4.10.08
Vai levar muito tempo até envelhecer.
Vinte anos separam-no da irmã mais velha. Não me considero um pai tardio, antes um pai precoce, o que me torna, em alguns momentos, quase avô do mais novo, no meu quase meio século de vida. Para meu bem e para bem dele, que me saiu um corsário de fazer corar de vergonha o Barba Ruiva. Desisiti sequer de comentar com quem me é próximo, quão difícil é esse mini-corsário para evitar ouvir conselhos em tom paternalista de quem se esquece, os que não sabem sempre contaram com a minha compreensão e tolerância, dizia eu, de quem se esquece que é o meu quarto filho, não o primeiro. Sem falsa modéstia, posso afirmar que tarimba não me falta. Quando temos mais que um filho, lá vem a tal gestão de afectos impossível de contornar, conseguimos racionalizar e fazer uma espécie de enquadramento da relação entre nós. Provavelmente comigo é até mais fácil pelas diferenças de idades que os separam e pela vivência e histórias de vida que se foram desenrolando entre mim e eles. Amizade, companheirismo, sedução ou paixão, são adjectivos que podem qualificar nichos relacionais que desenvolvemos com cada um dos filhos. Com a amostra de corsário existe, definitivamente, uma relação de paixão. Uma relação de extremos, sempre nos limites, onde o meio termo não tem lugar. Ele foi, é e está a ser, a causa que me levou e leva permanentemente, a reequacionar o papel de pai. Sinto que sou melhor pai agora do que fui há uns anos atrás. É normal. Contudo tenho muito mais dúvidas e questiono mais vezes o meu papel de progenitor hoje do que fazia antes. Há dias comemorou o seu quarto aniversário e a prenda, uma surpresa que não imaginava, foi uma bicicleta de rapaz. Daquelas que, apesar de ter rodinhas, já é uma bicicleta a sério e de bombeiro. Daí para cá não temos feito outra coisa senão pedalar, o que me leva a ponderar retirar as ditas rodinhas antes de tempo. E digo temos porque me vi a pedalar outra vez na minha velha bicicleta. Logo eu que achava que a tinha arrumado definitivamente. Creio que vai levar bastante tempo até que envelheça. Bastante tempo até conhecer a serenidade das pantufas calçadas. Não tenho opção. E isso, sem que ele saiba, devo-o também ao corsário.
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21 comentários:
Ainda bem que há o dito" é como andar de bicicleta: nunca se esquece", e, se "a tradição ainda é o que era" :) esse seu corsário ainda vai exigir a presença do Mike mais uns anitos- é bom mesmo que esqueça essa coisa das pantufas; olhe, troque-as por sapatilhas, para acompanhar a passada do infante :)
(risos)
A Cristina nem sonha como está carregada de razão... :D
os meus pais andavam imenso de bicicleta e eu tenho medo de cair...:-(
nunca consegui sequer que me ensinassem...:-(
Mike,eu pensava que o mister era um puto, porque tinha um filhote ainda crianaça. afinal, tem idade para ser avô. olhe, antes assim do que infelizmente :-P
Júlia, a menina ainda está a tempo de aprender a andar e bicicleta. ;D
Digamos que sou um rapaz perto dos 50. (risos)
se não aprendi em Amarante, onde tinha 3 bicicletas,não será nas ruas do Porto que vou aprender, ainda me atropelam...
Hum... estou certo que os professores fariam fila do Parque da Cidade à Foz... e por falar em Foz, olhe aí está um bom sítio para começar a aprender, Júlia. :-)
:-))
Deus me livre, com os skates radicais a travancar-me o caminho e os mirones ao lado? :-P
Totalmente off topic: fontes fidedignas sopraram-me que é desta que emigra...; haverá frangos na Polónia? :)
Pronto, lá está esta menina a protestar contra os desportos radicais... e diz que gosta de adolescentes...
aiiiii (risos)
Está muito atenta, Cristina... ;-)
Olhe, se não há levo-os daqui. (risos)
O pior é o Inverno, segundo consta.
Dizem que sim, que não há como um filhote tardio para nos remoçar o espírito. E o corpo, também, se nos abalançarmos a acompanhá-lo no seu ritmo de movimento. Sabe que mais, Mike? Acho que estou a sentir uma pontinha de inveja desses seus programinhas a dois… :-)
P.S.: Passa-se alguma coisa com a Polónia?
Luísa, :-)
Essa pontinha de inveja é saudável e adivinho que a leve até tempos idos, passados com a sua princesa.
P.S. - ah, pois, a Luísa é curiosa... (risos) É que tenho acompanhado uns (belos) posts do Paulo Soska no Estado Sentido, sobre Varsóvia e expressei a minha vontade de conhecer a capital da Polónia. :-)
Meu Caro Mike, quando a pitataria é Destas, admito perfeitamente que seja a receita ideal para descobrir o elixir da Juventude...
Abraço
Só o Meu Amigo para me fazer rir depois de um fim-de-semana de pirataria em que o mini-corsário me deixou de rastos. E ainda há quem diga que a idade está na cabeça... pois sim...
Abraço.
Que amor de post, Mike. É verdade, não pode envelhecer para já, mesmo que quisesse... ;)
E levou o piratinha para Paris?
Ana, :-)
Não sei se é bom ou mau, mas não há opção, por isso toca de ver as coisas pelo lado positivo, certo?
Como este fim-de-semana viajei para Paris em pensamento (risos), o piratinha foi comigo, entre histórias e piratarias... até conquistámos a Torre Eiffel aos franceses e tomámos de assalto o Arco do Triunfo. Agora é nosso, vamos levá-lo para as Caraíbas, onde é o nosso esconderijo... ;-)
Não levem o museu Rodin, faz-me falta quando lá vou... (risos)
Oh, mas esse foi dos primeiros. Já consta do espólio que está numa enseada resguardada no Caribe. Para voltar a vê-lo terei que falar com a amostra de corsário... mas acho que para si será aberta uma excepção. ;D
Um dos mais belos posts que escreveu Mike.
Não tão belo quanto essa paixão que vos une e que me enternece :-)
Obrigado, Fugidia. :-)
O que nos une é um acordo de corsários... (risos)
Obrigada pela excepção, Mike e mini-corsário! Pensando bem, até vai ter mais graça visitar o Rodin nas Caraíbas... :)
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