30.4.09
Sabedoria popular: entre a realidade e o que devia ser.
Há dias deparei-me com um post num blog de que gosto e deixei um comentário em que manifestei o facto de ser avesso aos ditados populares. Logo eu que fui educado por uma mãe que, volta e meia, fazia uso de ditados em que a sabedoria popular é pródiga. Ao meu pai não me lembro de ouvir ditados, mas ela ainda os usa. E rimo-nos porque quando o faz já sabe qual é a minha reacção. A Sum (autora do texto) não me questionou sobre as razões que me levam a ser avesso aos ditados populares, mas depois de amadurecer a ideia, resolvi trazê-la para aqui, desconversando sobre o assunto. A sabedoria popular não falha, traduz a realidade das coisas. Pudera, é feita de experiência, de vivência. Mas em meu entender traduz a realidade e não o que devia ser, tornando-se demasiadas vezes em exemplos a não seguir. Vamos a eles? Isto não é o meu forte, mas vou arriscar. Cá se fazem, cá se pagam. Que linda coisa para se dizer e ensinar aos nossos filhos. Como o quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte. Bonito, depois queremos que eles saibam partilhar. Quem meus filhos beija, minha boca adoça. Até se chegar à conclusão de não se gostar da rapariga que namora com o filho. E quando se zangam as comadres? Descobrem-se as verdades. Porque até aí imperavam as mentiras. Também há o entre marido e mulher não se mete a colher. Pois não, por isso é que algumas apanham deles, os vizinhos ouvem, os amigos sabem, mas o malvado continua impune. Ou ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo. Cada vez menos, que o Senhor tem muito trabalho e muitas coisas que o preocupem, e quem conduz não devia beber e quem não presta atenção aos meninos arrepende-se, às vezes amargamente e irreversivelmente. Manda quem pode e obedece quem deve? Creio que o verbo dever devia estar associado ao mandar. Se assim fosse talvez não nos queixássemos tanto da incompetência de quem manda porque pode. O pior cego é aquele que não quer ver? Experimentemos dizer isso a quem é cego. Ou dentro do convento sabem os que lá estão dentro, como eu próprio já usei. Saberão? Falo por mim, que já passei por dois divórcios. A educação dos nossos filhos orienta-se, em grande parte, pela partilha das nossas experiências de vida, mas eu uso muito pouco, ou quase nada, os ditados populares. E creio que cada vez se usam menos. Percebo porquê. Porque os tempos mudam, evoluem e, quer se queira, quer não, o que era válido ontem já não o é hoje, e o que é hoje pode não vir a ser amanhã. A sabedoria e os ditados populares, perdoem-me as pessoas que cultivam as tradições e que têm o meu respeito, não fosse a minha mãe uma delas, têm muitas vezes para mim, que até tenho um péssimo olfacto, um cheiro a naftalina. A naftalina que é usada em muitas coisas que já não são a realidade, ou o que deviam ser. Por falar em naftalina, hei-de escrever sobre museus. Escrever e desconversar.
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21 comentários:
Não vale a pena chorar sobre leite derramado. Quem sobre naflalina escreve não tarda que fique tramado...mas fale lá sobre os museus. (risos)
Fiquei com curiosidade de conhecer os ditados da senhora sua mãe.:)
Mike,
As aparências enganam! ;)
Nunca havia pensado assim...mas " antes tarde do que nunca! hehehe
(risos)
GJ, os ditados que a minha mãe usa são aqueles que todos conhecemos, por isso não se deixe consumir pela curiosidade :)
Quanto aos museus, vai ter que esperar, mas como dizem que quem espera sempre alcança... (mais risos) Este é outro dos tais que dá vontade de dizer "está bem, está". ;)
Lucia, as aparências enganam a quem é muito distraído... não, este não é um ditado. (risos)
Antes tarde que nunca? Muitas vezes é melhor mantermo-nos calados ou quietos. ;)
Aquele de que mais gosto é:
"mais vale uma na mão, que duas no soutien"
(cuspidela para o ar - a gravidade fará o favor de fazer o resto...)
:-)
Que pena, Mike. Pensei que podia aproveitar pelo menos aquele "olha para o que eu digo e não contestes o que eu faço."
A sua mãe passou-lhe este? Não conhece? (gargalhada)
"Quem conta um conto aumenta um ponto". ;)
(Dois divórcios? Cê gosta de casar? :)))) )
Beijinhos!
Mike, permito-me discordar consigo. Os ditados populares apenas sintetizam algumas realidades ou tendências praticamente imutáveis da natureza humana. E ao fazê-lo, estão, de algum modo, a alertar para riscos, a sugerir acções em «contra-ditado popular». Pessoalmente, confio muito na sabedoria popular. Parece-me mais autêntica e infinitamente mais profunda do que a sabedoria do discurso moralizador ou politicamente correcto dos nossos dias. Porque a verdade, Mike, é que os tempos passam, o mundo muda, mas as pessoas mantêm-se, na sua essência, iguais, pequenas arenas de combate entre pugilistas-anjinhos e pugilistas-diabinhos. ;-)
Sandro, a gravidade de cuspir para o ar, faz com que o cuspo lhe acerte se calhar... esta não saiu bem... (risos)
Marie, casa - descasa, casa - descasa, em casa de ferreiro, espeto de pau. Esta também não resultou, ora bolas. (muitos risos)
E sim, gosto de casar, sou um jovem garboso romântico. (mais risos)
Luísa, entre várias pessoas, eu esperava ter a sua discordância. E sabia que a lucidez e assertividade do seu comentário, me deixaria sem palavras. Não há desconversa possível quando a Luísa argumenta. :)))
GJ, a minha mãe costumava dizer "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". :)
Pois Mike, "O último a rir é sempre quem se ri melhor"... E rir com vontade
:)))
Mas verdade seja dita "Cá se fazem, cá se aprendem!"
:P
Ó Sum, com essa do "último a rir é quem ri melhor", deixou-me... hum... hã... (ah, detesto ter que dizer)... sem palavras. (muitos risos)
Mister,
saiba que quem casa, quer casa mas quem espera sempre alcança (para bom entendedor meia palavra basta)
:-D
Excelente, Mike
Fugidia, saiba a menina que quem casa quer casa e quem espera, desespera. ;D
Obrigado, Leonor. :)
Sem palavras Mike!
Ummm!
"Quando a esmola é grande o pobre desconfia...
Mãe muito sábia, Mike! Sabia como "levar a àgua ao moinho" :)
Mas "como a cavalo dado não se olha o dente", Sum... (muitos risos)
GJ, acho que esse é um dos poucos ditados que ainda uso... com os meus filhos, claro. (risada)
Belo texto, quase me levaste à certa! O diabo tece-as...
Mas não, não concordo. A Luísa tem razão: a essência da condição humana não muda muito e os ditados populares são alertas para reflexões como esta que fizeste. Por isso são e sempre serão utilíssimos.
Obrigado, Ana. :)
O diabo tece-as, mas quando são anjos a escrever... (risos)
a sabedoria empirica deveria dizer-lhe que quem casa uma vez, casa duas ou três :-)))
Até pode ser, Júlia, desde que se façam vasectomias nos Hospitais Civis. (risos)
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