2.1.09

Histórias da vida e uma história de vida.

É uma história como tantas outras de África. Uma história daquelas em que a vida é pródiga. Começa lá, lá bem longe, no longínquo planalto angolano. Lá hoje chama-se como sempre lhe chamámos. Bailundo, terra da nação Ovimbundo. Uma história que começa lá, numa vila de uma avenida só, ladeada por nespereiras, onde o cheiro da terra africana molhada pelas primeiras gotas de uma chuva tímida se misturava com o ar abafado, numa tarde em que o céu carregado tingia o horizonte de tons cinzentos. Cinzentos-esperança. Nessa tarde do dia 2 de Janeiro de 1928, as preces de uma jovem negra foram correspondidas pela providência divina, e ela desfez-se em lágrimas antes da velha e experiente parteira lhe colocar a filha recém nascida sobre o peito suado. Para a posteridade ficariam os registos hospitalares que mencionavam o nascimento de um bebé do sexo feminino, de raça mestiça. Para além dos registos que nos contam, em silêncio, uma história da vida como tantas outras de África, para a eternidade, e para mim, fica uma história de vida de uma mulher que marcou, marca e marcará a minha para sempre. Dizias-me, há dias, com o teu sorriso ainda e sempre gaiato que te emoldura o rosto, que não havia mãe e avó mais feliz que tu à face da Terra. Não sei se há, se estavas a exagerar, mas que importa isso? Se o dizes é porque o sentes e isso basta-me. A felicidade que sentes é, também, a felicidade que vês, porque feliz fazes quem te rodeia. Não é assim que deviam ser todas as histórias da vida? Sempre me disseste que sim. Sempre me ensinaste assim, mãe.

15 comentários:

Luísa A. disse...

É engraçado, Mike, como as ligações que ambos temos às nossas respectivas Mães parecem ser tão diferentes. Talvez porque há mulheres que nasceram para ser mulheres e mães (protectoras) e há mulheres que nasceram para ser mulheres e filhas (protegidas). A minha Mãe enfileira, decididamente, neste segundo grupo, imprimindo às nossas relações uma marca muito diluída, indefinível, até branda na sua expressão afectiva. Este texto é muito bonito, Mike. A sua onda anda, de resto, um bocadinho poética. Por que será? ;-D

fugidia disse...

Parabéns à mulher-mãe-protectora-de-sorriso-gaiato-e-feliz, Mister!
:-)

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

o meu ex-marido nasceu no Bailundo. Ao começar a ler o seu texto parecia-me ouvir o meu sogro a contar as histórias do Bailundo, onde os indigenas colocavam o seu nome aos filhos, em homenagem a ele :-)

Leonor disse...

Acabei agorinha de eleger o blogger do ano, o Mike, naturalmente. Quanta sensibilidade! Um beijo grande também à sua Mãe

Mike disse...

No caso da minha, para além de mulher e mãe, tempos houve em que teve, à sua maneira, de ser também pai. A minha onda anda um bocadinho poética? Acha? Hum... impressão sua, Luísa. (risos)
Eu nem sou chegado à poesia... ;-)

Mike disse...

Obrigado, Fugidia. Serão transmitidos. :-)

Mike disse...

Que raio de coincidências, Júlia... Podia ser em Angola, ms logo no Bailundo? :-)
Estou muito contente com a prenda que a menina me deu... :D

Mike disse...

Ó Leonor, a senhora vá de férias e não se ponha a inventar... (risos)
Credo, até fico meio sem jeito...
Não me esquecerei de dar o seu beijinho à mãe. Chama-se Edite (ela corrige-me sempre dizendo que é Edith). :-)

sum disse...

Parece que tem veia poetica sim.
Quer goste, quer seja ligado à poesia ou não!! :)

As mães de sorrisos gaiatos fazem-nos destas coisas, despertam-nos os sentimentos. É bom sentir isso. :)) Bom Ano Novo

Mike disse...

Acho que a Sum está como a Luísa... impressão sua, nada mais... ;-)
A minha é mesmo uma mãe de sorriso gaiato. Fomos todos jantar com ela e foi de chorar a rir o tempo todo. :-)

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

devem conhecer-se, Mike!

Lina Arroja (GJ) disse...

Este texto, vai dar lugar a prosa um dia destes... :-)
Fiquei a pensar na relação entre filho/mãe e na relação filha/mãe.
E eu penso que são naturalmente distintas.
Bom início de semana. Ao trabalho,Mike:)

Mike disse...

GJ, a menina está muito espirituosa... (risos)
Ficou a pensar?... hum... então quer dizer que um dia destes temos um post? :-)
Boa semana, GJ.

ana v. disse...

Engraçada e muito verdadeira a distinção que a Luísa faz das mães. A minha também era das "protectoras" e faz-me falta todos os dias, ainda, passados dois anos de tê-la perdido. E fará sempre, tenho a certeza, mas aquilo que transmitiu aos filhos é precioso.
Parabéns à tua mãe, Mike, e que a tenhas ainda por muitos anos. E parabéns pelo texto, que é muito bonito.

Mike disse...

Obrigado, Ana. :-)

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