30.1.09
30 de Janeiro
29.1.09
O estranho caso do cinema vazio.
Tratava-se de um dos filmes mais esperados dos últimos tempos. Uma história fora do comum contada com mestria por David Fincher, com o argumento assinado pelo reputado Eric Roth. Para além disso, as principais interpretações estão a cargo de dois sólidos e talentosos actores, como Brad Pitt e Cate Blanchett. A fazer fé no trailer, que já tinha tido a oportunidade de ver, o filme era prometedor, para mim mais até que as 13 respeitáveis nomeações a Óscar. Comecei por estranhar menos o Caso de Benjamin Button que o facto de ter encontrado a sala de cinema praticamente vazia, e a quase total ausência de presença feminina quando me dirigi ao meu lugar. Concentrei-me no filme, absorvido pela figura desfigurada da criança envelhecida, de um homem que vive a vida ao contrário, que nos é trazida por um dos mais mediáticos actores da actualidade, sem, contudo, conseguir afastar tão singular estranheza. Chegou o intervalo e tive que fazer a vontade à minha impaciente bexiga que reclamava, bem antes das luzes se acenderem, da cerveja que o dono bebera. Vontade feita e o relógio indicava-me que ainda havia tempo para consumir um cigarro antes de ver o Benjamin Button, quer dizer, o Brad Pitt como o conhecemos. Já cheguei à sala com as luzes apagadas e amaldiçoei o vício. Eu e as pessoas que tiveram que se levantar para que pudesse ocupar o meu lugar. Entretanto a minha estranheza aumentara. A sala estava cheia. Cheia de mulheres, que o número de homens era o mesmo. Percebi. As senhoras não tinham ido ver o Estranho Caso de Benjamin Button e sim o sex symbol Brad Pitt. Estava desvendado o estranho caso do cinema vazio (até ao intervalo).
27.1.09
Tenho uma costureira.
Bem sei que é uma afirmação rara de ser proferida por um homem. Mas nem isso faz de mim um metrosexual, que, como me disse alguém há dias, está a um metro de deixar de ser heterosexual. Adiante. Sei pregar botões e desenrasco-me com uma agulha e linha desde que dei com os costados na Escola de Fuzileiros e penei como cadete. Mas daí até dar conta das baínhas das calças ou cerezir uma peça de roupa vai uma distância considerável. Quando me mudei de armas, filhos e bagagens confrontei-me com esses detalhes e um dia perguntei na lavandaria à senhora que me atendia se fazia ou sabia de alguém que fizesse esses trabalhos minuciosos. Sugeriu-me a D. Rosa, uma senhora que tem um estaminé no Mercado de Alvalade. Achei estranho mas não tinha nada a perder a não ser o resto das baínhas. E um dia lá fui eu de manhã, aperaltado, de fato e gravata, barba feita e cheiroso ao Mercado de Alvalade em busca da D. Rosa. Nesse dia foi com um confessado desconforto que atravessei o Mercado, entre as bancas do peixe e dos legumes, e dos pregões das vendedoras, à procura daquela que passaria a ser a minha costureira até hoje. Uma senhora a rondar os cinquenta e muitos anos, toda arranjada e maquilhada com um gosto que considero soferível, mais próximo do gaiteiro. Encontrei-a, trocámos dois dedos de conversa para explicar o que precisava e deixei lá o vestuário. A curiosidade da vizinhança fez-se notar. Disse-me a D. Rosa, logo no primeiro dia, que percebia bem o meu problema, que há coisas que um homem sozinho não pode fazer e que sem uma mulher em casa é preciso quem as faça. Deixei a caução prevista e, entre sorrisos da vizinhança, despedi-me. O primeiro serviço foi do meu agrado e passei a considerar a D. Rosa a minha costureira, até hoje. E sê-lo-à até ver. Há uns tempos, sentindo-se com um à-vontade que uma relação continuada entre cliente e fornecedor podem sugerir, e ao aperceber-se que me afastava depois de outra encomenda, sussurou para as vizinhas sem saber que a tinha ouvido: já viste Elvira? tão mal empregadinho. Já nem me lembro o que pensei na altura para além de, muito possivelmente, ter corado e ter dado uma gargalhada silenciosa. É competente mas algo atrevida a minha costureira.
Achei-te tristonha, hoje.
Talvez por força deste enamoramento que não tem fim, e que começou há cerca de vinte anos atrás, ou por me teres habituado ao teu sorriso aberto com que me recebes antes de dares uma genuína gargalhada quando me abraças. E tu não abraças qualquer pessoa, bem sei. Deixa-me dizer-te, repetindo-me, o que penso de ti e como te vejo. És uma senhora na verdadeira acepção da palavra, uma senhora que não teve uma infância e uma juventude fáceis e tudo o que conseguiste na vida foi com sacrifício, devoção e crença. És uma senhora culta, excelente conversadora e sedutora por natureza, que sabe viver a vida porque sabe o que quer dela. E aos meus olhos, és uma bela mulher. Não direi que sejas de uma beleza delicada e frágil, que o que é mais belo em ti é o teu carácter firme mas de um eterno e desconcertante romantismo. Mas hoje achei-te tristonha e não me digas que foi por causa da chuva, coisa que estás habituada. Achei-te até um bocado irritadiça. Talvez tenhas tido um mau dia. Todos temos, não deixes que isso te apoquente. Olha, só te queria dizer, ó Invicta, que cheguei bem a Lisboa, depois de uma viagem cansativa, e que continuo a gostar muito de ti.
26.1.09
24.1.09
O que mais me chama a atenção numa mulher?
O tema está longe de ser consensual. A subjectividade que lhe está inerente assenta em algo que dificilmente admite discussão, ou pelo menos uma discussão que leve a uma convergência de pontos de vista. Refiro-me ao gosto pessoal e tudo o que está por trás dele, quando o tema é o que mais chama a atenção a um homem numa mulher, fisicamente falando. Eu sei, e não é de agora, o que mais me chama a atenção numa mulher. Os pés e as mãos. Sem qualquer espécie de hesitação. Mãos e pés bonitos, e cuidados. Mesmo quando me deparo com uma mulher bela, os meus olhos, sem que nada faça para o evitar, desviam-se para os pés a para as mãos. Se forem bonitos ela torna-se, num abrir e fechar de olhos, ainda mais bela. Caso contrário, o desapontamento inquina e ofusca, num fechar de olhos, toda a beleza. Definitivamente, o que mais me chama a atenção numa mulher são os pés e as mãos. A Lucy Liu é um bom exemplo para perceberem o quero dizer.
23.1.09
22.1.09
Gosto de te ouvir, Beth.
Bem sei, e há que reconhecer, que o mentor é Geoff Barrow. Mas ele deve entender, creio que sem esforço, porque me encantei, faz muito tempo, pela voz de Beth Gibbons. E confessar, nem que seja para os seus botões, que os Portishead, uma banda formada numa fila de desempregados, dificilmente conheceriam o sucesso sem ela. Há quem insista em rotular a música deles de trip hop. Eu isso não sei. Só sei que gosto. E não resisto deixar-me embalar pela voz da Beth.
21.1.09
Ainda e sempre a gestão de afectos.
A junção dessas duas palavras continua, e creio que continuará, a parecer-me estranha, não interessando se as leio, as escrevo ou as digo. À partida afectos não se encaixam ou ligam com gestão, e vice-versa. Parece-me estranho quando as leio juntas, retraio-me quando as escrevo e soa-me mal quando as digo, mas devo confessar que já interiorizei o conceito que resulta da junção de ambas. Já interiorizei e pratico-o. Sabem quando nos referimos a certas coisas como não tendo remédio? e que depois, com o tempo, descobrimos que o único remédio eficaz é mesmo esse? Creio que quem é pai ou mãe me percebe, e não sinto nenhum freio em pensar que mesmo quem não é, também me entende. Claro que o factor quantidade (esta palavra também me soa mal atendendo ao contexto que me levou a escrever este texto), tem reflexos e consequências na gestão de afectos. Um é diferente de dois, que por sua vez é diferente de três e que por sua vez é diferente de quatro. Pois é. E se o é na matemática, quando falamos de filhos, continuando a suportar-me na matemática, a diferença é exponencial. A gestão de afectos passa a ser uma disciplina diária onde, normalmente, quem sai prejudicado são os filhos mais velhos. E não é de agora, parece-me que é de sempre. Quem tem mais que um filho entenderá o simples exemplo das fotografias que foram tiradas ao primeiro e as que existem do segundo. Afinal gestão de afectos também é isso mesmo, na imperfeição de que somos feitos. Mas não há outro remédio, nesta nossa imperfeição, senão porfiar nessa gestão, mesmo sabendo que uns terão mais que outros. Não o nosso amor, mas a nossa atenção. Quem me conhece sabe que tenho esta mania de questionar dizeres e ensinamentos aparentemente irrefutáveis, como os da sabedoria do povo ou os que foram passando de geração em geração, porque acredito que quem não os faz pára, inevitavelmente, no tempo. A célebre e carinhosa frase “quem cria um, cria quatro” (como é o meu caso) tem tanto de verdadeiro como de insuficiente e datado. Criar criam-se, mas a que preço nessa partilha de afectos? A um preço tão mais elevado quanto menor for praticada a gestão de afectos, na sua assumida imperfeição. À pergunta “quem te manda a ti ter tido quatro filhos?” costumo responder “ninguém, mas ainda bem que os tenho”.
O desenho? O mais novo vê o pai assim, o que fazer? Mas o pai nem é gordo, disse-lhe eu. É sim, é mais gordo que eu, respondeu-me ele. Neste caso não faço a gestão dos meus sorrisos.
O desenho? O mais novo vê o pai assim, o que fazer? Mas o pai nem é gordo, disse-lhe eu. É sim, é mais gordo que eu, respondeu-me ele. Neste caso não faço a gestão dos meus sorrisos.
19.1.09
18.1.09
As mulheres, o Diabo e o Anjo. (II)
Entrou na sala e livrou-se-se dos sapatos de salto alto enquanto se encaminhava para o gravador de mensagens. Apertou o botão e pensou quão obsoleto era o aparelho, mas nunca tinha tido vontade de separar-se dele. Deixou que o peso do corpo a atirasse para o confortável sofá, que a recebeu lânguido, e fechou os olhos escutando as mensagens. O Diabo apressou-se a pendurar-se num dos ombros com um sorriso conhecido por ela. Olhou para o outro ombro e reparou que o Anjo já lá estava, sentado com a cabeça apoiada nas mãos. Sorriu. Conhecia bem aqueles dois, como conheceu de imediato as vozes que o gravador debitava, do Patrick primeiro, e do Fabrice a seguir, com propósitos diferentes. Liga ao Patrick – adiantou-se o Diabo. Não vais fazer isso, pois não? – perguntou-lhe de pronto o Anjo. Precisas de te divertir, liga ao Patrick – insitiu o Diabo. Precisas é de ter juízo – retorquiu o Anjo. Não vás na conversa-mole desse Fabrice, é um chato – o Diabo não desarmava. Sabes o que te espera com o Patrick – disse-lhe o Anjo, levantando a voz. Não há quem vos aguente, vocês são uns chatos. Levantou-se bruscamente, fazendo-os tombar desamparadamente. Ei, o que é te deu? – perguntou o Anjo combalido. A culpa é tua – grita o Diabo enfurecido com o Anjo. Vou buscar um vodka. São servidos? Isto não está a tomar um bom caminho – sussurrou o Anjo com ar preocupado. Isto está a compor-se, pensou o Diabo. Está a tomar um bom caminho e eu também tomo, mas é um vodka contigo. O Anjo abanou a cabeça em sinal de reprovação. Ela voltou à sala com dois copos. O Diabo esperava-a com um sorriso maléfico e o Anjo com um ar desconsolado. Não se deixou abater e, pulando para o ombro dela, segredou-lhe porque não devia ligar ao Patrick. Ela esboçou um sorriso e sentiu um arrepio. O copo do Diabo esvaziou-se enquanto ele esfregava um olho. O Anjo aproveitou para lhe dizer porque devia responder ao Fabrice e ela suspirou desinteressadamente com os olhos fixos no tecto. O Diabo sentiu que a noite seria dele. Vou buscar a garrafa – disse entre dentes – de certeza que não queres um copo, anjinho chato? Ele tem razão, às vezes és um chato, sabias? – disse ela fitando o Anjo que, não se contendo, largou um sonoro palavrão. Então? estás a passar-te? que linguagem és essa? O Anjo corou e pediu-lhe desculpa. O Diabo rebolava de tanto rir a ponto de quase deixar cair a garrafa. Chegou à sala com um sorriso triunfal e perguntou-lhe, seguro de si, se queria mais um vodka antes de telefonar ao Patrick. Vá serve-me mais um copo – responde-lhe ela com um ar fatigado. Eu também quero um – disse-lhes o Anjo. Seja o que Deus quiser, pensou, encolhendo os ombros. Fez-se silêncio na sala. Então? a quem vais telefonar – perguntaram o Diabo e o Anjo em uníssono. A ninguém! Vou-me deitar, estou farta daqueles dois. E de vocês também. Levantou-se, caminhou decidida para o quarto e deitou-se, aninhando-se nos lençóis, abandonando-os na sala, que aos outros dois já tinha abandonado, só que o Diabo e o Anjo ainda não sabiam.
17.1.09
Uma cortesia para as senhoras.
Para as senhoras que bateram com o nariz na porta, esta sexta-feira, no Esconderijo. Uma vez sem exemplo e só durante o fim-de-semana que maluqueiras destas estragam a reputação de quem desconversa.
16.1.09
Rua Sobre o Douro, 1 - A, Porto.
Sente-se a presença do antigo Convento de Monchique enquanto apreciamos a decoração sóbria mas de extraordinário bom gosto, e nos deixamos embriagar pela vista deslumbrante, sublime e única do rio Douro. Os culpados pela atmosfera encantadora, de uma simplicidade desarmante têm nome: o chef Francisco Meireles e o arquitecto Lourenço Roqui. As paredes de pedra convivem harmoniosamente com o mobiliário de linhas rectas, como eu gosto, disposto geometricamente e com rigor ao longo da sala, que é iluminada a preceito pela luz que trespassa a janela, ou por discretos candeeiros, tornando o restaurante acolhedor à hora de almoço e romântico quando a refeição é o jantar. O Francisco, avesso a misturar muitos alimentos e privilegiando a pureza do aroma, garante-nos a ausência de formação clássica na área, mas isso não impede que a sua cozinha suplante as nossas expectativas, parecendo criar de acordo com a sua inspiração do momento, e surpreendendo-nos com paladares inusitados. Sapateira com pêra abacate, Rodovalho com espargos ou Cabidela de capão? Já nem sei, às vezes prefiro escolher o vinho primeiro, no Sessenta Setenta, um dos meus restaurantes incontornáveis da Cidade Invicta, e deixar que o Douro me inspire.
15.1.09
Sei, Maria, apenas sei.
A Maria é uma mulher culta, casada e tem uma filha com, creio sem estar certo, oito anos. É casada e bem casada e espelha diariamente uma confessada paixão pela filha. A Maria partirá este fim-de-semana que se aproxima rumo à Guiné Bissau como voluntária, para uma acção humanitária, por um período de duas semanas, abdicando de igual período de férias. Ano após ano tem andado a adiar a materialização de uma vontade muito dela que partilha com o marido. Mas não abdica apenas das férias, como todos nós podemos depreender. Abdica temporariamente da família, de quem ela mais preza e ama. Mas não só ela, também o marido e a filha, solidários e apoiando a causa e a vontade da esposa e da mãe. Estava na expectativa do que sentiria e colocou-me as suas dúvidas num misto de ansiedade e curiosidade. Disse-lhe que se iria confrontar com um sentimento estranho ao lidar de perto e diariamente com a probreza extrema e veria no olhar das crianças um agradecimento silencioso pelo que estava a fazer por elas. O que há de estranho nisso, Mike? – perguntou-me de olhos muito abertos, não disfarçando a admiração. Não há nada Maria, o que será estranho é sentires uma vontade imensa e genuína de lhes agradeceres todos os dias, sem que eles saibam ou façam a mais pálida ideia do bem que te estão a fazer. E voltarás outra pessoa, parte do que tu és hoje ficará lá na Guiné. – respondi-lhe, sorrindo. Como sabes? – perguntou-me de imediato, com um ar mais sério. Sei, apenas sei. – respondi-lhe, também de pronto, e continuando a sorrir.
13.1.09
Entre a troca e a esperança.
Quando Epitemeu abriu a caixa, não resistindo à curiosidade, libertou todos os males que haviam de afligir o mundo, antes de a voltar a fechar apressadamente. No fundo da caixa restou a esperança. Algo que Christine Collins nunca perdeu, mesmo quando, nove anos depois, um dos companheiros de infortúnio do filho Walter apareceu são e salvo, levando a todos crer que a sua cria não o estaria. Um papel interpretado de forma soberba por Angelina Jolie, dirigida de maneira sublime por Clint Eastwood, para mim o realizador contemporâneo que melhor dirige actrizes. Sem truques cinematográficos supérfulos ou uma realização fazendo recurso a modernices. A vida, o amor, a dor, o drama, a coragem e a esperança, trazidas até nós, nuas e cruas, pela câmara e pelo talento e experiência de um dos melhores realizadores da actualidade. Um filme avassalador que nos envolve irremediavelmente e onde o significado de crença e esperança ganham uma dimensão superior.
12.1.09
Rua da Palmeira, 15, Lisboa.
Considero-me um bom garfo... garfo, faca, colher, o que estiver à mão e for mais apropriado para me deleitar com um belo manjar. Há uns anos a esta parte, apenas com os jantares, excluindo os sociais, me relaciono de forma comedida. Quando me falaram de vegetariano torci o nariz mas já era tarde porque quem me convidou conhece as minhas preferências e fê-lo na rua, à porta do Terra, numa noite fria, destas que nos têm assolado. O restaurante estava cheio e gostei logo da atmosfera que se vivia. Simples, acolhedor, despretensioso e vivido, o Terra recebeu-me como eu gosto, com o som das conversas e o ruído dos talheres sem ultrapassar os decibéis que tornam o ambiente animado e convidativo. A comida? Uma agradável surpresa, quer no que diz respeito à diversidade, quer à confecção e paladar. A sangria de champanhe e frutos silvestres? Uma delícia. No final do jantar, enquanto bebia o café, notei com curiosidade uma inscrição na saqueta de açúcar que citava alguém de que não me lembro, e que fazia referência a quanto menor a mente, maior o preconceito. Sorri, sorrimos. Fora mais um bom jantar e um preconceito a menos.
8.1.09
José Sócrates e as moedas, que só têm duas faces.
As coisas não são assim tão simples, mas já falta muito pouco tempo para que o devam, ou devessem ser. Não sou comentador político e de política percebo pouco, confesso. Sou um cidadão como todos os outros que habitam este país, tenho as minhas ideias, como todos os outros, voto, como alguns dos outros, compreendo e manifesto a minha solidariedade para com os que se sentem injustiçados, como muitos outros. Não creio estarmos a ser bem governados, mesmo entendendo que o momento é difícil para quem lidera a governação. Não tenciono votar PS mas olho para o lado, que é como quem diz, para o panorama político, e fico sem saber em quem votar. Em branco também se vota, se bem que me parece ser um desperdício para não dizer uma inutilidade. Diz-se mal do Primeiro Ministro, mas foi Sócrates que salvou o PS, que, sem ele a liderá-lo, hoje estaria igual ou pior que o PSD. Ele ressalta entre todos os outros líderes (será que os podemos chamar assim?) dos outros partidos que continuam a fazer política como se fazia há umas décadas atrás. Mas não vivemos há umas décadas atrás, vivemos hoje. Dir-me-ão que se trata de marketing. A esses perguntarei porque não se insurgiram, quiçá até aplaudiram, a nomeação de Obama como marketeer do ano. As coisas não são assim tão simples, dir-me-ão outros. Pois não, mas sê-lo-ão não tarda, quando o PS de Sócrates que, quer se queira quer não, o partido é dele e deve-o a ele ainda ser alguma coisa, ganhar as eleições com maioria absoluta. Simples porquê? Porque não devem haver dois pesos e duas medidas. Porque quando a maioria absoluta for um facto, em vez dos comentadores políticos, dos jornalistas e da oposição continuarem a atacá-lo sem apresentarem soluções dignas desse nome, deviam dizer sem titubear e escrever em letras que se vejam, que o povo português é burro, é imbecil. Que os portugueses são umas bestas quadradas, uma cambada de ignorantes que merecem o que têm. Parece-me que é simples, bastará para tal serem coerentes e haver coragem para o fazer. E não me venham com conversas, antes apliquem aquilo que julgo ser uma elementar justiça, ou seja, olhar para a outra face da moeda, não esquecendo que ela tem apenas duas. Afinal de contas somos todos avaliados pela implacável eficácia dos resultados. Sócrates também será, e em democracia quem o avaliará são os portugueses. Simples, não?
7.1.09
“Não há prazer comparável ao de encontrar um velho amigo, a não ser o de fazer um novo”. (Kipling)
Meteu mãos à obra, e que obra. Desdobrou-se entre pesquisa, leitura e escolhas cirúrgicas e criteriosas. Meteu-se em trabalhos. Trabalhos não forçados, trabalhos desejados. O tempo fugia-lhe, as horas passavam, os minutos corriam desgovernados numa inquietação permanente. As prendas, meu Deus, pensava ela. Os olhos que se fechavam com o cansaço e o sorriso que se abria no rosto, durante noites que pareciam não ter fim, de tão longas. As prendas, insistia, resoluta, as prendas. As prendas foram muito bonitas. A minha foi. Muito. E gostei. Muito. Obrigado Júlia.
6.1.09
As mulheres, o Diabo e o Anjo. (I)
As mulheres são seres únicos na sua desmedida vontade de tudo querer, nunca se contentando com o que têm. Se há ombros onde o Diabo e o Anjo repousam constantemente são nos delas, segredando, à desgarrada, conselhos aos seus ouvidos. E elas, curiosas como são, ouvem-nos, umas vezes mordendo o lábio inferior, outras com um sorriso cândido e romântico. Mas ficam num tumulto ao cederem à sua curiosidade, ouvindo-os e falando com eles, mesmo se, aqui e ali, não evitem dar-lhes uns raspanetes de dedo em riste. Elas sentem-se seguras no abraço do Anjo, mas sonham com os braços do Diabo em volta do seu corpo. Decidem subir ao altar com o Anjo, mas sentem uma atracção incontrolável e não resistem entregar-se ao Diabo. Gostam de passeios românticos de mão dada com um, mas é com a mão quente do outro na pele sedosa da cintura que sentem as pernas trémulas. O Anjo é sério, racional e bem comportado. É nele que elas confiam e é com ele que se sentem protegidas e seguras. O Diabo, não. É misterioso, exacerba os sentidos, mas apenas os cinco que o sexto deixa-o a cargo do Anjo, para que dele elas se esqueçam e o ignorem. Com o Anjo caminham serenas para o lar e com o Diabo caminham num desassossego rumo a um paraíso infernal. As mulheres sofrem a bom sofrer e passam arrelias com um e com outro. Anseiam viver na virtude com o Anjo e desejam sucumbir à paixão e ao pecado com o Diabo. E às vezes perdem as estribeiras e dizem ao Anjo que vá para o Diabo que o carregue, coitado. Mas não deixam que o Diabo se ria durante muito tempo, mostrando-lhe o dedo anelar da mão esquerda, do qual ele foge mais depressa que da cruz. As mulheres sonham com brincadeiras carnais entre os lençóis com o Diabo, e adormecer com o Anjo. Sentem-se mulheres devassas com um e senhoras exemplares com o outro. As mulheres, o Diabo e o Anjo, um trio diabólico e angelical.
5.1.09
3.1.09
As mulheres de Botero não param de pensar. Ainda bem.
São todas belas e desejáveis. Sedutoras e apetecíveis. Têm um rosto redondo, de feições graciosas e inocentes, e um ar depravado e insaciável. Uns lábios de desenho perfeito e uma boca carnuda onde nenhum beijo arrebatado se perde. E as mãos, sensuais e cuidadas, com as unhas pintadas de vermelho-paixão-selvagem, a que um homem deseja entregar-se. E o corpo? Que formas! As coxas roliças e generosas, os glúteos firmes e proeminentes, formando um triângulo carnudo no fundo das costas. São mulheres belas, encantadoras e submissas. Emanam volúpia e pecado, as mulheres de Botero.
2.1.09
Histórias da vida e uma história de vida.
É uma história como tantas outras de África. Uma história daquelas em que a vida é pródiga. Começa lá, lá bem longe, no longínquo planalto angolano. Lá hoje chama-se como sempre lhe chamámos. Bailundo, terra da nação Ovimbundo. Uma história que começa lá, numa vila de uma avenida só, ladeada por nespereiras, onde o cheiro da terra africana molhada pelas primeiras gotas de uma chuva tímida se misturava com o ar abafado, numa tarde em que o céu carregado tingia o horizonte de tons cinzentos. Cinzentos-esperança. Nessa tarde do dia 2 de Janeiro de 1928, as preces de uma jovem negra foram correspondidas pela providência divina, e ela desfez-se em lágrimas antes da velha e experiente parteira lhe colocar a filha recém nascida sobre o peito suado. Para a posteridade ficariam os registos hospitalares que mencionavam o nascimento de um bebé do sexo feminino, de raça mestiça. Para além dos registos que nos contam, em silêncio, uma história da vida como tantas outras de África, para a eternidade, e para mim, fica uma história de vida de uma mulher que marcou, marca e marcará a minha para sempre. Dizias-me, há dias, com o teu sorriso ainda e sempre gaiato que te emoldura o rosto, que não havia mãe e avó mais feliz que tu à face da Terra. Não sei se há, se estavas a exagerar, mas que importa isso? Se o dizes é porque o sentes e isso basta-me. A felicidade que sentes é, também, a felicidade que vês, porque feliz fazes quem te rodeia. Não é assim que deviam ser todas as histórias da vida? Sempre me disseste que sim. Sempre me ensinaste assim, mãe.
1.1.09
31 de Dezembro. 1 de Janeiro.
Um dia inteiro de preparativos que começou logo pela manhã, numa gestão milimétrica e cirúrgica das horas, dos minutos e, porque não dizê-lo, de afectos, já que a exigência dos mais novos não se compadece com jantares de fim de ano. Partilhei os afazeres de anfitrião e eles não se fizeram rogados a participarem. Até eu decidir agradecer-lhes, com um sorriso, antes de lhes dizer para prosseguirem com as suas brincadeiras. É que nem a pôr a mesa houve consenso, safa. Afinal a melhor ajuda que me poderiam ter dado foi a que me deram, ou seja, ela ao computador e ele na pele do Crash Bandicoot, combatendo vilões entre caminhos armadilhados. O último dia do ano aconteceu como desejei, o que adivinho ser um bom prenúncio para o ano que agora começa. Entreguei-me de corpo e alma a tarefas que desconhecia ter aptidão para levar a cabo. E estive rodeado das pessoas mais importantes na minha vida. Faltaram os mais velhos, mas eles sabem como são importantes na vida do pai. Querem saber como me senti no final do último dia do ano que passou? Cansado! E sabem como me sinto no primeiro dia do ano que agora começa? Feliz!
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