16.2.10

O exemplo, os "heróis" e a ética.

Instalada que está a controvérsia em redor do caso Face Oculta, cujos contornos tomam, cada vez mais, um carácter diferente do da Face, tenho lido e ouvido o que considero alguns disparates tão sérios e graves como o ambiente e contexto político que nos rodeia. Sou um acérrimo defensor de onde deve vir o exemplo. E é, ao vir de cima que se constroem, também, lideranças sólidas e credíveis. Não têm vindo daí, é certo. E é grave. Mas de forma alguma subscrevo e aceito esse facto como fundamentação de opiniões que têm sido emitidas, no sentido de desculpabilizar erros e, principalmente, transgressões e desvios de atitude e comportamento que vamos constatando. Somos nós, cidadãos, o pilar da sociedade, e não os poderes legislativo, judicial e executivo. Nós não nos devemos desresponsabilizar e vivermos à margem da missão que temos para cumprir. Indo directo ao assunto, não creio que seria admissível esperar-se que, porque o exemplo não nos está a chegar de onde devia, os polícias deixassem de prender os ladrões, que os médicos deixassem de tratar as pessoas ou que os apanhadores do lixo deixassem de o apanhar. Ou que nós deixássemos de cumprir, por exemplo, a nossa missão como pais sob os valores sólidos que a tarefa implica. Os países sobrevivem a maus governantes, mas as sociedades dificilmente sobrevivem a maus cidadãos. Nestes tempos que vivemos e ouvindo o que tenho ouvido, não pude deixar de me lembrar do que li, há alguns anos, na Folha de São Paulo, quando um escritor apelidava de heróis os cidadãos anónimos brasileiros. Aqueles homens e mulheres que se levantavam todos os dias de madrugada para exercerem as suas funções e tarefas honestamente e com ética, fossem elas a condução de um autocarro ou o atendimento num posto de saúde. E faziam-no vivendo paredes-meias com traficantes, agiotas ou malfeitores “bem sucedidos na vida”. Não nos desculpemos, portanto, com os exemplos que deviam chegar de cima e não chegam, para não cumprirmos, com ética e responsabilidade, as inúmeras e importantes missões que nos estão destinadas.

11 comentários:

Dulce Braga disse...

Mike
Dá uma espiada no Sabor de Maboque p/ matar saudades!:)

Luísa A. disse...

Mike, tem razão, os países sobrevivem aos maus governantes. É por isso que ainda aqui continuamos, já que de maus governantes não estamos, em quase nove séculos de História, nada mal servidos. Ainda assim, há o «sobreviver» e o «viver». E nós continuaremos apenas a sobreviver como país enquanto não tivermos quem nos gira, competentemente, a «coisa pública». Até porque, entre nós, é sabido que a «coisa pública» é quase tudo.
P.S.: Gosto dessa noção de herói, que me lembro de também ouvir ao meu Pai. Mas é verdade que, por estes dias, requer mais força de carácter o cumprimento escrupuloso dos deveres de cidadão do que os de soldado. Sobretudo, porque o cidadão não tem um, mas muitos inimigos pela frente e difíceis de identificar.

Mike disse...

Dulce,

Já lá fui. Uma malvada, é o que você, sabia? :))

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Luísa,

Sabe (estou certo que sabe) que não tenho como não concordar com o seu comentário. Mas, ultimamente, tenho ouvido tantos disparates desculpabilizando outros tantos "à conta" dos maus governantes que até assusta. É verdade que o cidadão tem muiutos inimigos pela frente mas não pode, nem deve, desfocar acerca de alguns princípios e ética.

Bacouca disse...

Mike,
Tem toda a razão: o exemplo vem de cima (ou deveria)mas não nos podemos queixar dos governantes que temos: merecemo-los!O fácil o imediato, o que dá para todos, o que passa por democrático, o que está "benzinho" e mediano. Não fazer ondas, ceder, ir pelo mais ou menos, vale tudo desde que não chegue a nós o incómodo.
Caraças quando aparece outra padeira de Aljubarrota?!
Xi

mike disse...

Eh pá, Bacouca, já não se fazem padeiras como a de Aljubarrota...
Um xi.

estouparaaquivirada disse...

Mike,
Gostei muito do seu post.
xx

Lina Arroja (GJ) disse...

"Os países sobrevivem a maus governantes, mas as sociedades dificilmente sobrevivem a maus cidadãos."(sic)
Mike, esta frase com a qual concordo e discordo leva-me a perguntar-lhe: então não é uma obrigação dos cidadãos que não se querem maus,passarem a querer eleger gente que os faça viver em lugar de sobreviver e não é igualmente dever dos maus governantes não se voltarem a ver reeleitos por cidadãos sobreviventes?

Não ficou baralhado pois não, colega? É que o assunto dava pano para mangas ;)

mike disse...

Obrigado, Papoila. :)

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GJ,

Nada baralhado, Colega. :)
Mas devo dizer-lhe que a Senhora é uma manipuladora, GJ. Essa pergunta que coloca foge, em meu entender, ao contexto inicial. Ou seja, eu diria que sim, que é obrigação, mas não é isso que está em causa. O que está em causa e que me levou a escrever o texto é o facto de ultimamente e com uma frequência preversa, ouvir "eh pá claro que o gajo fez isso... estavas à espera de quê? os gajos que mandam também fazem, pá". E isso, GJ, deixa-me apreensivo. Mas fico por aqui que o assunto dava, de facto, pano para mangas. :))

Lina Arroja (GJ) disse...

Eu percebo o que quis dizer, mas aquela frase ficou-me no espírito.:-)

fugidia disse...

Mania esta de nos desculparmos com os outros, hein?
Tagore já o dizia, se fazemos sombra no nosso caminho, é porque há uma lâmpada em nós que ainda não foi acesa...
:-)

Mike disse...

GJ,

A Colega queria era baralhar-me... ou está a pensar em fazer uma camisola com grandes mangas? (muitos risos)

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Fugidia,

Tagore era um homem sábio, o pior é quando se fundem as lâmpadas. (risos)

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