A distância que nos separa no que diz respeito às convicções e crenças religiosas não é menor, antes pelo contrário, do que aquela que jamais contribuirá para uma convergência de carácter ideológico ou político, entre nós. Os seus textos acho-os por vezes densos, difíceis de assimilar e reclamam uma exigência de concentração pouco compatível com o meu tempo livre. Em poucas palavras resumiria que nem sempre são fáceis. Mas não é contra o facilitismo e a preguiça que muitas vezes nos insurgimos? Não poderei, seria leviano e prematuro, e imprudente da minha parte, falar de Amizade. Ele compreender-me-à, estou certo. Mas deverei falar de Respeito e Admiração. Pela pessoa, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente e que, acima de tudo, tenho tido o privilégio de ir conhecendo. Pela sua cultura geral e literária. Pelo seu humor genuíno se bem que cirúrgico. Somos pessoas muito diferentes, mas nos tempos que correm, entre o modernismo obsessivo e o fingimento da tolerância e liberdade, agrada-me que, entre outras coisas, nos unam as suas sextas-feiras. Mi casa es tu casa é um convite que encerra um egoísmo e um oportunismo de que não me envergonho. É que não me apetece, não me apetece mesmo, caro Paulo, ler-te, e ao escrever na segunda pessoa do singular passo a usar de uma liberdade que não me foi concedida, mas dizia eu, que não me apetece ler-te apenas como comentador. Presumo que o teu blog estará em construção. Contudo, e enquanto ele não conhece a luz do dia, mi casa es tu casa. Não sou homem de assinar contratos, continuo a acreditar em gentlemen agreements, e não sou homem de abrir a porta e franquear a passagem de minha casa a qualquer pessoa. Ficas até quando quiseres, combinamos a entrega da chave e sei que a convivência, entre as diferenças que não são poucas, que nos separam, será salutar. Aqui apenas se desconversa, e assim será até que deixe de me divertir e que pare de constituir uma terapia para o meu dia-a-dia. Aqui convive-se, sem que haja outro compromisso que não seja para com o respeito pelo próximo e educação. Este blog nasceu para mim, não para os outros que, serão sempre bem vindos, enquanto o desejarem.
Uma palavra final para o Corta-Fitas. Não, não me lerão críticas. Não me deixarei envolver emocionalmente pelo assunto, nem usar, em vão, o nome da democracia ou da tolerância de ideias. O Corta-Fitas é propriedade privada e encaro-o como se de uma empresa se tratasse, onde cabe a um conselho de administração decidir de acordo com a filosofia, interesses e objectivos da companhia. Acho estranho que se tivesse contratado um avançado criativo e se lhe exigisse fazer trabalho de cobertura a meio campo, manietado pela táctica que o futebol moderno exige. Mas isso sou eu, não quem deve mandar. Como dizia a Teresa Ribeiro, do que se passa no Convento, sabe quem está lá dentro.
Não voltarei a reler este texto, apesar de ter a sensação de estar assente numa escrita atabalhoada e quiçá, com erros de palmatória. Neste caso, em particular, interessa-me mais e privilegiei o conteúdo, não a forma.
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14 comentários:
Mike, estou plenamente de acordo com a sua análise. Acrescentaria, a propósito, duas notas:
a) Sobre os pontos de vista do Paulo, diria que, para além das suas opções ideológicas específicas (monárquicas) – as minhas são, por enquanto, republicanas – creio que nos une um grande desgosto pelo poder e pela tropa que o serve. E esse é, para mim, o ponto que interessa, porque o debate meramente ideológico parece-me, cada vez mais, uma abstracção;
b) Sobre o Corta-Fitas, também sempre tive uma ideia empresarial. Lembro-me de ter lido no blogue referências a objectivos e vejo que também tem um «estatuto» editorial. Nesse sentido, parece-me inteiramente compreensível que combata e preserve a sua coerência interna – é uma preocupação que eu também tenho no meu blogue… e sou só uma! ;-D
Mas, por tudo isto, acho muito bem que o Paulo tenha saído. A sua voz é demasiado forte para que não sobressaia num coro, rompendo a harmonia. Há vozes que são apropriadas para coros e há vozes que são apropriadas para solistas. :-)
Estamos plenamente e inteiramente de acordo, Luísa. :-)
De acuerdo, entonces! (risada marota)
Meu Caro Mike,
Que posso eu dizer de tal Generosidade? Agarraria as chaves com ambas as mãos (postas), caso não tivesse, agora mesmo, aberto as novas portadas, em
http://muitacautela.blogspot.com/
Mas isso não obsta a que lembre sempre esta Generosidade. E que Tu Casa sela sempre mi casa, pelas inúmeras vezes em que cá virei (hélas, sem ironia) desconversar.
Abraço muito amigo
Caro Paulo, é com uma imensa satisfação que recebo essa notícia, meu Amigo. Ainda hoje lá baterei à porta com muita cautela, ou sem ela.
Um abraço.
eu tinha escrito um post de tarde e pelos vistos não ficou.
essa do "estatuto editorial" faz-me rir :-))
Levam-se tão a sério!!!!!!!!!
Depois disto tudo, e como depois da tempestade quase sempre vem a bonança, importa que já inaugurou a sua nova casa que, sabemos todos, vai estar sempre (excepto às Sextas-Feiras- ou um sucedâneo das mesmas- :) ) cheia de coisas boas para as visitas...
Ora Júlia, levam-se a sério e nós também os devemos levar. Acho eu. :-)
Principalmente às sextas-feiras, Cristina... :-)
Pois eu não estou mesmo nada de acordo, Mike (como já se percebeu lá no CF, aliás...). Sou mais emotiva, mais impulsiva, fervo em menos água, etc... chamem-lhe o que quiserem, mas o que fizeram ao Paulo não é decente. Se tivesse sido tudo tão simples e tão inócuo como diz, não tinha havido logo dois abandonos seguidos. E um deles (o Duarte Calvão) nem sequer conhece o Paulo, foi por uma mera questão de princípio. E mais: cheira-me que não ficaremos por aqui, nesse capítulo...
Todos eles já conheciam o perfil do Paulo: o que pensa, o que escreve, o que defende. Se há coisa que ele nunca fez foi esconder-se ou fingir ser outra pessoa. E se o convidaram sabendo tudo isso, porque é que o mandam calar depois?
E por aqui me fico, que o seu post é muito querido e generoso e sensato e prudente e tantas outras coisas que eu não sei ser muitas vezes, porque tenho mau génio! :-)
Já estou como a Júlia, acho que se levam demasiado a sério, mas o pior é que depois não levam os outros a sério...
Em desacordo continuaremos, Ana. E a senhora tem cá um génio... saio de mansinho... ;-)
Não saia nada, que está en su casa, ora!
Mas eu também não saio, se me deixar ficar, claro, que eu sou democrata... ;-)
Eu também. E mais do que educação, é um prazer tê-la por cá. :-)
Deixe-se estar.
Tal como a Ana, também não estou nada de acordo, obviamente.
Levo a sério e têm a minha admiração, aqueles que sairam.
Ó menina Júlia, e onde será que leu que os que sairam não têm a minha admiração? Agora deu em tresler? (risos)
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