Um dos mais recentes Pensamentos do dia do Helder Robalo, e acredito ter a sua autorização para o mencionar sem lha ter solicitado previamente, trouxe a esta minha memória cansada, uma conversa tida com a minha mãe há mais de trinta de anos. Víviamos os três na Nazaré – o terceiro é o meu irmão mais novo – já que o meu pai resolvera voltar para Angola, recusando-se a participar no obsessivo carpir mágoas de alguns Retonados, ou a aceitar o que considerava uma esmola indigna do ex-IARN, para quem tinha dedicado toda uma vida de trabalho naquela ex-colónia. Voltou e permaneceu durante longos anos, arriscando a vida em alguns momentos e tornando-se emigrante num país que considerava também dele. Mas isso são contas de outro rosário que, eventualmente, darão palavras escritas noutro post. Voltemos à tal conversa que eu tive com a senhora que me deu à luz e criou, e por quem tenho uma profunda admiração. Numa das muitas cartas trocadas entre marido e mulher, que ela se incubia de partilhar os trechos que julgava apropriados e que poderiam contribuir para a nossa formação, o meu pai dizia-se entristecido com a pobreza do país e do povo português. Em resposta, a senhora minha mãe comentou, serena e sem manifestar a azia que a contaminava naquele período histórico que se viva e pelos tempos difíceis que a sua família atravessava, que o verdadeiro problema do povo português não se circunscrevia ao dinheiro ou a outros aspectos materiais. Do que o povo português precisava era de educação e cultura, disse ela ao marido na carta que lhe enviou. Passados trinta anos, e depois de ler o post do Helder*, não consegui evitar questionar-me. Precisava? ou precisa?
*Obrigado, Helder.
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10 comentários:
Meu Caro Mike,
o problema é que a Educação não resolve o problema anímico. Ninguém fez mais por ela do que o Estado Novo: quando Salazar chegou ao Poder, havia 80% de anlfabetos, quando o largou, 20% e, entretanto, a população duplicou. Veio a Revolução, disseram que ler escrever e contar nada valiam, passaram para as pedagogias não-directivas, desataram a meter conceitos adjectivos de estruturalismos &Cº nas mentes dos primeiros anos do Secundário, continuando a mudar os nomes. Por fim, o Eng. Guterres apaixonou-se. E continuamos a carpir o que se carpia no fim do Século XIX, o filistaísmo da classe política, o fariseísmo dos intelectuais, as vistas curtas do Povo.
Não será um fado, mas vai senndo uma ladaínha.,
Abraço
Meu Caro Réprobo, com essa pontaria, um dia convido-o para ir à caça às perdizes. É que agora mencionou duas palavras e no conteúdo a que elas se pode atribuir, de que também não sou grande apreciador. Fado e ladaínhas.
Um abraço.
texto saboroso, Mike!..fico até com "inveja boa", gostava de o ter escrito.
Entretanto, do que os portugueses precisam AINDA é de educação e cultura...não basta saber ler e escrever...
beijinhos
Ora, Júlia (sorriso embaraçado)... agradeço o seu comentário. :)
Por muito que me interesse por textos blogosféricos de informação e análise, por notícias comentadas, por actualidades coadas pelo crivo de um bom cronista, de preferência com sentido de humor, acabo sempre por chegar à conclusão de que são estes textos confessionais/pessoais os que mais me comovem e ensinam. Quando são bem escritos, claro, mas sobretudo quando são autênticos e despretensiosos. Como este seu, Mike, que me marca pelo relato sincero de uma experiência de vida que não deve ter sido fácil mas que foi, com certeza, muito rica. Parabéns.
O problema também tem a ver com o provérbio chinês do seu anterior «post», Mike. A gestão portuguesa, seja ela de empresas, seja de ministérios, rege-se pelo modelo vigente na construção civil e no futebol, em que os resultados têm de se obter numa «temporada». E a Educação não foge à regra: as reformas mudam de cada vez que muda o ministro, porque as anteriores «provaram», nos dois ou três anos da anterior «regência», que não prestavam. E a aposta «If you’re planning for one hundred years, grow people», esse investimento de longo prazo nunca é feito, porque a miopia geral não permite ver para além do imediatismo imposto pelas guerrinhas partidárias. É pena. Se houvesse mais seriedade, mais continuidade e mais perseverança, acredito que pudéssemos ter, dentro de cinquenta anos (os que levamos de atraso), o mesmo nível de brio, civismo e produtividade (?!) que os países europeus mais evoluídos têm hoje. Porque nós – aí discordo do Réprobo – até aprendemos. Temos um cérebro um pouco chocho, mas muito maleável e particularmente receptivo a boas «lavagens». Aliás, a questão do nosso futuro carácter nacional resume-se, para mim, em saber quem vai «lavar» melhor nas próximas décadas: se a Educação,… se a televisão.
P.S.: Mike, alonguei-me bastante, mas a intenção era, neste comentário, fazer «dois em um» e abranger também o seu «post» anterior, cujo tema é afim. E, já agora, se notar raciocínios mal alinhavados, leve-os à conta do sono que, às duas horas e dezoito minutos desta quente madrugada, se abateu, bruscamente, sobre a minha pessoa. :-)
Meu caro, o grande problema dos nossos governos, e país, é que se fala mais do que se faz e vão-se mudando as políticas ao sabor dos governos e dos ministros. Há políticas educativas a três ou quatro anos e não dez ou 15 anos. E, por isso, continuamos no "rame-rame" do costume, com o choradinho do costume.
E, claro, não precisava de autorização para me citar. Era só o que faltava ;);)
Um grande abraço. E um grande texto!
Ana, obrigado (assim fico ainda mais embaraçado, acredite). Não lhe sei dizer se a minha experiência vida foi fácil ou difícil. Isso, aprendi com ela, é tão relativo, priciplamente para mim que fui habituado e educado a "olhar para o lado". E "ao lado" há sempre melhor e pior. Que tem sido rica, confesso que acho que sim, e o que conta aqui é o que eu sinto e acho. :)
Luísa, que insónia... (risos)
Pela parte que me toca, e sendo muito egoísta da minha parte, direi que feliz insónia essa. :)
A Luísa nunca se alonga (e estou a ser sincero) e quando o faz, fá-lo sempre bem, ou seja, só a senhora é que fica com a sensação que se alongou. :)
Helder, um duplo obrigado. :)
E um abraço.
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