21.9.08
Hipocrisia tem mais um sinónimo: proposta.
Já li matérias muito interessantes e muitíssimo bem escritas sobre o assunto, mas também já tive a oportunidade de confessar que o mesmo não me suscita qualquer tipo de interesse. O assunto é o divórcio e a proposta de lei que me dei ao trabalho de averiguar para não dizer mais nenhum disparate para além dos que a seguir possam ser ditos. Mas não foi por me ter colocado ao corrente do conteúdo da proposta que a minha opinião mudou sobre este assunto. Este texto poderia resumir-se ao título que escolhi. Tudo não passa de uma grande hipocrisia. O casamento é celebrado por um contrato antes mesmo de ser assinado pelas partes que nele participam. Como acontece, por exemplo, numa empresa ou numa sociedade. Quando uma das partes não deseja fazer parte do projecto o que se faz? Dá-se por findo o contrato. Não me parece que haja grandes diferenças no que diz respeito ao casamento. Quando uma das partes não quer continuar casada o que deve fazer é divorciar-se. Poupem-me os que têm a intenção de me dizer que não é assim tão simples, ou de me falar sobre outras coisas muito importantes, sejam elas os filhos, se os houver, ou bens materiais. Quem não quer manter-se casado deve ter liberdade para se divorciar de imediato. Os filhos e os bens materiais são fenómenos que estão, tanto quanto sei, enquadrados na lei. Quer se queira, quer não, neste caso são assuntos que devem ser tratados à parte. Uma proposta de lei para defender os mais desprotegidos? E quem são eles? Serão também os que se fazem passar por coitados no momento do divórcio? Serão os filhos? Não me parece. Esses, se não foram verdadeiramente e genuinamente protegidos até ao divórcio, não o serão com propostas de lei. O Estado é hipócrita porque só manifesta o seu interesse pelo fenómeno quando se fala de divórcio, não antes ou durante o casamento. E as leis para defender os interesses e os lesados já existem. Há lugar a falar de valores? Que valores? Os que já se abandonaram ou não foram seguidos durante o casamento? Não façamos confusão. Uma coisa é desejar ou decidir estar num casamento de corpo e alma independentemente das vicissitudes que ele representa. Outra é não querer permanecer casado. Quando isso acontece, nada mais há a fazer que divorciar-se e poder fazê-lo rapidamente. O divórcio litigioso é uma hipocrisia legal, com contornos que adivinho obscuros, sustentados em cedências de outrora, do Estado ao Vaticano. O assunto mais importante a debater não é o divórcio. É o casamento. No divórcio aparecem muitos advogados, conselheiros matrimoniais, legisladores e psicólogos gurus. E antes das pessoas, jovens na sua maioria, casarem? Não são precisos. Basta a experiência e em muitos casos o exemplo ou o conselho dos pais. Que casaram há 20 ou 30 anos atrás, noutros tempos, com outras realidades e mentalidades. Vamos aos valores outras vez? Quem consegue garantir que o exemplo de um casamento hipócrita, envolvido em mentira, falta de respeito e adultério seja seguido pela geração seguinte? Por isso continuo a dizer que o mais importante é discutir-se o casamento, não o divórcio. Não sou dos que afirmam nunca ter sido hipócrita, mas neste caso não contem comigo.
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11 comentários:
também acho que o importante é isso, quando uma das partes não quer estar ligada, nada a fazer. Daí me irritar a discussão sobre o assunto, não há conversa..
Concordo que o divórcio deve ser rápido e que não se pode obrigar ninguém a ficar casado se não o quiser, claro. Arrastar um casamento que pelo menos um dos conjuges não quer é estúpido e hipócrita. Mas há outros aspectos, mais subtis. Não falo de bens materiais ou de pensões às "ex", coisa que nunca tive nem quis e que me parece muitas vezes um abuso da parte das mulheres. Mas preocupam-me as responsabilidades perante os filhos, se os houver, porque o que acontece frequentemente é o pai esquecê-las alegremente se não for obrigado a cumpri-las. Conheço n casos assim, e não devo ser a única. Os termos do acordo de divórcio têm que ser claros para que o cumprimento destas responsabilidades seja assegurado, e nem sempre isso é pacífico no casal. Ou seja, nem sempre é rápido.
Estou em maré de fazer vontades, Júlia. Por isso não demorarei muito a mudar de assunto. :-)
Ana, divórcio é uma coisa. Poder paternal é outra. E já existem leis que o regulamentam. Arrastar um assunto por causa de outro é que não faz sentido. Se o pai (ou a mãe) quer "esquecer" as responsabilidades perante os filhos acabarão sempre por esquecê-las independentemente do divórcio ou não. E quantos "espertos" conheço que após o divórcio as esquecem de imediato. Neste caso o c... não tem a ver com as calças.
Sim, isso é verdade. Mas o poder paternal é normalmente associado ao acordo de divórcio. Se houver acordo, claro.
:-)
Bom, agora não comento. Talvez mais tarde. É que tenho tanto para dizer que... pois!
:-)
Não resisti.
Independentemente de todo o arrazoado bem pensante e eivado seguramente de boas intenções, não posso, de todo, concordar com a afirmação que num qualquer contrato quando uma das partes não lhe interessa mais mantê-lo põe ponto final e pronto. Não é bem assim, como devem saber. Existem regras a cumprir, muitas vezes penalizações, consequências...
E, quer queiramos quer não, mesmo ponderando estritamente o casamento civil, são interesses pessoais, demasiado pessoais, que estão em causa e não um qualquer acordo meramente patrimonial.
Fala-se muito da parte que não quer permanecer casada e não deve ser obrigada a tal por ser violento para ela. Não quer mais, pronto, ponto final.
E a parte contrária? A liberdade de escolha do primeiro não estará a colidir com a liberdade do segundo?
Não será importante um ponto de equilíbrio? E quem o encontra? O que quer ir embora e vai sem mais? Eu não sei. Só me interrogo? Talvez porque não estou nem numa posição, nem noutra. Mas receio que o meu ponto de vista (a existir) mudasse consoante essa posição (sei que não é bonito, mas é o que sinto).
E fez muito bem em não resistir, Hi. A liberdade de escolha de um estará sempre a colidir com a liberdade do outro. A minha experiência diz-me que quando uma das partes não quer estar no casamento há muito pouco que a outra possa fazer. A não ser reger-se pelo respeito e manter a dignidade. Congratulo-me, sinceramente, por não estar nem numa nem noutra posição, mas também lhe posso dizer que muito poucas coisas na vida, a morte é uma delas, são definitivas.
O divórcio não me parece que seja. :-)
Caro Mike, a concepção de um casamento como mero contrato não é extensiva ao religioso, que, lembre-se, se quer um Sacramento.
E nnos outros contratos não há violação com culpa dos deveres emergentes? Por que é que a irresponsabilidade deverá ser exclusiva deste?
Abraço
Caro Paulo, mesmo não se tratando do religioso, entendo que num casamento se quer um sacramento, já que os votos e o que está em causa assim recomendam. Quanto aos outros contratos, tal como no casamento, nem sempre há violação com culpa dos deveres emergentes. E a irresponsabilidade não é exclusiva deste.
Abraço.
Meu caro Mike, já estou quase arrependida de ter casado. Se soubesse que ia haver esta polémica toda... ;-)
Ora, Luísa... (risos)
Abençoado humor.
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