28.2.08

Bom fim-de-semana


Jazz Favorites (I). You first, Mr. Peterson.


Creio que acontece a todos, associar um instrumento a algo, a uma situação, ou a alguém. Eu, quando penso em piano, ou quando vejo um piano, invariavelmente e a maior parte das vezes, que a estatística mental neste caso não me atraiçoa, penso em Oscar Peterson. A culpa é da minha mãe. O avô, a avó e o pai dela, fosse com uma pauta à frente ou de ouvido, tratavam as teclas do piano com o mesmo àvontade e cumplicidade como quem trata um conhecido ou amigo de longa data. Eu não, fiquei-me pelo prazer auditivo. Prazer redobrado quando escuto o som sublime desse instrumento de cordas afagado pelas mãos mestras e pelo sentimento único do incomparável Oscar Peterson, considerado por muitos como o maior pianista de jazz de todos os tempos. Lá em casa, a mãe, e quem sou eu para a contrariar com a voz dos críticos por mais afamados, credíveis e reputados que sejam, dizia eu, a mãe sempre disse que o maior foi Art Tatum. Desta vez, e às escondidas que ela não está para aí virada para blogs, a minha opinião será soberana. O maior foi Mr. Peterson. Com ele ao piano, começam alguns dos grandes nomes do jazz que eu mais gosto, o dos anos 50.

E.T.?


Et c'est quoi pour vous une femme mistérieuse?


27.2.08

Objectos de culto (XIII). Pão, mas de Forma.

A necessidade de abastecimento de determinadas peças nas linhas de produção do Carocha, levou os engenheiros da Volkswagen a desenharem uma plataforma automóvel destinada ao transporte interno na fábrica. Em 1947, ao aliar a plataforma móvel já concebida, com um esboço que o importador holandês Ben Pon fez na sua própria agenda, surge um novo modelo, cujo início de produção em série acontece em 1950. A partir daí... bom, a partir daí não é preciso dizer mais nada sobre o Pão de Forma da VW.

No stop dancing...

... porque me lembrei de uma pessoa de quem gosto, que vive em Londres.
I found you. (Só para quem gosta de house music, aqui pela mão de Mr. Axwell).


Corre menina, corre. Corre livre sem parar, corre com prazer.

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa…

Liberdade (Fernando Pessoa)

26.2.08

Palavras de que não gosto

Ao desafio lançado pelo Helder, aqui vão 12 (caramba, tinham logo que ser 12) palavras de que não gosto. Não pensei muito e confesso que poucas alterações foram feitas à primeira lista que escrevi.

Não gosto de balofo, mas não tenho nada contra gordo. Como detesto xicos-espertos, não gosto de vivaço e fico sempre de pé atrás quando me falam de surpresa, por isso não gosto dessa palavra. Também não gosto nada de gaja, é muito vulgar. Não gosto de aborto, porque não gosto e também não gosto de racista, porque não gosto mesmo. Tenho sempre vontade de perguntar “diz lá o que queres, mas é”, por isso não gosto de insinuar e de sensível também não, pois fico com a sensação de darmos sempre mais a alguém do que ela precisa... e moderno, o que é isso? não gosto! Faltam só três: perfeito (pois, está bem...), vedeta (chega-te para lá) e ironia (por favor, poupem-me).

25.2.08

Theobroma cacau


A árvore é equatorial e tropical e é frágil, delicada, sensível e vulnerável. A fruta deve ser tratada imediatamente após a colheita e o processo de fermentação começa de seguida, e é rápido. A secagem aconselha-se natural, ao sol, devendo ser evitado o processo artificial. Começa por se chamar cacau, esse mesmo que Cristovão Colombo provou numa das suas viagens ao Novo Mundo e apresentou depois ao Velho Continente, antes de se transformar no alimento divinal que conhecemos como chocolate. Consta que as suas origens remontam ao ano de 1.500 AC, tendo sido a civilização Olmeca, seguindo-se os Maias e Aztecas, os primeiros a usufruir do fruto do cacueiro. Chocolate... nham, nham... agora percebo porque é que em grego o cacueiro se chama theobroma (alimento dos deuses). Se é o alimento dos deuses, como alguém pode dizer que faz mal ou é pecado? Não tarda vou ao frigorífico moder mais um quadradinho. E vou de consciência tranquila, sabendo que obterei o perdão divino por provar, e me deliciar, com o alimento dos deuses.

24.2.08

Objectos de culto (XII). Tem mesmo que ser?

Fazer o quê? Se é de culto, é mesmo de culto. Mas não hei-de escrever o nome do clube que joga neste estádio, cujo nome não escreverei também. Mas é de culto não é? Até há quem lhe chame catedral. Vá-se lá saber porquê...

A sério que entendo, mas...

Confesso que não me dei ao trabalho de pesquisar de forma que uma cronologia histórica enriquecesse o conteúdo. Calculo que os tempos modernos, exigentes e que transformaram o lado práctico da vida em aborrecimento, num quase permanente desprezo pelo detalhe, com a sedução colocada no canto obscuro da vulgaridade e a surpresa numa espécie em vias de extinção, tenham contribuído para que o cinto de ligas fosse substituído pelas enfadonhas e desengraçadas collants ou pelas, essas mais sexys, meias com silicone que as ajustam e seguram às coxas. A correria começa logo de manhã, há filhos para vestir, pequenos-almoços para dar, horários para cumprir... caramba, há que ser práctico. Entendo, a sério que entendo. Mas...

Romance platónico.

Ela é mágica, com um corpo feito de sonhos. Nela perdemo-nos na tentativa vã de procurarmos um sinónimo do sentimento de estar lá, de estar ali. Sentimo-la bucólica e ela invade-nos de nostalgia, de memórias de outros lugares. Parece flutuar sobre pequenos murmúrios, sussurros que seguimos involutariamente com o olhar perdido no Grande Canal. É sedutora, uns dias misteriosa, outros sorridente, com a alma espelhada na sombra altiva da Torre Campanile. Com ela tem-se um affair inesquecível, vivendo na ilusão de a termos só para nós eternamente. Tem um humor variável, de manhãs madrugadoras, sombrias e ameaçadoras, e dias preguiçosos, ensolarados, sorridentes e sensuais. E noites em que sucumbimos ao seu charme. A ela nos entregamos com pudor, sem ela nunca se entregar. Vivêmo-la com uma agitação interior sem nunca a possuirmos, num romance platónico, embriagados pela beleza e magia, e guardando-a numa memória que o tempo não consegue apagar.

23.2.08

Objectos de culto (XI). Néctar dos deuses.

As uvas são do Douro, as caves em Vila Nova de Gaia, mas ao vinho foi-lhe dado o nome da bela e invicta cidade, a partir da segunda metade do século XVII. Os súbditos de Sua Magestade reclamam a sua criação suportando-se do facto de terem sido os mercadores britânicos a adicionarem brandy ao vinho da região do Douro. Reclamam mas devem ficar-se por aí, porque o processo que caracteriza a obtenção do precioso néctar era já conhecido antes do início do comércio com os ingleses. Consta que na época dos Descobrimentos o vinho era armazenado desta forma para se conservar durante as viagens. Pessoalmente, não faço questão de saber se é do clima, da fermentação ou da adição de aguardente vínica neutra. Basta-me saboreá-lo e, ao contrário do vinho que não é do Porto, prefiro o Branco ao Ruby ou ao Tawny.

Schiu... silêncio, que ele está a ler.

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. (Jorge Luís Borges).

Sexto sentido

Falou pouco mas disse o que tinha de dizer. O que queria dizer. Ouviu-o, riu-se e disparou sem malícia, sem ironia... estás com problemas de consciência é? não, os homens quando têm problemas de consciência envergonham-se, calam-se e escondem-se atrás de presentes, de preferência jóias, não atrás das palavras. Voltou a rir-se com a resposta e despachou-o ao telefone, que estava ocupada. Agradeceu-lhe, sem lhe dizer, o facto de não lhe ter feito falar mais. Não lhe apetecia, e o queria dizer estava dito. Sentiu que ela sentira as palavras, mais do que as ouvira. Há alturas em que o sexto sentido (delas) dá jeito (aos homens). Sorriu.

R&B e Funk em francês, à partida, não soa lá muito bem, mas...


Compositor e cantor, cidadão canadiano, nascido na Alemanha, e que passou grande parte da sua infância no Rwanda, terra natal dos seus pais. Terra natal e jazida depois do genocídio em 1994. Activista pacífico e colaborador da Cruz Vermelha Canadiana em defesa das crianças vítimas da guerra. Porque, como Corneille faz questão de relembrar, ele “a jamais oublié ses racines”. Bem sei que R&B e Funk em francês não soa, à partida, lá muito bem. Mas na voz dele soam, principalmente no album Parce qu’on vient de loin.

22.2.08

Quem se sente ultrajado?


Pela voz do embaixador americano Zalmay Khalilzad, sentem-se os EUA, que responsabilizam, legitimamente, o governo Sérvio pela inoperante protecção diplomática. Os distúrbios e actos de vandalismo perpetrados contra a embaixada americana no Kosovo mereceram as mais severas críticas por parte de Dana Perino, porta voz do presidente George Bush, bem como as inadequadas medidas de segurança, exigíveis e esperadas. Pela voz dos sérvios, sentem-se eles próprios, com a declaração de independência do Kosovo e com a atitude e reacção de algumas potências estrangeiras, céleres no reconhecimento do novo estado. Não conheço a fundo os contornos geopolíticos mas tenho uma noção da configuração histórica recente, e a reacção popular, assim como as declarações de Tomislav Nikolic, apesar da seu reconhecido fundamentalismo, “sem Kosovo não há Sérvia, hoje somos todos o mesmo, hoje somos todos um só”, levaram-me a pensar o que sentiria com uma hipotética declaração de independência da Madeira... um ultraje, acho eu.

Objectos de culto (X). Who cares what time it is?


Bom fim-de-semana

20.2.08

Objectos de culto (IX). Deux chevaux, The Duck, 2 Cavalos...




Nasceu e foi baptizado sob o nome de código TPV (trés petite voiture). Depois chamaram-lhe Ciclope (um único farol na dianteira). Nós conhecemo-lo carinhosamente como 2 Cavalos, o resultado de um sonho e do desejo de André Citroen em produzir um carro acessível a todas as bolsas. Memorável. Eterno.

Cinco anos e meio? Cinco anos e meio?...


O princípio de vasos comunicantes, numa óptica de leigo não especialista que o estudou integrado na disciplina de química há muitos, muitos anos atrás, designa a ligação de dois recipientes que se comunicam entre si. Quando se tem um único líquido, ou mesmo dois misturáveis, em equilíbrio, conclui-se que a altura alcançada por esse líquido em equilíbrio nos vasos comunicantes é a mesma. E para todos os pontos do líquido que estão à mesma altura, obtém-se, também, a mesma pressão, sendo essas propriedades decorrentes da Lei de Stevin. O que importa aqui é a questão do equilíbrio, ou melhor, o princípio dos vasos comunicantes. Nós, por incúria, irresponsabilidade ou mesmo incompetência, esquecemo-nos de aplicar um princípio básico da ciência às mais elementares situações que nos rodeiam. Talvez por pertencermos à geração do “o que é que isso interessa? não vou ser químico...” e nos termos alheado do conhecimento, ou seja, química, ou quase tudo, é cultura geral. (Raios, que estou a perder a minha capacidade de resumo). Tudo isto para chegar onde? Li há dias que um ex-monitor da Casa Pia foi julgado por 32 crimes de abuso sexual de duas crianças surdas-mudas da instituição. Um desses crimes foi provado ser de abuso sexual de criança na forma consumada, entre outros “menos” graves, e por isso foi condenado a cinco anos e meio de prisão. Cinco anos e meio de prisão!... O que terá falhado aqui? A Justiça, direi eu, sem hesitar. Caramba, investe-se o dinheiro do contribuinte em investigações (e está certo); investe-se dinheiro dos contribuintes em magistrados e tribunais (e é acertado); para no fim ficarmo-nos por uma pena ridícula e imoral. As coisas são pensadas e as pessoas agem de forma estanque, sem um fio condutor, sem rigor, sem uma visão ampla dos fenómenos e das situações, sem focar num objectivo único e essencial. De que adianta uma investigação profissional e rigorosa, seguida de um juízo criterioso, para a Justiça falhar e ser deficiente no fim? Cinco anos e meio?... por abuso sexual de um menor? Cinco anos e meio?...

Objectos de culto (VIII). À prova de vento.

Assim ficou conhecido e famoso o isqueiro que George G. Blaisdell criou e produziu em 1933, um ícone na indústria cinematográfica americana (lembrei-me de repente de Reservoir Dogs) e que fazia parte do equipamento de combate dos militares norte-americanos na Segunda Grande Guerra e na do Vietnam. Tanto quanto sei, a única marca no mundo com garantia vitalícia. Tenho uma meia dúzia deles em casa. Não sou homem de guardar tralha, mas o querem que faça? não consigo desfazer-me deles, num acto de gratidão inexplicável, depois de tantos e tão bons serviços prestados.

Por seres tu, dir-te-ei que sim, ora.

Sabes, meu querido, queria pedir-te um favor mas não queria que isso complicasse a tua vida que a sei complicada que baste. Diz-me ao que vens e por seres tu dir-te-ei que sim. Estou a falar a sério, se for complicado dizes-me que eu entenderei. E eu também estou a falar a sério, senhora. Queria pedir-te que me levasses a ver a Aninhas, ela está sozinha, os médicos recusam-se a operá-la outra vez ao coração e não sei quanto mais tempo viverá. Isso não complica a minha vida, antes enriquece-a. Mas já tens tanto com que te preocupar... Pois já, de facto é verdade, mas desde quando é que isso que me estás a pedir é mais uma preocupação?

Despedimo-nos com um beijo e com um xi-coração apertado, daqueles que ela* gosta, e mandei-a deitar-se que aquilo não eram horas de estar a pé. Riu-se, uma gargalhada infantil, prometeu-me que obedeceria e desligou.

* Pessoa encantadora, mulher admirável, esposa querida mesmo na viuvez, mãe que é um exemplo vivo para um filho, a quem nada devo e devo tudo.


19.2.08

"Espero que uma pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair".

Haverá porventura imagens mais marcantes que aquelas que as objectivas de Sebastião Salgado captam? As fotos deste admirável fotógrafo, representante especial da UNICEF colocam-nos lá, nos mesmos lugares onde estão os desprotegidos convivendo com as suas desgraças e misérias, ouvindo os seus prantos silenciosos, chorando com eles as suas desventuras. Fotos onde a natureza, vigorosa e impiedosa, nos faz sentir pequenos e inúteis.

Eu acho que não. Que são imagens únicas, por isso gosto de Sebastião Salgado. Da crueza sincera, da atroz melancolia, da beleza desfigurada, da expressão vazia e olhar sofrido.



17.2.08

“I fly like a butterfly and I sting like a bee”.

Once you did, Mr. Ali. E os seus adversários que o digam.
Nasceu Cassius Clay a 17 de Janeiro de 1942, mas a história recordá-lo-à como Muhammad Ali. No boxe aos campeões é entregue um cinto, a Muhammad Ali foi já entregue uma coroa, a coroa de rei da nobre arte. Marcou uma era e com o seu nome se escreveram páginas da História do desporto. E não apenas através dos seus punhos (o campeão sempre defendeu que boxe é 50% cabeça, 30% pernas e apenas 20% punhos). "Athlete of the Century" (GQ), "Sportsman of the Century" (Sports Illustrated's), "Sports Personality of the Century (BBC), "World Sportsman of the Century" (World Sports Award's), em 2005 recebeu a mais alta condecoração civil dos EUA, a “Presidential Medal of Freedom”.

Hoje, com a mesma coragem, elegância, convicção e devoção com que sempre se entregou em cima do ringue, Muhammad Ali “The greatest of all time”, dedica a sua vida a inúmeras causas sociais, contribuindo no sentido de tornar o mundo melhor para os mais necessitados. São assim, os verdadeiros campeões.

16.2.08

He had a dream.

Soube, por um mero acaso a que os afazeres profissionais me conduziram, que segunda-feira, dia 18 de Fevereiro, é feriado nos EUA. Um feriado nacional instituído em 1986 e cumprido em todos os estados desde 1993. Não por ser dia 18 do segundo mês do ano, mas por ser a terceira segunda-feira do mês de Janeiro, dia que passou a denominar-se Martin Luther King’s Day. Interroguei-me, mas rapidamente desisti, na tentativa de descobrir uma razão plausível para a escolha do dia, atendendo a que o Dr. Martin Luther King Jr, se fosse vivo, teria comemorado o seu aniversário ontem, dia 15. Mas isso não é relevante. Importante, e justíssima, é a homenagem ao mais jovem Prémio Nobel da Paz de sempre, que há cerca de de 45 anos, em frente ao Memorial Lincoln, em Washington, proferiu o seu mais famoso discurso durante a marcha pela igualdade de direitos e pela liberdade. O homem a quem o grito dos maus não preocupava, e sim o silêncio dos bons. E para quem a pergunta mais urgente a ser feita nesta vida era “o que fiz hoje pelos outros?”

Objectos de culto (VI). Capri... c'est pas fini.




Objectos e culto (V). “Belo! Lembra uma vespa”...

... Exclamou Enrico Piaggio ao deparar-se com o veículo motorizado de aspecto revolucionário que o engenheiro aeronáutico Corradino D'Ascanio havia projectado e construído. Desde 1946 que esta bella signora é uma cidadã do mundo.


12.2.08

Vão em frente, filha.

Jovens, todos eles jovens. Abancados (ou acampados?) cá em casa, numa casa que mais parecia a Pensão Estrelinha, em dias e noites que pareciam não ter fim. A relembrarem-me como nascem projectos. Sim esses mesmo que começam com um sonho e que damos início com paixão, esses mesmo a que nos entregamos generosamente, com devoção e crença e sem sabermos como, onde e quando acabam ou para onde nos levam. Apenas porque os sentimos como sendo nossos e quando isso acontece, contrariando o Pedro Abrunhosa, entregamos a alma para além do corpo. A minha mais velha sei que o fez, que ela não sabe fazer as coisas pela metade. O número 0, dedicado a etnias, saiu no dia 8 deste mês e 48 horas depois lá estávamos os dois, sentados à mesa do Tico-Tico, a questionar, criticar, olhando para os detalhes, onde se devia melhorar... A Ncontrast nasceu para ser uma revista de cultura visual que aborda temas como Artes Plásticas, Arte Urbana, Design, Fotografia, Ilustração, Multimedia e Letras. Bimestral, de distribuição gratuita em cerca de trezentos e cinquenta pontos do país. São doidos, pensei no princípio. São uns bravos, concluí quando ela me abraçou e me passou um exemplar impresso para a mão. Digo-lhe o quê? Olha, ide em frente filha, tu e todos os outros bravos que meteram mãos à obra, disse-lhe (já) eu, com indisfarçável orgulho.

11.2.08

Objectos de culto (IV). Miss Betty.





















"Though Betty bowed out as a headliner in 1939, her popularity remains as intact as her boop-oop-a-doop. Maybe the appeal lies in her sassy independence, in the fact that she's the only female cartoon character who's not a foil for a male. Call it fatale feminism." (Entertainment Weekly)

Objectos de culto (III). Um momento de cumplicidade único. Um cortejar demorado, sem pressa.

Ainda hoje, na Fábrica de Charutos Partagas em Havana, se mantém a tradição do leitor de serviço ler para um microfone, da primeira à última página, o Granma, jornal do regime que foi buscar o nome à embarcação que trouxe de regresso a Cuba Fidel Castro, em 1956. Mantém-se a tradição porque, reza a lenda, no final do século XIX, princípio do século XX, já havia um leitor de serviço para os trabalhadores das plantações, só que nessa altura o que se lia era Shakespeare e Alexandre Dumas. Daí os nomes dos célebres charutos Romeo y Julieta e Montecristo. Actualmente talvez o nome Cohiba seja o mais conhecido quando se fala de um puro. Cohiba, uma marca que surgiu em 1966, sendo registada três anos mais tarde, e que quando em 1982 apareceu nas melhores tabacarias do mundo, já era conhecida como um "Embaixador Extraordinário" da nação cubana, pois era oferecido como presente diplomático, além de ser o charuto preferido de Fidel Castro. O charuto tem alma. A sua degustação é um ritual sem igual que requer tempo. Um momento de cumplicidade. Um cortejar demorado, sem pressa, saboreado minuto a minuto. A simples contemplação da caixa, onde cada charuto é único, já estimula a imaginação. Abri-la cuidadosamente e olhá-los perfeitamente alinhados e em harmonia dá início à descoberta de um aroma libertário, uma mescla de tabaco e madeira de cedro. Depois há o escolher, o acariciar, o escutar a melodia das folhas quando apertadas entre os dedos, antes do inevitável corte, feito a preceito. De seguida há que desfrutá-lo... calmamente... e ele entrega-se a nós como uma gueixa, bela em seu próprio estilo, graciosa, flexível e forte, num acto de submissão que exige toda a atenção.

10.2.08

Objectos de culto (II). Um ritual simples e aprazível.

Tirava-se o LP da capa, punha-se o vinil no prato, pegava-se cuidadosamente no braço, como quem segura graciosamente o braço de uma senhora antes de iniciar uma dança, virava-se a patilha para o lado que se queria (78, 33 ou 45 rotações) e, cuidadosamente, pousava-se a agulha no sulco do disco. O resto era o desfrutar do som gordo e amigo, muitas vezes com uns estalidos e chiado à mistura. Igualzinho à vida. Nesta desordem que chamamos progresso, foi-se o vinil. Digitalizámo-nos e somos vítimas das “armas espertas” daqueles que manobram a tecnologia das indústrias. Já vamos no MP3, nome que bem define o torpedo arrasador que nos acabou com a vida. Já nem falo das capas dos LPs, uma arte que também acabou. Até as capinhas dos 45 rotações, agora chamados singles, como correctores safados registados com nome falso num motel de segunda, até elas davam para virar arte, bastando para tal imaginação e engenho. O vinil está de volta? Ainda bem! Os DJs nunca chegaram verdadeiramente a virar-lhe as costas... pode ser que um dia possamos ter de volta Artie Shaw, Charlie Parker, Sarah Vaughan...

Objectos de culto (I). Um Twingo dos antigos não se vende.

De tempos em tempos algumas marcas automóveis, pela mão talentosa dos seus designers e pelo arrojo de quem decide, brindam-nos com carros que se transformam em objectos de culto. Podem nunca chegar a campeões de vendas, mas colocam as marcas num patamar de desejo e admiração único. O VW Carocha (este foi campeão de vendas), o Mini, o Cinquecento, o 2CV, O DS (Boca de Sapo), são alguns exemplos. A meu ver, o Twingo também. O mercado manda que se evolua, que parar é morrer, e assim fez a Renault com o Twingo, que se mantinha practicamente inalterado desde que foi lançado em 1993 e depois de quase 2 milhões e meio de veículos vendidos. E fê-lo alinhando-o pelo ADN da família, tornando-o concerteza mais seguro, mais bem equipado, mais moderno, com um maior leque de oferta de motorizações, introduzindo mais tecnologia, etc, etc. Deve ter-lhe dado tudo de bom que a marca tem e sabe fazer, ou não seja a Renault uma das marcas mais competitivas naquela que é a vitrina tecnológica do mundo automóvel – a Fórmula 1. Hoje temos um novo Twingo, mas a marca perdeu uma das jóias da coroa. Confesso que não percebo porquê. O antigo Twingo era um automóvel único, ao qual ninguém ficava indiferente. Todos os jovens o desejavam como primeiro carro, ficava bem com uma mulher ao volante, fosse ela jovem ou avó, fosse ele estacionado por um executivo engravatado no parque de estacionamento do Ritz, ou por um surfista com as pranchas no tejadilho, na praia da Ericeira. O antigo Twingo tinha personalidade, carácter, era simultaneamente sedutor e irreverente, chic e popular. O novo Twingo é mais moderno, mas também banal, igual aos outros. Há dias cruzei-me com um e por breves instantes confundi-o com um Clio. Acho que se cometeu um erro, e não é a primeira vez que isso acontece, bastando atender às “evoluções” que foram feitas aos automóveis de culto. Algumas marcas emendam a mão, como é o caso da Fiat com o Cinquecento, outras tiveram visão. O Mini é um bom exemplo, eternizando o culto. Não tenho uma bola de cristal nem digo que não tenho dúvidas e raramente me engano, mas se tivesse um Twingo antigo, que agora deve valer muito pouco, não o vendia. Daqui por uns anos, quando o novo Twingo também já for velho, aquele com os faróis que parecem 2 olhinhos vivaços, alegres e bem dispostos, terá o preço que o seu dono quiser aceitar, não o que o mercado ditar. Até sempre antigo Twingo.


8.2.08

Haja fitas por mais anos, que a tesoura levo eu.

Temos a tendência de racionalizar as nossas escolhas porque faz parte da nossa natureza, porque apazigua as nossas incertezas e legitima as nossas decisões. Também sabemos que, na verdade, muitas das escolhas que fazemos na vida, independentemente do grau de envolvimento, foram feitas emocionalmente... depois há que as justificar, justificar o porque sim, o porque gosto, o porque me faz bem. Neste caso, nem sei como lá cheguei. E nem tenho a certeza porque continuo a lá ir... às vezes é por causa do gato de uma senhora, outras porque os assuntos de política me espicaçam, há outras ainda em que a culpa é do cinema e de bons filmes, há a vertente social e temas pertinentes como a justiça. Ah, sê honesto Mike, também há as sextas-feiras, que para aquelas bandas são as melhores sextas-feiras do burgo. Porque é que continuo e continuarei a lá ir? Olha, porque sim. Porque gramo. Gramo da sensação de toma lá uma tesoura e corta para aqui umas fitas. Consta que há gente que as corta faz precisamente dois anos... haja fitas por muitos mais anos, que a tesoura levo eu.

1.2.08

Há recados que não se deviam dar.

Bundas e passagens de modelos são coisas que, a meu ver, se afiguram interessantes desde que contextualizadas, sendo que o contexto diz respeito a cada um e admito que haja muitos e variados. Contudo tenho dificuldade em enquadrar bundas e passagens de modelos num recado do seleccionador nacional de futebol a um jogador. Porque entendo que o selecionador não deve mandar recados e sim falar com os jogadores, e porque os exemplos escolhidos são, no mínimo, de mau tom. Há gostos para tudo mas também há mau gosto. Kiss my ass Scolari, foi o meu primeiro impulso, mas depois pensei... livra, vai-te antes embora... Já me senti devedor mas há algum tempo que me sinto credor.


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