Este texto, que considerei envolvente, arrebatador e extraordinariamente bem escrito pela Leonor Barros, aguçou o meu apetite e vontade de ver Invictus, estreado há poucos dias. A minha opinião sobre Nelson Mandela registei-a há cerca de três anos, quando escrevi “… principiei a leitura de Longo Caminho para a Liberdade, a autobiografia da personalidade pública que mais admiro e quase venero. Nesse Longo Caminho, um elevado e sublime exemplo de vida sobrepõe-se à exemplar referência política, retratada num texto admirável com um perfume poético, onde um homem simples coloca a si próprio uma missão por muitos considerada impossível, mas que tornou possível o milagre da reconciliação de uma nação: libertar ao mesmo tempo o oprimido e o opressor”. Do râguebi sou um incondicional apaixonado e ex-praticante, e revejo-me na célebre frase que o retrata como um jogo de arruaceiros praticado por cavalheiros, contrariamente ao futebol, um jogo de cavalheiros praticado por arruaceiros. Reviver uma parte, por mais pequena que fosse, da vida desse grande homem que foi, e é, Nelson Mandela, e reviver o mítico Campeonato do Mundo de Râguebi de 1995, numa história levada para a tela pelo Clint Eastwood, produtor e realizador de Invictus, o cineasta de filmes marcantes como Mystic River, Million Dollar Baby, Letters From Ivo Jima, Changeling e Gran Torino, já seriam motivos suficientes para me levar a ver Invictus. O texto da Leonor perfumou o caminho que me levou até ao cinema. Para, em meu entender, ver um dos piores filmes do realizador que tanto admiro. As expectativas, quiçá demasiado elevadas, não explicam o desapontamento. Salvaram-se as interpretações, sem grande louvor, de Morgan Freeman e Matt Damon, num filme surpreendentemente fraco e pobre, com Clint Eastwood a milhas, muitas milhas do que nos habituou recentemente, no seu melhor papel que é atrás da câmara. Retenho na memória, pelas piores razões, a cena da visita dos jogadores da Selecção Sul-Africana à cela de Mandela. Um momento em que o realizador desperdiçou mais uma oportunidade, entre tantas, de nos transmitir a grandiosidade do momento, quedando-se pelo banal. Inexplicável. Foi inevitável ter-me lembrado do texto perfumado da Leonor. E sorri perante o impulso de me conceder a liberdade de executar uma dupla condenação, ao texto e à autora. Afinal foi cometido apenas um delito de opinião. E delitos como o da Leonor têm mais desculpa e são mais gratificantes que a realização de Clint Eastwood em Invictus.
Nota:
A primeira vez que li o texto da Leonor Barros foi no Delito de Opinião (daí a referência ao título) mas não consegui fazer o link para o blogue correspondente, apenas conseguindo fazê-lo para A Curva na Estrada. Concerteza por manifesta inaptidão da minha parte.
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10 comentários:
Para mim faltou Alma ao filme.
(o único momento com alma foi a boa leitura do poema, que é belíssimo)
Obrigada pela sua crítica, Mike. Vou aguardar pela saída em DVD. :-)
Mike,
Por amor de Deus porque não deixou a sua opinião, por mais uns dias no segredo dos deuses? Paciência! Também perfume só tenho um que me faria correr...).
Desconversando: Mandela é dos homens mais marcantes do Mundo e eu estou com curiosidade de ver como o Clint aborda a sua biografia.
Quanto ao râguebi acho um jogo para cavalheiros de barba rija.
Xi
Fugidia,
Creio que resumiu bem e numa só frase o que tambem senti em relação ao filme. :)
...................................
Luísa,
Oiça mais críticas. Sabe que eu sou uma pessoa que se prende à parte técnica do cinema. E olhe que Invictus não tem violência. ;)
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Bacouca,
Mil perdões. Mas como disse à Luísa, não se fie apenas em mim. Mandela... ah Mandela... eu venero esse homem, mas temo que a sua curiosidade sobre a abordagem do Clint à sua biografia se transforme em decepção.
Um xi.
Fui ver o filme como fã de raguebi e pai de um ex-jogador, e achei as cenas do campeonato do mundo de uma pobreza contristante.
"Felizmente" não sou cinéfilo o suficiente para me ater a pormenores técnicos, pelo que me ponho na posição de espectador que gosta ou não gosta. Talvez, como o Gran Torino, tenha achado o filme redentor, por assentar na vida de um dos poucos Homens verdadeiramente bons do nosso tempo: vi o perdão, a condução de um país a valores mais altos, a inspiração, a vontade de ser maior.
Acredito que o filme seja pobre. Quando assim é, mais vale fixarmos alguns pormenores que ficarão - o poema, os dois actores, a mensagem que cada um lê.
JB,
A certa altura segui o seu conselho. Fixei-me na história, na grandiosidade do perdão e da inspiração, na fé e na vontade de ser maior. Um abraço.
p.s. - com que então fã do "jogo do melão"... muito me conta...
Pois é Mike, comecei a ver raguebi há muitos anos - talvez há mais de 30 - quando o País de Gales (minha equipa de eleição) era um potentado. Ainda é a equipa preferida, mas já não é potentado...
Join the team, JB... Phil Bennett, Gerald Davis, Gareth Edwards, JJ Williams... sei lá... eram todos muito bons. :)
Vi ontem Gran Torino e claro que não se podem comparar os dois filmes, Mike, mas não porque sejam os dois de Clint Eastwood, apenas porque são cabalmente diferentes e não têm nada a ver um com o outro. O facto de Invictus ser baseado numa história verídica pode modificar por completo o filme. Como de técnica não percebo nada acho que a metáfora daquele momento da História da África do Sul está bem conseguida, bem como a grandeza e nobreza de carácter de Nelson Mandela, único na capacidade de perdoar. E o resto está no meu texto. Mas muito obrigada pelos elogios à minha escrita. Peço desculpa por só agora responder mas tenho andada meio arredada dos blogues.
Leonor,
Os elogios são mais que merecidos. Quanto ao filme... ;)
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