2.11.08
Antes tarde que nunca.
Antes tarde que nunca é uma das frases de que gosto. Não por ser apologista de adiamentos ou por relativizar prioridades, que na vida convém estabelecê-las e, acima de tudo procurar cumpri-las. Gosto desta frase e, mais do que a frase, do que ela encerra no que diz respeito ao ensinamento de que as coisas importantes devem acontecer ou ser feitas, mesmo que o momento não seja o adequado ou o expectável. Lembrei-me desta frase sem que nada o fizesse prever, já que a origem deste texto nasceu de uma conversa sobre cinema e não se tratava de algum filme em particular que tivesse ficado por ver. A conversa não era de todo séria. Várias pessoas, em final de um almoço, discutiam e manifestavam diferentes opiniões sobre o cinema europeu e americano. E generalizava-se o tema, coisa que é, manifestamente, desaconselhável. Vamos mantermo-nos assim, generalizando, até porque, quer se queira, quer não, há padrões que definem essas duas e tão distintas indústrias cinematográficas. Eu sou adepto do cinema americano. Radicalizando mais a questão, direi que não sou simpatizante do cinema europeu. Assente num preconceito assumido, direi que um filme europeu com uma boa crítica, são os condimentos essenciais para não o ver. Resumindo, acho que o cinema europeu privilegia a ideia, a concepção, o rigor da narrativa e a riqueza do diálogo, sendo, invariavelmente, intelectual e chato. O cinema americano assenta numa indústria bem oleada, experiente, com grandes actores e realizadores, privilegiando o detalhe de produção e o ritmo da história, tornando-a descontraída e agradável como deve ser o lazer. A conversa continuou e rapidamente o teatro veio à baila. Assumi, e assumo, que gosto muito mais de cinema que de teatro. E concluí, logo ali, entre a amigos, que isso ajudava a explicar, de certa forma, a minha relutância em relação ao cinema europeu. As semelhanças deste com o teatro são muitas. Mas a culpa desta minha pequena aversão ao teatro deve-se, e não vou ser meigo nem imparcial ou justo, ao PREC. Em 1975, quando cheguei de Angola, os "donos da cultura” em Portugal tiveram a peregrina ideia de promover o teatro na televisão. Muitos não se lembrarão, mas poderão imaginar o que era, para um jovem de 15 anos, ver a Eunice Muñoz practicamente a declamar na televisão, em cima de um palco e filmada por uma câmara estática. A minha curiosidade foi esmagada pela monotonia daquelas imagens, que passei a associar ao teatro em Portugal. Por vezes via teatro inglês adaptado para televisão e achava-o infinitamente melhor em tudo. Pudera, eles sabiam a importância de promover o teatro noutros meios mas conheciam as diferenças entre ele e o cinema ou a televisão. Assim, e chegou o momento da confissão, a primeira peça de teatro vi-a aos 41 anos, em São Paulo. E puff!, em bom momento, já que gostei. Caso para dizer, antes tarde que nunca.
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13 comentários:
Meu Caro Mike,
penso que o Cinema Europeu se ostenta como leitura, enquanto o Americano se finge vida.
Quanto ao Teatro e Cinema, gosto muito de ambos e penso que os registos não se confundem, salvo como quando, no Portugu~es, os actores do tablado arrastam para a tela o método daquele.
A diferença principal está na... dramatização, não no sentido de arrastamento para a Tragédia, mas no de mobilização do público, mais imediata quando ao vivo.
Abraço
Mike, encontro no cinema europeu, também, filmes bons, e estou a pensar, por ex.n'«O Último Metro» ou «A Mulher do Lado»...
Mike, tive a minha fase de cinema europeu, especialmente francês. Foi uma fase um bocadinho «intelectual», em que apreciava os filmes «trabalhados» (embora nunca tenha aderido a certas correntes, nomeadamente italianas, de mensagem muito transcendente e hermética). Mas foi uma fase curta e hoje também prefiro o cinema inglês e americano – embora continue a achar que os franceses são insuperáveis num certo tipo de humor brejeiro. Teatro, gosto de ler. E vejo pouquíssimo, pelas mesmas razões do Mike. Não gosto do nosso estilo tendencialmente declamado.
P.S.: Comprei há pouco tempo o DVD do «Les uns et les autres» e gostei de o rever. Gostaria, aliás, de rever aqueles filmes de há vinte e tal anos e ver que efeito teriam agora em mim.
no que diz respeito ao cinema americano até lhe posso dar razão mas, no que diz respeito ao europeu a única coisa que me ocorre é que não o vê...
Caro Paulo, devo agradecer-Te o comentário lúcido e claro que aqui foi deixado. Para digerir, por quem Te lê e acha sempre que antes tarde que nunca.
Abraço.
Concordo, Cristina, por isso a generalização nunca é aconselhável, muito menos em casos como este. :-)
Les uns et les autres... que belíssimo filme, Luísa. Devo confessar-lhe que me deu um certo conforto, que vale o que vale, ter lido o seu comentário. :-) Particularmente o "intelectual". (risos).
Corine, nada de bater mais no ceguinho, esse mesmo que não quer ver. (risos)
Já assumi o meu preconceito. Vejo muito menos cinema europeu que americano e, aqui fica outra confissão, o preconceito também me tolhe a lucidez e a apreciação quando vejo cinema europeu. :-)
Lembro-me perfeitamente de um inquérito de rua (não deve ter sido muito depois do PREC) em que uma senhora dizia o que gostava de ver na televisão. Do resto não faço ideia, mas do fim nunca me esquecerei: "(gosto disto e daquilo e do outro) e do teatro quando é bom".
Na altura, com a sobranceria dos comodamente instalados, gozámos com a senhora e com aquele aparente pleonasmo. Mas vai-se a ver e afinal quem sabe sabe e a senhora é que sabia.
Ora... quais PREC quais quê? EU lembro-me perfeitamente que segunda feira era noite de teatro na RTP, bem antes de haver cá revoluções ou coisas do género. O género de teatro é que talvez fosse mais clássico, para não dizer popular. Mas isso já não posso garantir que a minha memória de criança não chega a tanto.
Já achei piada ao definires o Cinema como lazer. Há quem tente fazer dele arte.
O que me remeteu para a ideia interessante de fazer de um passeio no campo uma obra de arte.
Pois, José, neste caso não restam dúvidas que a senhora é que sabia.
Olha L., e eu achei piada a essa tua comparação entre um passeio no campo e uma obra de arte. Mas afinal o cinema é o quê? Arte? Isso é que era bom!... pensando bem, era mau.
Mas por que é que generaliza então, Mike, se reconhece que isso é um tremendo erro e que as generalizações assentam unicamente no preconceito?
Se eu caísse na mesma tentação, diria que se "o cinema europeu é intelectual e chato", o americano "é superficial e oco". Mas não digo, porque não é verdade. Há excelentes filmes americanos, que não privilegiam só a forma e se preocupam também com o conteúdo. Recheados de actores, realizadores e produtores europeus, por sinal. E há excelentes filmes europeus, que não nos fazem fatalmente adormecer ou sair deles com um incómodo complexo de inferioridade.
Além disso, como meter no mesmo saco a cinematografia francesa, a italiana, a inglesa, a espanhola e a nórdica, para citar só algumas delas? A diversidade é enorme, as diferenças são abismais...
Teatro? Não vou muito, mas sempre que vou fico com pena de não ir mais. E não tenho uma única hesitação em considerar o cinema uma arte, ora essa! (desculpem, mas em que é que se pode comparar o cinema com um passeio no parque??? Sou eu que estou obtusa ou isto é um disparate total?)
Finalmente, garanto que não tinha ainda lido o seu post quando pus o Mastroianni lá no meu canto...
Um beijo, Mr. Preconceito! :-)
Ó Ana, generalizei porque há padrões que os definem, ora. Na maioria, para mim, as diferenças entre o cinema europeu e americano são exactamente como as define. Um é intelectual e chato e o outro é superficial e oco, mas divertido. E o cinema inglês não é europeu. Há um enorme Canal da Mancha, com tudo o que ele representa neste caso (e noutros), que os separa. Temos que ser honestos: o inglês é o mais americano, ou não? Até na língua. (risos)
E pôs o Mastroianni de propósito... pensa que eu não sei?
Outro para si, "Mademoiselle-je-sais-tout". (mais risos)
Vá dizer isso a um inglês e verá a resposta... é pior ainda do que compará-lo a um albanês!
Não pus nada! :-)
mas claro que o cinema é uma arte... lazer? lazer para quem o vê, e o vê como tal. Se o cinema for o Sozinho em Casa até talvez perceba o entendimento de lazer agora se falarmos antes num Disponivél para Amar a coisa ganha outro estatuto..tem por força outro objectivo e por mais prazenteiro lazer que seja nunca pode ser chamado de tal
Em desacordo, Corine. Bem sei que lhe chamam a 7ª Arte, mas ao Boxe também lhe chamam Nobre Arte. Cinema é uma indústria, não tem nada a ver com arte. E para mim, uma indústria virada para o lazer e divertimento. :-)
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