21.1.09

Ainda e sempre a gestão de afectos.

A junção dessas duas palavras continua, e creio que continuará, a parecer-me estranha, não interessando se as leio, as escrevo ou as digo. À partida afectos não se encaixam ou ligam com gestão, e vice-versa. Parece-me estranho quando as leio juntas, retraio-me quando as escrevo e soa-me mal quando as digo, mas devo confessar que já interiorizei o conceito que resulta da junção de ambas. Já interiorizei e pratico-o. Sabem quando nos referimos a certas coisas como não tendo remédio? e que depois, com o tempo, descobrimos que o único remédio eficaz é mesmo esse? Creio que quem é pai ou mãe me percebe, e não sinto nenhum freio em pensar que mesmo quem não é, também me entende. Claro que o factor quantidade (esta palavra também me soa mal atendendo ao contexto que me levou a escrever este texto), tem reflexos e consequências na gestão de afectos. Um é diferente de dois, que por sua vez é diferente de três e que por sua vez é diferente de quatro. Pois é. E se o é na matemática, quando falamos de filhos, continuando a suportar-me na matemática, a diferença é exponencial. A gestão de afectos passa a ser uma disciplina diária onde, normalmente, quem sai prejudicado são os filhos mais velhos. E não é de agora, parece-me que é de sempre. Quem tem mais que um filho entenderá o simples exemplo das fotografias que foram tiradas ao primeiro e as que existem do segundo. Afinal gestão de afectos também é isso mesmo, na imperfeição de que somos feitos. Mas não há outro remédio, nesta nossa imperfeição, senão porfiar nessa gestão, mesmo sabendo que uns terão mais que outros. Não o nosso amor, mas a nossa atenção. Quem me conhece sabe que tenho esta mania de questionar dizeres e ensinamentos aparentemente irrefutáveis, como os da sabedoria do povo ou os que foram passando de geração em geração, porque acredito que quem não os faz pára, inevitavelmente, no tempo. A célebre e carinhosa frase “quem cria um, cria quatro” (como é o meu caso) tem tanto de verdadeiro como de insuficiente e datado. Criar criam-se, mas a que preço nessa partilha de afectos? A um preço tão mais elevado quanto menor for praticada a gestão de afectos, na sua assumida imperfeição. À pergunta “quem te manda a ti ter tido quatro filhos?” costumo responder “ninguém, mas ainda bem que os tenho”.

O desenho? O mais novo vê o pai assim, o que fazer? Mas o pai nem é gordo, disse-lhe eu. É sim, é mais gordo que eu, respondeu-me ele. Neste caso não faço a gestão dos meus sorrisos.

14 comentários:

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

(risada muito sonora)

o espelho engana, ai,ai,ai.

o Andy Garcia gordo?

que giro,parece um pinguim, por acaso tenho um parecido na minha mesinha de cabeceira, que me trouxe uma aluna de NY :-)

cristina ribeiro disse...

Tem razão: gerir afectos...

Luísa A. disse...

Meu caro Mike, será que os nossos filhos nos vêem um pouco como «palhaços ricos»? ;-D
Mas, falando a sério, concordo com a sua ideia de que os filhos mais velhos podem sair um pouco prejudicados nessa gestão, não tanto dos afectos como das atenções. Na minha condição de filha mais velha, tenho imenso a reclamar. E, no entanto, diria que as emoções proporcionadas pelos filhos mais velhos são especiais, irrepetíveis, e que a tendência natural seria compensá-los por isso. Não é o caso, o que bem mostra como a natureza humana é essencialmente ingrata e enviesada!!! (leia-se este comentário como uma interrogação que, devido à minha condição de filha mais velha, evolui para o desabafo e descamba no grito de revolta)
:-D

Lina Arroja (GJ) disse...

O pai é pelo menos muito grande! Muito maior que o pequenote que fez o desenho. E o pai não é só grande em tamanho ou gordura ou altura. O pai é o elemento protector e grande aos olhos do filho. No conjunto eu, que também tenho quatro filhos, penso que gerimos razoavelmente bem o tempo e a atenção que lhes dedicamos. Não é ao mesmo tempo, mas é no tempo certo e com o mesmo carinho. E depois, nem todos necessitam do mesmo tempo, apenas de nos verem grandes e poderosos aliados todo o tempo.

fugidia disse...

Hum... que sedutor e charmoso, Mister :-)))

Patti disse...

Chamemos de orientação de afectos.
Eu fui a mais nova de três e entendo bem o que diz, digamos que os meus pais se orientaram muito bem para o meu lado. Mais tempo, mais descontracção, mais disponibilidade, mais despreocupação.
No fundo 'gozaram-me' mais e sem o stress dos primeiros filhos.

Lina Arroja (GJ) disse...

O que s filhos mais velhos tiveram foi pais mais novos, mais inseguros e menos sabedores. Mas não sei se não tiveram pais mais descomplicados por saberem menos da vida e seguramente com menos dinheiro para fantasiar e complicar.
Os mais novos têm mais tempo, mais atenção, mais de tudo, mas continuo a pensar que o que conta é o balanço final que eles um dia de nós farão.
No entretanto, nós fazemos o que melhor nos parece e de nada serve dizer "eu não devia ter feito isto ou aquilo". Se fizemos,paciência!

Mike disse...

Humprfff!!! Júlia, a menina está muito espirituosa... pinguim... Humprfff!!! aaiiiii. ;-)

Hum... sabia que me entenderia, Cristina. E gerir afectos até soa melhor que gestão de afectos. :-)

(risos) Luísa, "palhaços ricos" é um conceito inesperado. :D
"... descamba no grito da revolta", safa que já estou com pena da sua menina, que não tem culpa nenhuma de ser a filha mais velha... ;D

GJ, os seus comentários são bastante tranquilizadores, vindo de quem fala com conhecimento de causa. :-)

Oh, muito obrigado, Fugidia. É muito simpático da sua parte, continuar a ver o Andy Garcia no boneco do mais novo. :-)

Patti, creio que foi a menina mimada, é o que é... (riso abafado) ;-)

ana v. disse...

Também estranho essas duas palavras juntas, Mike. Gerir afectos parace uma coisa calculada e calculista, por isso nos arranha o ouvido. Mas entendo o conceito e acho que a atenção que damos a cada um dos filhos, em cada momento, é a que cada um nos exige ou precisa nesse momento. Não somos perfeitos, fazemos o melhor que sabemos e podemos (o que nem sempre corresponde ao ideal, mas enfim).

ana v. disse...

Acho o boneco muito parecido contigo. Essa criança vai longe... :-)

Mike disse...

Eu a ler atentamente o teu comentário, abanando a cabeça em sinal de concordância, com um sorriso, e chego ao teu segundo comentário... e... humprfff!!! ;-)

Anónimo disse...

Ser irmão mais velho é ser um tubo de ensaio, onde tudo é feito na duvida de estar correcto ou não. Crescem com o peso da responsabilidade dos trolhas mais pequenos, imitam a mãe, procuram aconchego no pai e andam perdidos no meio do resto. Ser irmão do meio é uma seca, o mais velho sabe mais, o mais pequeno é protegido e o seu espaço na familia é sempre o "do meio" - nem carne nem peixe.
Ser o mais novo é uma seca; mimado por todos, assim que se decide dar-lhe educação, é vê-lo espernigar porque "afinal sou o rei".

Ser o Encarregado de Educação destes seres é uma aventura. Bem gira.


:)

Mike disse...

Mas, afinal de contas, Margarida, não é no meio que está a virtude? ;-)
Uma grande aventura?... ponha aventura nisso, menina. Bem gira? De ir às lágrimas. (risos)

Anónimo disse...

eu tenho gostado...
(da aventura, claro)

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