15.6.08

Porquê? Por mera intuição.

Muitos de nós, creio que todos nós, em maior ou menor grau, tomamos decisões suportadas pela intuição. Decisões por vezes tão importantes que, aparentemente, deveriam estar assentes numa exclusiva racionalidade. Kant definiu-a, e bem, em meu entender, como tratando-se de um conhecimento que tem a ver com as percepções dos sentidos, e posteriori à experiência. A intuição é um fenómeno curioso, e percepcionamo-lo como uma verdade a que normalmente não se chega através da razão ou do conhecimento analítico. No fundo acaba por ser um acto de ver, perceber ou discernir de uma forma que cremos clara e imediata. Simplificando, diria que se trata de um acto de pressentir, deixando-nos a sós com a sensação de vermos ou sentirmos algo de uma forma muito pessoal, lá no fundo da nossa individualidade, e que julgamos ser visto ou sentido de maneira diferente pela maioria das outras pessoas. Tão diferente que nos reservamos ao direito de um recolhimento e nos recusamos a dar explicações para esse sentir e esse ver, que é só nosso. Isaac Newton com apenas vinte e quatro anos intuiu sobre a inércia e a atracção dos corpos com massa, depois da visualização de maçãs e da lua. Albert Einstein reforçou esse mistério afirmando não existir nenhum caminho lógico para a descoberta das Leis do Universo que não seja o caminho da intuição. Mais curioso ainda, para mim, é o facto de alguns nós atribuirmos uma aura mística à intuição e nos entregarmos invariavelmente a ela, mesmo quando somos confrontados com decisões relevantes e tendo plena consciência que poderão mudar o rumo das nossas vidas. A intuição é como uma voz segredada, uma porta que se abre quando chegamos a um corredor estreito, uma mão que pega na nossa e nos indica um caminho no fim de uma encruzilhada, um pensamento isolado, num repente, sem que seja repentino, um sentimento cúmplice que se junta à nossa solidão. A intuição faz parte de muitas das decisões ao longo das nossas vidas. Decisões simples, decisões complexas, algumas delas sobrepondo-se à folha de papel em branco onde de um lado se anotam os contras e no outro se escrevem os prós. Por momentos somos levados a pensar que é aí que entra o coração e que é ele que impulsiona a intuição. Mas não. Isso seria atribui-lhe um conteúdo simplista e quiçá leviano. Basta observar a nossa reacção quando lidamos com a intuição dos nossos filhos ou de jovens, que já fomos. Somos invadidos por uma sensação de insegurança e percebemos porquê. Porque a intuição, que nada de místico tem, é feita de experiência, de vivência, de maturidade. Mas sabe-nos bem sentirmos o apelo desse lado, que consideramos emocional, nas nossas vidas. E faz-nos bem.

22 comentários:

ana v. disse...

Ah, não desvalorize o poder da intuição, Mike. Concordo que nada tem de místico, mas esse "não vás por aí" ou "vai por aí" que a intuição nos segreda ao ouvido quando estamos em encruzilhadas, não vem só da nossa experiência de vida. Se fosse assim tão simples, as pessoas mais velhas seriam sempre as mais intuitivas, e essa relação não é directa. Pode vir, acredito, daquela inteligência emocional de que fala António Damásio, que muitas vezes "vê" primeiro do que a racional.
Gosto de acreditar que a intuição, como o acaso, não estão totalmente ao alcance do meu controlo. Essa margem de mistério faz-me falta (e dá-me jeito para justificar muitas coisas que não sei explicar porque acontecem). Sou intuitiva por natureza e... sim, gosto de ser assim!
;)

fugidia disse...

Eu também sou muito intuitiva e, em geral, ela não me engana.
Mas tenho sempre necessidade de testar a minha intuição com a minha parte racional: umas vezes consigo; a maior parte não :-)

Anónimo disse...

Ana, não desvalorizo o poder da intuição, aliás tenho-me tornado mais intuitivo com a idade, mas acho sinceramente que a experiência e a maturidade dão-nos para recorrer à intuição por isso mesmo... experiência e maturidade. As pessoas mais velhas, bem mais velhas, não recorrem tanto à intuição porque não precisam, por terem já vivido quase todas as experiências que há para viver.

Anónimo disse...

Ah, Fugidia, isso é porque a menina ainda é uma menina... (risos)

fugidia disse...

Pois sou, cota :-p (risos)

Luísa A. disse...

Julgava que esse sexto sentido era exclusivo do meu sexo, Mike! Que daria às mulheres a vantagem de uma percepção das pessoas e dos factos inacessível aos homens - inacessibilidade que tenho tido, de resto, sobejas ocasiões de confirmar. Mas verifico (com esta descrição só possível de um «expert») que há excepções. E fico contente que o Mike seja um dos felizes eleitos. (sorriso satisfeito e solidário)
P.S.1: Curiosamente, e enquanto mulher, a minha intuição tem-se revelado pouco hábil na compreensão dos factos. Mas muito poderosa na decifração de pessoas. Vendo caras, vejo corações… quase sempre. Teria, se calhar, dado uma boa «profiler»… (expressão meditativa)
P.S.2: Mas não, meu caro Mike, não me peça para traçar o seu perfil. Só se publicar aqui uma fotografia. (riso aberto... mas um nadinha curioso)
;-D

fugidia disse...

Tivesse ido ao almoço, querida Luísa, e teria visto (muitos risos)

Mas, sabe, eu também gosto de ver a cara para tentar "decifrar" o coração e posso garantir-lhe, querida Luísa, que o Mike é bom "rapaz" e a nossa intuição não nos enganou :-)))

(vá buscar um babete, Mike ;-) )

Anónimo disse...

Sabe o que é Luísa? as meninas nascem com 6 sentidos e ao longo do tempo chegam aos 8 sentidos (risos). Os rapazes nascem com 4 e, a custo chegam aos 5,5 (mais risos). Digamos que já estou na idade dos 5,5... :D
Pela foto não ia lá, mesmo sendo uma excelente "profiler". Como conseguiria se fisicamente sou um misto de Andy Garcia e Pierce Brosnam? Está a ver? seria complicado... (gargalhada). Ora, se a senhora levar àvante o tal spaghetti meeting... (sorriso curioso)

Anónimo disse...

Já está posto, Fugidia... (muitos risos)

Cristina Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Ribeiro disse...

A famosa intuição, que tantas vezes nos prega partidas :)

Anónimo disse...

Ora viva, Cristina... :)
Prega partidas sim... mas fazer o quê? :)

fugidia disse...

Andy Garcia e Pierce Brosnam?
lol lol lol lol lol

Dá um certo ar do primeiro, sim...
:-)
(é melhor ir buscar um lençol, Mike...)

Anónimo disse...

(risos) Já nem um lençol chega para tanta baba... :)

fugidia disse...

Hum... dê-me um segundo... vou buscar outro ;-)
(risos)

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

humm

...um texto a sério, Mike.

Olhe, desde que me lembro que existo,fico sempre arrependida quando me acontece não dar importância á minha intuição, porque está sempre certa.

Isto para lhe dizer que não tem nada a ver com a idade,mas sim com sensibilidade :-)

Anónimo disse...

Bem, a Júlia é menina, e há que dar crédito à sensibilidade feminina... mas que a experiência nos conduz mais assiduamente à intuição... disso ninguém me convence do contrário. :)

Anónimo disse...

Andy Garcia e Pierce Brosnan? Humm... Sabe que isso o qualifica para entrar numa destas sextas-feiras no Corta-Fitas? :P

Anónimo disse...

Ora, Teresa, é por essas e por outras que as sextas-feiras no Corta-Fitas já não são o que eram... modernices é o que é! E depois fala-me de uma leve sensação de misogenia... pois sim! (risos)

O Réprobo disse...

Meu Caro Mike,
a intuição vive de uma derrogação parcial (no duplo sentido do termo) do particular, pois resume-se à captação de essências sem passar pela apreensão paulatina e quase diria processual de personalidades ou encadeamentos.
Mas, ao mesmo tempo, se passarmos do objecto para o sujeito, é uma reafirmação dele, pois como qualquer bem sucedido triunfo da rapidez intelectual sobre o método, é lisonja para o que dela beneficia, já que recorre a uma capacidade diferente entre cada indivíduo, não resumindo o esforço a concorrer com os outros numa técnica ensinada, logo que nada de particular tem.
Abraço

Anónimo disse...

Caro Réprobo, apreciei particularmente o "logo que nada de particular tem". É bem verdade.
Abraço.

José, o Alfredo disse...

Engraçado... ainda hoje me falaram de um livro que terá muito a ver com isso: Blink, The Power of Thinking without Thinking, de Malcolm Gladwell (da Penguin... what else?).

Algo me diz que alguém mo vai emprestar, quando acabar de o ler. Aí poderei dizer mais alguma coisa (ou calar-me para sempre).

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