milhões, não abandonam o seu país e cerca de 6,5% são imigrantes. Cerca de 65% da população é constituída por agnósticos e ateus, mas estou certo que isso não constitui motivo para não gostarem de frango assado, principalmente se forem daqueles saborosos da Valenciana. É que em ano de eleições cá no burgo, também estou certo que o desejo de emigrar se vai acentuar aqui para o meu lado, até porque não há nada de novo nesta “Ocidental praia Lusitana”. Bem sei que ninguém deve ficar multimilionário a assar e a vender frangos em Oslo. Mas pelo que pude apurar, também não consta que alguém tenha ficado multimilionário por abrir Bancos na Noruega, ou que algum tenha ido à falência por manifesta incompetência ou actos ilícitos. Resta a Língua. Creio que não seja entrave para mim, e que umas breves lições resolvam o assunto.
Nem sequer faz parte de um desporto de tradição olímpica em Portugal, como por exemplo o hipismo, a esgrima, a vela ou o atletismo. O negócio nasceu de uma paixão de quem começou a construir os seus próprios barcos para poder competir. Tem reputação e reconhecimento mundial mas tem-se mantido irredutível quanto à permanência em Portugal, onde tem duas fábricas com mão de obra nacional. Dos cerca de 2000 barcos que saem anualmente da fábrica de Vila do Conde, 80% destinam-se à alta competição e são vendidos quase na totalidade no estrangeiro. Em 2006 abriu uma nova fábrica, situada também na região norte do país, que permitiu aumentar a capacidade de produção de kayaks, melhorar as condições de trabalho e, acima de tudo, apostar no remo como uma nova área de negócio. Para Manuel Ramos (Nelo), o segredo do sucesso dos seus barcos assenta em três factores: qualidade do produto, serviço e conhecimento. Os seus produtos, considerados dos melhores do mundo, são já dos mais medalhados em alta competição, mesmo a olímpica. E são portugueses os kayaks do Nelo.
(A pesquisa para este post foi suportada por um texto de Fátima Serrão in Sentido das Letras)
O choro dela ouvia-se na sala onde eu aguardava. A médica chamou-me com uma voz doce e tranquila enquanto a pousava no cambiador (nunca soube como dizer esta palavra em português). Aproximei-me devagar enquanto, com a mesma voz doce e tranquila, a médica lhe dava um sermão porque o choro não parava. Aproximei-me dela, uma bebé bonita, grande, morena e cheia de cabelo, com os olhos muito e invulgarmente abertos. Esta menina está muito irritada, pai, disse-me a médica. Mal comecei a falar, perguntando-lhe o que tanto a irritava, ela abriu ainda mais os olhos e parou de chorar, escutando-me com atenção. Deve ter falado muito com ela, atirou-me a médica com um sorriso. Respondi-lhe que sim, todos os dias. E continuo a falar, passados onze anos dessa noite do dia vinte e um de Maio, apesar de achar que às vezes ela, a minha mais nova, não me ouve. Ou já não me quer ouvir.
Esta foto diz tudo. Em pouquíssimos metros quadrados, mais de meia equipa belga em pânico, antevendo a dolorosa sensação de ter de se confrontar com o melhor jogador do mundo. Se não contarmos com o guarda-redes, faltam ali apenas quatro jogadores belgas. E ele, o melhor 10 de todos os tempos, enfrenta-os com confiança e sem hesitações. Vai sair o passe. Para esquerda? Parece que sim, mas com o Maradona nunca se sabia. Só se tinha a certeza que seria perfeito. No pain, no gain? Não quando se jogava na equipa adversária. Era quase sempre certo pain and no gain.
Vibramos com o final das histórias. Deixamo-nos encantar, suspiramos, sorrimos, não contemos uma lágrima ou lavamo-nos nelas. Os finais das histórias definem o sucesso e o insucesso, as vitórias e as derrotas, a felicidade e o fracasso. Os finais das histórias marcam a nossa memória, que parece pequena para tantos finais de histórias em que nos revemos ou sonhávamos viver. E as histórias, a parte mais importante da história, fica tantas vezes esquecida, quantas as vezes que recordamos os seus finais. Afinal, o que nos diz um final? Pouco, por vezes quase nada. Mas é ele que, implacavelmente, fica para a história, apagando injustamente tudo o que se viveu, leu, viu ou ouviu, como uma onda bravia e descuidada no seu vai-e-vem, que apaga os vestígios de uma caminhada em que uma história foi contada nas pegadas que a areia desejava perpetuar. Temos a tendência, que o nosso lado humano tem defesas que a razão conhece, em não mais nos lembrarmos das histórias que vagueiam esquecidas entre as recordações da última palavra, da leitura da última página e do último encontro. As histórias e os seus finais fazem-me lembrar os defeitos e as virtudes. Eles gravam-se na pedra e elas escrevem-se na água.
Fernando Nobre é presidente da AMI, nasceu em Angola, viveu no Congo e formou-se em medicina, em Bruxelas. Este homem que afirma querer ser médico desde que se lembra, é um cidadão do mundo. Desse mundo desprotegido e esquecido, a que o mundo virou as costas.
Antes de mais uma cortesia: o agradecimento pelo prémio que me foi atribuído pela Lucia. A pergunta a que devo responder é o que significa para mim ser um homo sapiens. Respondo sem hesitar, nem estar muito preocupado com a escolha das palavras o que, per si, não revela lá muita sapiência. Ser homo sapiens é ser responsável e cultivar o respeito e a atenção pelo o que o rodeia, seja a família, a sociedade, o seu habitat quotidiano, ou o planeta. Ser homo sapiens é privilegiar a racionalidade Vs a emoção e a emotividade.
Televisão em série é coisa que não consumo, já faz tanto tempo que nem sei. Mas se desvio os olhos da televisão, não podia desviar a cara ao desafio da Cristina. Aqui ficam as séries de televisão de que me lembro ter gostado. Pensando bem, nem foi assim tão difícil a eleição, com o ranking liderado por Band of Brothers de Steven Spielberg (vi em São Paulo, não sei se passou por cá).
Band of Brothers, Letra L, Sopranos, Twin Peaks, Ficheiros Secretos, Simpsons, Sim Sr. Ministro, CSI
Das tuas mãos me larguei para dar os primeiros e tímidos passos. E recebi o afago que me conduziu ao sono. Das tuas mãos me larguei para dar as primeiras braçadas no mar revolto.E me larguei, convicto, para dar as primeiras pedaladas. Das tuas mãos recebi a primeira medalha, celando a primeira vitória. E recebi a primeira espingarda. Das tuas mãos recebi os primeiros ensinamentos de como conduzir. Das tuas mãos recebi muito, mesmo sendo pouco. Por ser uma dádiva.
Por ser uma dádiva, não foi das tuas mãos, antes nas tuas mãos. Nas tuas mãos aprendi a andar. E adormeci serenamente. Nas tuas mãos aprendi a nadar. E aprendi a andar de bicicleta. Nas tuas mãos senti o primeiro sabor da vitória. E aprendi a caçar e a pescar. Nas tuas mãos aprendi a conduzir. E a conduzir a minha vida. Nas tuas mãos aprendi o sentido da vida, quando a morte se preparava para nos separar. E aprendi que a morte não nos separou. Não tive um pai. Tenho um pai. Apenas deixei de o ver.
(Escrito em 2007. 17 de Maio de 2007. Um ano depois de partires.)
Bem sei que haverá quem diga que as coisas já não são bem assim. Mas não se esqueçam que tenho, e vou usar, apenas alguns pontos de comparação. Vivi em São Paulo e conheci a realidade do Rio de Janeiro, para além de ter privado de perto com quem vive na Cidade do México ou Bogotá. Viver antenado é um comportamento diário (que eu aboli, descuidadamente, depois de algum tempo) desconhecido por muitos que apregoam a insegurança em Portugal. Neste primeiro post de outros que se seguirão consagrados ao tema, elegi a segurança. Nem sempre me dedicarei à pesquisa para fundamentar as minhas escolhas e algumas delas não serão do meu particular agrado, mas reger-me-ei por uma apreciação que considero consensual. O Global Peace Index, que agrupa 121 países, foi elaborado pelo filantropo australiano Steve Killelea para o The Economist Intelligence Unit, o centro de investigação associado à revista britânica "The Economist". Segundo esta tabela, a Noruega é o país mais pacífico do mundo. Completam o "top ten" Nova Zelândia, Dinamarca, Irlanda, Japão, Finlândia, Suécia, Canadá, Portugal e Áustria.
Se dúvidas houvesse, apesar de já ter sido acusado de tolerante em demasia e permissivo, deixo-vos com um trecho de um texto recente do blog da minha mais nova. Claro que já lá deixei o meu comentário, que isto de ter fama sem proveito não está com nada. Uma diabinha esta minha filha. E eu sem paciência para a pré-adolescência.
(...) Finalmente em casa!!! Estava a ver que nunca mais parava de fazer os trabalhos de casa e de estudar e de fazer testes! Mas o meu pai veio logo interromper o meu entusiasmo: - Então... tens trabalhos de casa? Tens de estudar? Como foram os testes? - Ai pai... acabei de vir da escola... agora dá-me algum descanso... – disse eu. Enfim, depois ao jantar voltou a chatear-me. (...)
Hoje, entre a pausa para mais um cigarro, lembrei-me da reitora do liceu onde andei, no Lobito, em Angola. A conversa da pausa abordava os maus tratos a que nós sujeitamos a Língua Portuguesa. E são maus tratos diários, fustigamos a nossa Língua sem, muitas vezes, darmos conta como somos implacáveis, para não dizer ignorantes. Desde o mais que habitual “há-des ver” até ao atroz “há-dem ver como a gente vamos lá chegar”, passando pelo “atão vai lá”. Estava eu a dizer que me tinha lembrado da reitora do liceu onde andei. A setôra Olívia era uma mulher grande, com uma figura imponente, que impunha respeito, e uma voz de trovão. Mas não era a figura dela apenas que impunha respeito, era ela mesmo. A setôra Olívia só dava aulas aos alunos mais velhos, os do 6º e 7º ano, ou seja, jovens de 16 e 17 anos. Lembro-me perfeitamente de ouvirmos o toque de entrada e dos mais expedidos terem o cuidado de se afastarem das imediações da secretaria e da reitoria. Porquê? Para evitar cruzarmo-nos com a setôra Olívia e de nos confrontarmos com a desagradável ideia de atravessarmos o liceu até à sala de aula, depois do pedido dela. “Então, Mike, dás-me o privilégio da tua companhia?”, perguntava a setôra Olívia, estendendo-nos o braço. E nós, os que eram apanhados, nem titubeávamos, e lá íamos de braço dado com a reitora. Tínhamos entre 15 e 17 anos. Hoje olho para trás e fico a pensar quão diferentes eram esses tempos de liceu em Angola. Éramos uns meninos e queríamos ser vistos como homenzinhos. A setôra Olívia devia pensar, sorrindo para dentro, queres ser tratado como um homenzinho, eu ensino-te a portares-te como tal. Sem esquecer que os homenzinhos que não se comportavam como tal, eram convocados à reitoria para uma conversa com a setôra Olívia, mesmo depois da chamada de atenção do professor que passava por nós e que ao bom dia ou boa tarde setôra, não correspondesse um levantar do rabiosque, estivéssemos sentados no chão ou num banco do liceu. Eram um bocado diferentes esses tempos e não me parece que tenham feito mal a alguém.
Antigamente na Inglaterra as pessoas que não fossem da Família Real tinham que pedir autorização ao Rei para terem relações sexuais. Quando as pessoas queriam ter filhos, tinham que pedir consentimento ao Rei que então, ao permitir o coito, mandava entregar-lhes uma placa que deveria ser pendurada na porta de casa com a frase Fornication Under Consent of the King.
Isto a propósito de uma imagem que uma respeitável e respeitosa comentadora, disse ter dificuldade em interpretar. Depois de estarmos de acordo sobre confiança e auto-confiança, lembrei-me que esta palavra, de acordo com a lenda, remonta a tempos idos. A palavra não é bonita, diria mesmo que é reprovável, mas todos nós, nesta ou naquela circunstância e mesmo em silêncio, já a utilizámos.
Ontem, a convite de uma grande empresa, fiz parte de um encontro de um grupo restrito de entidades consideradas parceiras por essa companhia, e tive o privilégio de ouvir o que algumas pessoas participantes pensam sobre a crise e qual a sua visão para lhe fazer face e lidar com ela, com o objectivo de a superar. Agradou-me a palavra parceiro, não porque tenha quaisquer pruridos em relação à palavra fornecedor. Acima de tudo considero que o profissionalismo e a competência devem imperar no que diz respeito a ambas. Só que fornecedores há muitos e parceiros há poucos. Porque há mais duas palavras que estabelecem a fronteira entre as primeiras duas: compromisso e confiança. Como o tema abordado era a crise, voltei para casa a pensar nas infindáveis previsões falhadas por gurus de reputação mundial, e nas inócuas teorias de gestão preconizadas por quem escreve artigos e ganha fortunas escrevendo livros, sem que nunca tivesse praticado o acto de gerir. Enquanto conduzia, pensava também nas soluções brilhantes de consultores descomprometidos com o negócio de quem lhes paga honorários avultados, ou em alguma comunicação social apenas comprometida com os objectivos de vender jornais, ignorando o papel simples mas honrado de informar. As crises superam-se com gestão e a gestão pratica-se no terreno. Os exemplos que foram dados ontem não deixam margem para dúvidas. E com poucas dúvidas fiquei ao ouvir que uma das soluções preconizadas assenta na inevitabilidade da união de parceiros e no fomentar de parcerias. Os portugueses são individualistas e desconhecem o conceito de trabalhar em equipa. Talvez esta crise, por ser global e inviabilizar a habitual mãozinha vinda de um exterior também em crise, nos obrigue a uma mudança drástica de atitude e a uma saudável alteração comportamental. Não sou um guru, sou um trabalhador. Aprecio a simplicidade e acredito nas soluções terrenas. Talvez por isso, ontem, e falando-se de crise e de como a ultrapassar, retive duas palavras. Compromisso e confiança. Mas que raio, não é assim também na vida que se ultrapassam as crises?
Calhou-me ter que dar umas aulas nas próximas semanas e não vêm ao caso os porquês. Não sei bem porque insistem que as dê, e muito menos entendo porque aceito dá-las a alunos universitários, todos eles adultos crescidos. Tenho uma profunda admiração e respeito por quem lecciona. Rejeito entrar em detalhes, aqui e neste post, que possam levar à análise e apreciação da competência dos profissionais que ensinam, que os há bons e maus em todas as áreas, apesar de sempre ter achado que se trata de uma profissão que exige ou recomenda vocação. Amiúde dizem-me o contrário, mas sei que não seria um bom professor. Umas quantas aulas garantem-me que não seria. E vendo bem, até nem poderei dizer que tenha razões de queixa. Eu, um leigo na matéria, acho que o problema não está na globalidade de uma turma e sim neste ou naquele aluno, melhor dizendo, nesta ou naquela pessoa que me causam desespero. Dir-me-ão que na maioria das profissões se passa o mesmo. E eu não sei? Mas, como disse, tenho muito respeito pelos profissionais que leccionam seriamente porque não lhes basta apenas verem-se na contingência de lidar com quem os exaspera, mas, principamente, conviver diariamente, e às vezes durante uma vida inteira, com a missão e a responsabilidade de ensinar, de formar.
Ontem foi o aniversário da Maggy. É natural que não se lembrem dela, mas, de uma penada, recordo-vos. A Maggy é a minha mais que candidata a nora, a professora do mais novo. Como se já não bastasse a azáfama do fim do dia com a criançada, esta manhã levantámo-nos mais cedo, eu e o caçula, para comprarmos flores para a Maggy. Pude constatar o sorriso com que foi recebido pela sua Maggy, seguido de um afago e um agradecimento ao menino que, consta, foi o único a levar-lhe as flores, que ele próprio escolheu. E tive a oportunidade de observar o ar compenetrado do rapazinho ao entregar-lhe as rosas. Sim, ele escolheu rosas cor de rosa. Com um são flores para uma menina, pai, deu-me a conhecer, sem hesitar, o critério de escolha da cor. Ser um cavalheiro é coisa que nasce connosco, mas não custa nada cultivar. Ainda assim agradou-me o facto de o ver empolgado com a festa de aniversário da Beatriz, uma coleguinha. É que o rapaz ainda é novo e o caso com a Maggy está a tomar proporções demasiado sérias, e um pai, por vezes, não sabe como lidar com algumas situações. Alguém tem sugestões? É que, por enquanto, ele ainda prefere a zona das guloseimas à dos frescos.