31.7.09

31 de Julho.

Para algumas pessoas é raro, para outras frequente. Para umas pessoas é rápido, para outras demorado. Em algumas pessoas manifesta-se ruidosamente, noutras silenciosamente. Por vezes é solitário, outras vezes acompanhado. Para alguns é precoce e não partilhado, para outros é retribuído. Pode ser múltiplo ou unitário, espontâneo ou simultâneo. Origina um grande prazer, ao qual se segue um período de relaxamento por culpa da libertação da prolactina, além da redução temporária das actividades do cortex cerebral. E deve ser muito importante, para haver um dia mundial a celebrá-lo.

Bom fim-de-semana.

Barra do Una, litoral-norte de São Paulo

29.7.09

Já sabíamos o que a casa gasta.

O breve discurso de um primo meu, no fim do almoço, tendo ao seu lado o senhor responsável pela logística do evento, ainda meio atordoado, levou a que todos, sem excepção, incluindo as pessoas que não pertenciam ao grupo, a aplaudissem. Ela ficou feliz e agradeceu humildemente. Passa a ser a pessoa mais idosa a fazer a descida do Tejo numa canoa. Foram nove quilómetros a remar no kayak do meu irmão, entre Constância e algures, passando pelo castelo de Almourol, onde se fez uma breve paragem. Oitenta e um anos bem rijinhos e cheios de uma fibra que sempre nos contagiou. Para ser sincero, nem eu, nem o meu irmão, ficámos assim tão espantados. Como se costuma dizer, sabemos bem o que a casa gasta. E no caso dela, o que a casa gasta está para durar. Que senhora rija me saiu a minha mãe.

Foto tirada da net.

O que são “afectos inteligentes”?

A pergunta é desconcertante e é feita no Alter Ego. Sim, desconcertante é, a meu ver, a palavra certa e talvez seja por isso, também, que gosto de o visitar. Antes de termos tempo para raciocinar segue-se de imediato outra pergunta. E funciona? O meu comentário, em forma de resposta às questões colocadas foi simples e directo. Disse que achava que só esses é que funcionam, ou pelo menos são os que funcionam melhor. Quem perguntou pediu explicações, afectuosamente desconcertante, como é seu hábito. “Afectos inteligentes” soa tão mal quanto “gestão de afectos”. Mas ela existe, é necessária e, na maioria dos casos, é providencial e aconselhável. Os afectos são racionalizáveis? Entendo que sim, evitando dizer, claro que são. Mas deixemos de parte a gestão de afectos e concentremo-nos nos afectos inteligentes. Partamos do princípio que afectos implicam pelo menos duas pessoas e evitemos entrar em considerações retóricas sobre a importância do afecto. É importante e ponto. E para ser ainda mais simples a minha explicação (sim estou preguiçoso e não me apetece andar às voltas do assunto), consideremos os afectos inteligentes aplicados num casal. Ora um casal são duas pessoas, muitas vezes antes de serem um casal, com estados de espírito diferentes, com desejos e vontades distintas e nem sempre convergentes. Na individualidade de cada um, a manifestação de afecto quere-se e só funciona se for inteligente. O silêncio e o respeito pelo espaço individual é um bom exemplo de afecto inteligente. Demontrar solidariedade através de perguntas ou gestos de carinho em situações idênticas também é uma manifestação de afecto. Mas será em alguns casos inteligente? e funcionará? Vamos lá concluir isto que se está alongar demasiado. Sempre ouvir dizer que uma das virtudes que as mulheres apreciam num homem e vice-versa, se bem que em menor percentagem (não percebo os homens neste caso), é a inteligência. Então porque raio haveria ela, inteligência, de diminuir o conteúdo e a essência dos afectos? Eu acho até que os valoriza, contribuindo para que eles, os afectos, aconteçam no momento certo, no lugar certo e no sítio certo. Mantenho o que disse, na altura intuitivamente, agora de uma forma mais racional e estruturada. Afectos inteligentes não desvirtualizam os não-inteligentes, nem devem ser considerados menos genuínos, mas têm mais condições de serem mais eficazes, ou seja, funcionam.

27.7.09

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Frances McDormand

22.7.09

O que é nacional é bom (XI)

Era consul em Bordéus quando a França capitulou em 1940, durante a Segunda Grande Guerra. Foi responsável pelo salvamento de centenas de pessoas condenadas à morte pelo regime nazi. De volta a Lisboa, Aristides de Sousa Mendes foi distiuído do cargo que ocupava no Ministério dos Negócios Estrangeiros e o desemprego forçado incapacitou-o de suportar a sua família de 13 filhos. Morreu na penúria em 1954. Foi só em 1988, por pressões externas e dos filhos, que o governo português lhe fez justiça e o reabilitou. Ficou célebre a sua frase, quando lhe pediram para justificar as sua acções. “Se milhares de judeus sofriam por causa de um cristão (Hitler), era justo que um cristão (ele próprio) devesse sofrer por tantos judeus". Aristides de Sousa Mendes não é vivo, mas é nacional e é bom.

(Yad Vashem reconheceu-o, em 1966, como Righteous Among the Nations)

Sensação estranha e desagradável esta, de me sentir encurralado.

O aproximar das eleições anda a deixar-me arreliado. O governo de José Sócrates não governou bem. Pelo menos existe essa percepção. Digo percepção porque não me parece que, para além de termos sentido nas nossas vidas o que representa uma crise à escala mundial, a nossa visão é fortemente influenciada por alguma comunicação social. Quero com isto dizer que há uma parte da comunicação social que noticia descontextualizando, para não usar palavras mais duras? Sim, quero. E trata-se da maioria, onde há muito foi banido o romantismo de uma profissão nobre, com um papel fundamental no mundo em que vivemos, mas uma profissão em que os jornalistas já não conhecem a cara do accionista, apenas lhe conhecem a voracidade dos objectivos em que os resultados das vendas falam mais alto e valem mais que o objectivo de pesquisar e informar. Mas terá mesmo Sócrates governado assim tão mal? O homem é arrogante, alguns dos seus ministros foram infelizes e não souberam lidar, ou não tiveram a sensibilidade que lhes era exigível para o fazer, com alguns assuntos importantes, e os indicadores económicos são adversos. Mas serão só em Portugal? O nome do primeiro ministro foi mencionado por motivos que não o enobrecem, apesar de nada, por enquanto, ter sido provado contra ele. É que eu já vi este filme com o governo de Cavaco Silva que caiu por causa de um buzinão e com Pedro Santana Lopes que ainda hoje não sabemos ao certo porque foi deposto. Acho que nós nunca sabemos exactamente o que se passa e agimos (leia-se votamos) fazendo uso do coração e das emoções em vez de sermos racionais e usarmos a cabeça. Ando arreliado porque não vejo opções que não sejam as que conduzem ao voto emocional, sempre carregadas de raiva, de uma vontade muitas vezes gratuita de punir e de pouca clarividência. Admitindo que José Sócrates governou mal, e sendo pragmático, sempre há o PSD, não é? Um partido liderado por uma senhora quase septuagenária. Com o devido respeito por todas as avós deste país e pela pessoa em causa, o que nos faz falta mesmo é uma avó a governar Portugal. Uma pessoa que pouco ou nada diz às novas gerações, em idade da reforma, com um discurso gasto que mais parece um convite aos netos para se juntarem a ela na cozinha a fazer bolos para o lanche. Uma avó que se faz acompanhar, respeitosamente, por uma prole de barões bem estabelecidos na vida. Que sensação esta tão desagradável, de me sentir encurralado. Não estou a brincar, estou mesmo preocupado e arreliado.

21.7.09

Acho que voltarei a Jeri.




















As cerca de quatro horas de viagem entre Fortaleza e Jeriquaquara não merecem uma linha sequer, até estarmos perto da praia que teve o destaque da Newsweek, creio que no ano 2000, como sendo uma das dez mais belas praias do mundo. Critérios e subjectividades aparte, Jeriquaquara, chamada carinhosamente pelos seus habitantes como Jeri, é um local inesquecível. Se a maré estiver baixa, como foi o caso quando cheguei, a aproximação a Jeri é feita pela praia, remetendo o nosso imaginário para as célebres chegadas dos corredores do Paris-Dakar à capital do Senegal. Por falar em habitantes, uma das curiosidades que mais me fascinou foi o facto de ter a sensação que grande parte da população de Jeri é nómada. Vão para lá, ficam uns tempos, partem e voltam. Creio ter sido em Jeri que comecei a pensar seriamente em não ficar em Portugal quando a reforma chegasse. Respira-se uma atmosfera hippy, descontraída e contagiante, onde se sente que apenas conta o dia que vivemos. O entardecer é deslumbrante e as pessoas rumam até ao morro para assistirem a um pôr do sol inacreditável, com o vermelho vivo do céu parecendo prolongar-se pela areia, entre as sombras dos corpos ágeis e graciosos dos praticantes de capoeira. Fiquei hospedado na estalagem Vila Kalango, propriedade de familiares de amigos meus. A estalagem, perfeitamente integrada na paisagem e no ambiente natural de Jeri, segue um conceito hippy chic despojado e de extraordinário bom gosto. Diz-se que uma imagem vale mais que mil palavras, não é? Então fico-me por aqui e apenas acrescento que Jeri é daqueles locais onde, quem possa, não deve deixar de ir.

Meus companheiros inseparáveis (XXIII)

Angie Stone

20.7.09

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Sharon Stone

E se houvesse estrangeiros no poder executivo?

Gostaria que alguém me dissesse, e não, não estou a ser irónico, é mesmo pura ignorância, se a Constituição prevê a contratação de estrangeiros para ocupar cargos de responsabilidade no poder executivo, como os de ministros ou secretários de estado, para não mencionar outros. Onde eu quero chegar, a título de exemplo, é, se um ministro da saúde holandês fez um trabalho assinalável, ou se um ministro norueguês agiu de igual forma no campo da justiça, ou se um ministro dinamarquês se notabilizou pelo seu trabalho na educação, porque não contratá-los? O que não falta por aí são cases de sucesso que deviam ser estudados e, em última análise importados e implementados. Alguém dirá que estaríamos a contratar mercenários. E depois? se são pessoas com provas dadas e têm uma reputação a defender, acham que ficaríamos pior servidos do que com alguns boys incompetentes e de quem esperamos, em vão, a defesa dos interesses nacionais e o mais alto nível de serviço público? Se não prevê, acho que devia mudar-se a Constituição e, já agora, podia alterar-se o período das legislaturas para seis anos de mandato. É mais sério.

16.7.09

Bom fim-de-semana.

O que é nacional é bom (X)

É nacional e é bom. Muito bom. E não só pela obra, tão vasta como desconhecida por nós. O Filipe Balestra é português e mais que um jovem conceituado arquitecto, talentoso e de eleição, é um homem do mundo. De tudo o que pesquisei e li sobre o Filipe Balestra, o que mais me marcou foi este texto de Ayn Rand, que ele escolhe como personal statement e que decidi não traduzir.

“What the architectural profession lacks is an understanding of its own social importance. … You are those who provide mankind’s shelter. Remember this, and then look at our cities, at our slums, to realize the gigantic task awaiting you. But to meet this challenge you must be armed with a broader vision of yourselves and of your work. You are not hired lackeys of the rich. You are crusaders in the cause of the underprivileged and the unsheltered. Not by what we are shall we be judged, but by those we serve. Let us stand united in this spirit. Let us - in all matters - be faithful to this new, broader perspective. Let us organize - well, my friends, shall I say - a nobler dream?”Ayn Rand, 1947, The Fountainhead.
This statement is more meaningful today than ever. What we all seem to be searching today is a meaningful life. Through the Internet we can see beyond the boundaries of our everyday lives. We meet across time and geography as neighbors, we can travel cheaper, we can exchange life experience and knowledge. Now we know: one is all. We are in this together. By rejecting a lifestyle that exists at the expense of others, we can expand the dimensions of our own potential, and feel better in a newer, more vibrant sense of shared growth. Not just economic growth: but individual, societal and global development. In this decade of a new century- still plagued by war and social divide, the question humanity as a whole faces is not why we do we exist, but how do we want to live?

Vou pensar no teu assunto, Calvin...


... e entretanto aproveito para adormecer sorrindo, que é muito saudável.

14.7.09

O que é nacional é bom (IX)

Continua a ser o expoente máximo do fado e é aclamada por muitos como a voz de Portugal. Amália Rodrigues está sepultada no Panteão Nacional entre outros portugueses ilustres e é respeitada nos quatro cantos do mundo, onde a sua voz imortalizou o fado, canção nacional.

13.7.09

Gosto das mulheres de Botero.

Botero pintou este quadro e deu-lhe o nome de La Cama. Ela é e está maravilhosamente sedutora, com aquele ar inocente mas desavergonhado e convidativo, acenando com uma mão enquanto a outra segura firmemente o leito. Coxas generosas e bem torneadas sustentam um corpo de formas curvilíneas e apetecíveis. Haverá mulheres mais belas e desejáveis que as de Botero?

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Reese Witherspoon

10.7.09

Meus companheiros inseparáveis (XXII)








B.B. King e os fantásticos Eric Clapton, Buddy Guy e Jimmie Vaughn.

The end? Espero que sim.

Fiquei a saber que não tenho a sofisticação de um frequentador de casino, que nem aprecio, e que sou um predador. Que não sou alto já sabia. Um homem com 1,72 metros não é um homem alto. O perfil musculado é normal, por ser genético, pelos muitos anos a praticar desporto e porque o bodyboard ajuda. No cabelo, como é rebelde, passo gel, mas dizer-se mergulhado em gel acho um exagero. O no care estudado ao nível do vestuário que permite um sucesso invejável, nesta fase da vida a caminho do meio século é outro exagero. Depois há as vítimas. Mulheres na casa dos quarenta, contra quem disparo a minha arma. Sempre pronta é outro exagero, mas um gambler não desdenha tal elogio. Vítimas com quarenta anos? Pronto, está bem, consideremo-las vítimas e não se fala mais do assunto.

O primeiro round tem a ver comigo, de facto, apesar do meu irmão ter razão e moer-me o juízo porque tenho faltado aos treinos. Senhoras, tenham cuidado e não façam rigorosamente nada, que eu não desapareço, continuarei a escrever como e quando me apetecer. Mas atenção que eu manipulo, conquisto, engano e consigo a ilusão de um futuro que não tenho a mínima intenção de partilhar. E digo quero-te e amo-te quando quero e quando amo... mas enquanto quero e enquanto amo. Quando deixo de querer ou de amar, aí é mesmo simples. O telemóvel emudece, os e-mails não têm resposta e as campainhas das portas avariam. Sou aceite nas famílias e nos respectivos círculos de amigos porque a vida é assim mesmo. “Desculpem lá mas não me aceitem porque nunca se sabe o futuro que esta relação pode ter e não quero que se sintam, um dia, enganados” é realmente algo que nunca me passou pela cabeça dizer. E creio que jamais passará.

Podes dizer que sou um lince ou achar que vivo uma vida-faz-de-conta, na qual chego a acreditar tão cegamente que a realidade deixa de fazer qualquer sentido, mas "treinado por uma educação que não tive" não é uma coisa bonita de se dizer. Assim metes no mesmo saco também o meu pai, e a minha mãe que conheceste pessoalmente. Ainda se fosse contrariando a educação que tive, poderia aceitar. Esta parte incomodou-me, era escusada e não fica bem. Vou passar por cima das estórias e das incongruências, já que são muito pequenas, e também por cima da aparência que, felizmente não vai durar para sempre. Pois não. Se estou aqui a assumir quase tudo o que escreveste, a aparência dura até aqui. Resta-me o não ser lembrado. Depois de ter passado mais de um ano, parece que quem tem um problema não sou eu, até porque, como diz a label, foi short mas insistes em torná-la numa novel.

Restam as borlas. A técnica 3 dá um trabalhão, mas quem sou eu para dizer o que quer que seja se se trata de diversão? Acrescento apenas mais uma coisa a esta técnica: senhoras, cuidem que esse livro tenha muitas páginas e andem sempre com mais que uma caneta.

Ajudei ao the end, Once? Não tenho a certeza, mas pelo menos daqui para a frente podes mencionar o Mike e entreteres-te a mandar recados para outras pessoas, que eu sei que é mais forte que tu. Foi melhor assim, não achas? Assim as pessoas que nos lêem ficam a saber que tivemos um caso, quem é o gambler, e quem é o patife que te maltratou e te arrastou para um imenso lodaçal. O resto as pessoas já sabem, que te encarregaste de carpir as mágoas, espalhando muitas vezes o fel com uma ironia cítrica que te é própria. Bem sei que se perde um bocado a piada e aquele lado de misterioso cochicho, mas o teu talento inquestionável de escriba resolverá essa questão. E acho que não te custa admitir que, depois de ler tanta coisa a meu respeito, bem escrita é verdade, sou, pelo menos, um homem muito paciente. Não me orgulho particularmente de ter escrito isto, mas é desaforo a mais, mesmo para um homem paciente, e esta minha vida-faz-de-conta consome-me um tempo que nem imaginas. The end? Espero que sim. Para mim foi, há mais de um ano atrás.

8.7.09

Meus companheiros inseparáveis (XXI)

Ray Charles

Preconceito é quase sempre prejuízo. Em África quase foi. Quase...






Quando atravessamos a savana, em plena região Masai, essa terra árida e intocada no interior do Quénia, não adivinhamos o que nos espera à chegada. Fiz a viagem contrariado, pensando que nada poderia compensar aquele abraço do ar quente e o afago do pó da estrada, ou o fascinante e arrebatador pôr do sol que pintava o céu de um vermelho que só África é capaz de pintar. A ideia do desvio, forçada pelo meu guia, o simpático Houstous, não me agradava, mesmo sabendo que iria pernoitar ao lado da segunda montanha mais alta de África, depois do Kilimanjaro. Tinha ido ao Quénia para ir a Mara, para viver África em todo o seu explendor e plenitude e não para me submeter às regras que me esperavam no Safari Club. Tentei demovê-lo, mas o seu poder de persuasão foi maior que o meu preconceito. Chegámos com o sol a despedir-se de nós sussurrando à lua que esperasse mais uns momentos antes de fazer a sua aparição, e que deixasse que aqueles tons vermelhos se perpetuassem. O Safari Club é um oásis naquela interminável e grandiosa savana. Um oásis requintado onde nada é deixado ao acaso e onde as regras, rígidas demais para meu gosto, me impediriam de jantar num dos salões em que a etiqueta obriga a fato escuro, imagine-se. Foi no outro salão, onde o traje casual é permitido, que jantei. Um casual restrito que fecha os olhos a umas jeans compostas, mas obriga os cavalheiros a usar um blazer. Jantei bem e não contive um acesso de rebeldia, acabando a garrafa de um bom vinho sul-africano na varanda, com uma vista magnífica para o Monte Kenya, enquanto saboreava, demoradamente, um Montecristo Churchill, tendo apenas como companhia a aragem que se ia suavemente levantando. A mesma varanda que me acolheu ao pequeno-almoço, com um cortejo de girafas elegantes a dar-me os bons dias lá ao longe, no sopé da montanha, num caminhar em que a fleuma britânica parecia notar-se. Partimos de seguida, tendo como destino a fronteira com a Tanzânia, onde o Homem, com um traço no mapa, separou as regiões de Mara e do Serengueti, para sempre unidas pela Natureza. Interrompendo o meu silêncio, o meu guia perguntou-me, olhando pelo espelho retrovisor, se tinha gostado. Respondi-lhe que tinha sido uma experiência curiosa e engraçada. "Ou seja, não gostou", respondeu-me ele de pronto. Retorqui, sorrindo e dizendo-lhe que estava grato pelo facto do seu poder de persuasão ter sido mais forte que o meu preconceito. Ele sorriu com os olhos postos na estrada poeirenta, conduzindo o jipe em mais uma jornada pela inóspita e inesquecível região Masai.

7.7.09

O que é nacional é bom. (VIII)

O rapaz nasceu na Madeira, veio para o continente, tornou-se um jogador promissor, foi para Manchester, aplicou-se, trabalhou incansavelmente e tornou-se uma estrela. Ganhou o título de melhor jogador do mundo, ganhou a Liga dos Campeões, foi o melhor marcador dessa Liga milionária, foi o melhor marcador do Campeonato Inglês, ganhou a Liga Inglesa e a Taça de Inglaterra, foi considerado o melhor jogador inglês, ganhou a Taça da Liga Inglesa, vestiu a camisola 7, outrora o jersey de jogadores históricos do Manchester United como Georges Best, Brian Robson, David Beckham e Eric Cantona, é a maior transferência do futebol de todos os tempos e foi aclamado por mais de oitenta mil pessoas no Santiago Barnabéu, em Madrid, qual César na Roma antiga. Palavras para quê? É um artista português. Cristiano Ronaldo é nacional e é bom.

6.7.09

Porque hoje (ainda) é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Marion Cotillard

3.7.09

O que é nacional é bom. (VII)
















Nasceu em Lisboa e começou a pintar aos quatro anos. Mudou-se para Londres definitivamente, onde vive. É Doutora Honoris Causa pela Universidade de Oxford. O seu trabalho não é consensual, mas a sua reputação é inegável. Paula Rego é portuguesa e é boa.

2.7.09

Bom fim-de-semana.

Man at work.

Quando o pudor é inimigo do negócio.

A revista Playboy é uma marca com notoriedade a nível mundial, de reputação em determinados círculos e com leitores fiéis. Uma marca que lança 12 produtos por ano, com uma periodicidade mensal, e esses 12 produtos têm 12 packagings diferentes mensalmente. As capas, que mais não são que os packagings a que me refiro, são, neste tipo de negócio e para as marcas que se inserem neste sector, tão importantes como os conteúdos. Os sentimentos de embaraço, constrangimento, vergonha, recato ou mesmo castidade, que normalmente resumimos como pudor, não fazem parte do ADN de marcas como a Playboy. No Brasil, onde vivi, a relação com a sexualidade e com o corpo é diferente da que estabelecemos por cá. Lá pude constatar, desengane-se quem pensa o contrário ou veja levianamente pecado somente para um lado, o do lado de lá do Atlântico, dizia eu que pude constatar que essa relação apenas é diferente e, em meu entender, mais saudável e menos cínica. Há dias, quando comprava o jornal, a capa da mais recente edição da Playboy portuguesa chamou-me a atenção. Por estar envolta num plástico, obviando a degustação visual que é um acto natural praticado por quase todos nós quando se trata de uma revista, e pela semi-nudez envergonhada e pálida da mulher da capa. Uma capa repleta de pudor, que podia muito bem ser a capa de outra revista de carácter geral ou mesmo feminina, cujo título poderia ser “proteja a pele sensível dos seus seios no Verão”, já para não falar na inexistência de nudez explícita no interior, em edições anteriores. Na Playboy brasileira, ou há dinheiro para aliciar personalidades públicas e actrizes conhecidas, como por exemplo as fascinantes Luma de Oliveira, Flávia Alessandra, Babi, Deborah Secco, Mel Lisboa ou Juliana Paes, ou se contratam desconhecidas que geram, como reacção imediata dos consumidores, frases do tipo “quero ver essa cachorra”. Não critico nem julgo os bons costumes, só que há negócios que não se compadecem com pudor. A Playboy faz parte de um desses negócios, mas parece que em Portugal quem a dirige ainda não assumiu o ADN da revista. O consumidor é implacável e as marcas que não assumem a sua essência e a sua razão de existência arriscam-se a serem mal sucedidas porque, neste caso, o pudor é inimigo do negócio. *

* Fui alvo de censura, claro que fui. E intimado, ameaçado e julgado em praça pública. Ah pois fui. Só não me algemaram! A Justiça falhou, bolas!

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