27.1.09
Tenho uma costureira.
Bem sei que é uma afirmação rara de ser proferida por um homem. Mas nem isso faz de mim um metrosexual, que, como me disse alguém há dias, está a um metro de deixar de ser heterosexual. Adiante. Sei pregar botões e desenrasco-me com uma agulha e linha desde que dei com os costados na Escola de Fuzileiros e penei como cadete. Mas daí até dar conta das baínhas das calças ou cerezir uma peça de roupa vai uma distância considerável. Quando me mudei de armas, filhos e bagagens confrontei-me com esses detalhes e um dia perguntei na lavandaria à senhora que me atendia se fazia ou sabia de alguém que fizesse esses trabalhos minuciosos. Sugeriu-me a D. Rosa, uma senhora que tem um estaminé no Mercado de Alvalade. Achei estranho mas não tinha nada a perder a não ser o resto das baínhas. E um dia lá fui eu de manhã, aperaltado, de fato e gravata, barba feita e cheiroso ao Mercado de Alvalade em busca da D. Rosa. Nesse dia foi com um confessado desconforto que atravessei o Mercado, entre as bancas do peixe e dos legumes, e dos pregões das vendedoras, à procura daquela que passaria a ser a minha costureira até hoje. Uma senhora a rondar os cinquenta e muitos anos, toda arranjada e maquilhada com um gosto que considero soferível, mais próximo do gaiteiro. Encontrei-a, trocámos dois dedos de conversa para explicar o que precisava e deixei lá o vestuário. A curiosidade da vizinhança fez-se notar. Disse-me a D. Rosa, logo no primeiro dia, que percebia bem o meu problema, que há coisas que um homem sozinho não pode fazer e que sem uma mulher em casa é preciso quem as faça. Deixei a caução prevista e, entre sorrisos da vizinhança, despedi-me. O primeiro serviço foi do meu agrado e passei a considerar a D. Rosa a minha costureira, até hoje. E sê-lo-à até ver. Há uns tempos, sentindo-se com um à-vontade que uma relação continuada entre cliente e fornecedor podem sugerir, e ao aperceber-se que me afastava depois de outra encomenda, sussurou para as vizinhas sem saber que a tinha ouvido: já viste Elvira? tão mal empregadinho. Já nem me lembro o que pensei na altura para além de, muito possivelmente, ter corado e ter dado uma gargalhada silenciosa. É competente mas algo atrevida a minha costureira.
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28 comentários:
:-))
:-))
Delicioso! É por isto que adoro a sua escrita :-)
Simpatia sua, Leonor. :-)
Mister, shiu, baixinho... mal empregadito?!
Sério?
Hum...
(sorriso cândido)
lllooolll... mal empregadito porquê, Mike?
Porque não tem uma mulher que lhe faça as bainhas?... então mas quem disse à Sr.Dona Rosa, que o que ela cose não foi uma mulher num acto de loucura que rasgou?...lolol... a Dona Rosa, acha que porque não tem uma mulher que lhe faça a bainha, não tem mulher, mas se calhar ela é que está mal, dado que se calhar ela não tem nenhum homem a quem fazer a bainha lá em casa...lololol...
Para a próxima, em tom de desabafo diga assim, à Dona Rosa: "Estas mulheres, hoje em dia, já nem uma bainha sabem fazer!Que o diga, eu que tenho lá uma em casa e tenho que vir aqui!"...lol.. depois afaste-se e esconda-se atrás da coluna do peixe...lol
Vai ver que o sussurro é outro...lol
Beijinho
Ora, Fugidia, foi o que disse a D. Rosa... (risos)
Ela lá há-de ter as suas razões. (mais risos)
(gargalhada... eu imaginando-me escondido atrás da coluna do peixe)
Lady Bird, nem me arrisco a ouvir o outro sussurro. :-)))
Oh Mike, juro que quando o 'vi' a entrar no mercado à procura da D. Rosa, só lhe faltou dizer: "D. Rosa, oh D. Rosa, a sua filha voltou!"
Patti, o que eu já me ri com o seu comentário... (ainda rebolo)
:-)))
Pois, o Ribeirinho também rebolou com a filha da D. Rosa, a Maria da Graça, cmo pode ver aqui.
Lol
Patti tenha dó... os mais velhos já me perguntam se estou bem... lol
Hum... ok, já percebi o "mal empregadito": se a sua D. Rosa tem o decote da imagem postada...
:-D
Olhe, nem sei Fugidia. Nunca reparei nesse detalhe. A escolha da foto (com decote) foi inocente. (sorriso cândido)
tambem ri com o comentário da Patti. lembrei da gritaria do pátio.
"Allô, Allô. C de calças, M de Manteiga",e também de Mike.
de morrer a rir, o Mister é um SUCESSO!
Ó Júlia, pare com isso que, de tanto rir, ainda me internam cá em casa...
Descrição verdadeiramente cinematográfica, Mike. Pude "vê-lo" a atravessar, desconfortável, o mercado de Alvalade, que conheço bem :)
Bom, Mike, vamos por partes:
1. "Ter uma costureira" era até, para muitos lisboetas, um desporto muito em voga há algumas décadas. E nessa altura ninguém falava ainda em metrosexuais, a não ser para medir... as baínhas delas.
2. Concordo contigo: a D. Rosa será tua costureira "até ver". Mais exactamente, até ver este post em que lhe chamas velha gaiteira de gosto duvidoso, seu mal agradecido!!
3. Se não és adepto do desporto a que me refiro no ponto 1, esclarece-me: porque é que foste à procura de uma costureira assim aperaltado, perfumado e engravatado?
(delicioso, o teu texto) ;-)
É muito simpático da sua parte, Teresa. A situação de entrar pelo Mercado a dentro para me encontrar com uma costureira já é caricata, mas hoje ri-me muito com os comentários. :-)
Também tu, Ana? Parece uma conspiração com os meus filhos... está visto que me queres internado. (muitos risos)
Acalma-te Mike e responde à senhora... (ai que morro de tanto rir)
Hum... (já recomposto a muito custo)... posso ser mal agradecido mas ela não deixa de ser uma velha gaiteira (mesmo sendo competente); não sou adepto desse desporto e diz-me tu, como se veste um executivo, hein?
E obrigado. :-)
(Vou-me deitar e nem olho para a capa do Calvin que está na mesa de cabeceira) :-)))
Mike, eu também conheço bem o mercado de Alvalade,e algumas das Donas Rosas...(risos). A próxima vez que for "à praça" porque mercado não é palavra usada pela Dona Rosa, não a desiluda, continue mal empregadinho.(risada)
Ora Ana, então acha que se o Mike fosse de jeans e ténis a Dona Rosa lhe ia dar crédito? Agora um tão mal empregadinho já é outra coisa...
:-)
Esta agora, Mike! Pois não é que o «mal-empregadinho» cá de casa também arranjou uma costureira para pequenos consertos, com estabelecimento aberto nas Amoreiras? Seria caso para desconfiar de alguma nova tendência da moda ou de dissolução dos costumes, se, pela minha parte, não tivesse procedido à imediata inspecção da fornecedora e da loja. Não sei o nome dela, mas poderá ser uma alternativa à sua D. Rosa, se acaso esta se deixar transportar pela gaiteirice ou por algum impróprio enternecimento pelo «mal-empregadinho» freguês, vulgo Mike. A das Amoreiras, é uma mulher composta, talvez sexagenária, muito sóbria e parca nas palavras. Não comenta a clientela senão com os botões. Admito, contudo, que o seu preçário não possa competir com tabelas definidas em mercados de peixe. Amoreiras são Amoreiras! Mas é sempre bom saber que há escolha. :-)
Tem razão, GJ. Assim, é só mimos. :-)
Tentarei continuar a ser visto como mal empregadinho, GJ. (risos)
Luísa, com que então o "mal empregadinho" aí de casa também tem uma costureira, hein? Mas há uma big brother watching him... (risos)
Pois faz muito bem, que há que não facilitar, apesar da D. Rosa das Amoreiras parecer menos atrevida. ;-)
E obrigado pela dica, Luísa. :D
E quem não gosta de mimos, Ana? ;D
Vou ter uma conversinha com a D. Rosa.. rs rs
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