15.1.09
Sei, Maria, apenas sei.
A Maria é uma mulher culta, casada e tem uma filha com, creio sem estar certo, oito anos. É casada e bem casada e espelha diariamente uma confessada paixão pela filha. A Maria partirá este fim-de-semana que se aproxima rumo à Guiné Bissau como voluntária, para uma acção humanitária, por um período de duas semanas, abdicando de igual período de férias. Ano após ano tem andado a adiar a materialização de uma vontade muito dela que partilha com o marido. Mas não abdica apenas das férias, como todos nós podemos depreender. Abdica temporariamente da família, de quem ela mais preza e ama. Mas não só ela, também o marido e a filha, solidários e apoiando a causa e a vontade da esposa e da mãe. Estava na expectativa do que sentiria e colocou-me as suas dúvidas num misto de ansiedade e curiosidade. Disse-lhe que se iria confrontar com um sentimento estranho ao lidar de perto e diariamente com a probreza extrema e veria no olhar das crianças um agradecimento silencioso pelo que estava a fazer por elas. O que há de estranho nisso, Mike? – perguntou-me de olhos muito abertos, não disfarçando a admiração. Não há nada Maria, o que será estranho é sentires uma vontade imensa e genuína de lhes agradeceres todos os dias, sem que eles saibam ou façam a mais pálida ideia do bem que te estão a fazer. E voltarás outra pessoa, parte do que tu és hoje ficará lá na Guiné. – respondi-lhe, sorrindo. Como sabes? – perguntou-me de imediato, com um ar mais sério. Sei, apenas sei. – respondi-lhe, também de pronto, e continuando a sorrir.
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10 comentários:
Penso, pelo que tenho sabido, que são experiências muito marcantes e frequentemente traumatizantes, Mike. Mas compreendo esse impulso irreprimível da Maria de dar à sua vida um sentido mais pessoal, que complete o da sua natural condição de mulher e mãe. Espero que a Maria, no regresso, lhe conte como foi e que possa partilhar connosco as suas impressões. :-)
Diria que o âmbito da acção a coloca numa experiência "apenas" marcante, Luísa. Está combinado, quando a Maria chegar partilharei as suas impressões convosco. :-)
Mas primeiro deixarei que vá de férias, que o mínimo que posso fazer é compensá-la pelo menos em parte dos dias que, voluntariamente e por uma nobre causa, resolveu abdicar. :-)
comentei de manhã e não vejo nada aqui....apagou? :-(
disse que nós sabemos, Mike :-(
Ó Júlia não apaguei nada... se se apagou foi sozinho. Nós sabemos pode ser com um sorriso? :-)
Como diz a Luísa, perde-se mais com o cepticismo que com a fé. :-)
Até uma África de injustiças; um continente daqueles...
Pode crer, Cristina, pode crer...
já lá tem o Fado à maneira :-)
eh eh eh... já lá vou, menina Júlia. :-)
Mas primeiro vou, com uma vénia, fazer o meu tributo ao Porto e ao Douro. Para a menina discordar de mim. (risada)
Excelente, não tanto a história da Maria, aqui perto de Mafra há uma missão de solidariedade com a Guiné, não é grande surpresa, mas o seu texto, Mike.
Posso discordar, apesar de agradecer, Leonor? (risos)
Simpatia sua, mas vindo de quem vem... :D
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