8.9.08
Palavras ditas e palavras ouvidas.
A propósito de uma conversa com uma pessoa amiga de férias nos EUA e actualmente em Miami a pegar ondas de me fazer inveja, fiquei a pensar nas palavras que são ditas e como são ouvidas. O que fazemos, não direi que é mais importante mas conta mais do que o que dizemos. Não sei se Jacques de La Palisse (consta que também se pode escrever La Palice) o disse, mas num universo de adultos a afirmação pode ser considerada uma grande palissada, pelo consenso gerado. O que fazemos é um suporte mais real para uma avaliação do que somos como pessoas. Há, contudo, palavras ditas por nós que, mediante as circunstâncias e tendo em conta o interlocutor ou o momento vivido, soam bem. Palavras ditas que até nós gostamos de ouvir, pelo impacto positivo que têm também em quem as ouve. Palavras que contribuem para, nem que seja por momentos, formar uma opinião da pessoa que as profere. Opinião positiva, claro. Palavras ditas no momento certo, às pessoas certas, no local adequado, palavras genuínas, verdadeiras e que dão som a um sentimento que nada tem de leviano ou oportunista. É a essas palavras ditas que me refiro, não a outras que têm consequências idênticas e que, mesmo não se tratando de mentiras, lhes falta genuinidade no seu conteúdo. Consideremos também, não as palavras soltas, descontraídas e agradáveis, mas as que em si encerram solenidade e compromisso, mesmo que ditas de uma forma descontraída, solta e soando agradavelmente. Depois há as palavras ouvidas. Dei por mim a fazer um exercício curioso sobre as palavras ditas e as palavras ouvidas. Exactamente as mesmas mas em tempos diferentes. As mesmas palavras que antes foram ditas e saboreadas quando ouvidas, e depois, passado algum tempo, desejamos não ouvi-las. O impacto que elas geram e, acima de tudo, a gestão e o comportamento adoptado depois de as ouvirmos revelam muito de nós. Porque aí deixam apenas de ser palavras para passarem a ser fazer. Porque deixam de ser palavras apenas e porque o verbo dizer é substituído pelo verbo agir. Boas férias amigo. E não te esqueças que há palavras que ouvimos e gostamos de ouvir, num determinado momento, mas elas não mudam quando as ouvimos de novo, mesmo não desejando escutá-las, quando o momento é outro. O que importa é o que fazemos depois de as ouvir.
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10 comentários:
Caramba! Que discurso! E não é que gostei. Bem. Não é gostar de gostar só assim um bocadinhito. É gostar de gostar. Estive meia hora a ler e a voltar atrás. Gostei do que imaginei e também do que li nas entrelinhas.
Ora aqui estão as minhas palavras ditas, emitindo a minha opinião, positiva, claro! São palavras genuínas e verdadeiras. Soaram bem, para quem as disse, será que o mesmo vai acontecer para quem as ouve?
Espero que sim porque gostei mesmo do texto.
:)
As palavras podem ser ditas de uma maneira e ouvidas de outra maneira completamente diferente. Por isso são tão perigosas. E por isso, também, são tão fascinantes.
Gostei de lê-lo, Mike. Vá dizendo palavras, nós vamos ouvindo...
Ou, como disse A. Manzoni, as palavras fazem um efeito na boca e outro nos ouvidos...
:-)
Mike, que inveja, como eu gostaria de ter escrito isto!
" apalavras são o palco nos olhos de cada um" e também "fazem bater mais rápido o coração" como dizia Almada Negreiros
Palavras, Mike, leva-as o vento. O que fica e marca e não pode ser levianamente decidido são os actos. E nestes incluo a concepção das palavras que se dizem e a reacção às palavras que se ouvem. Os políticos revelam-se pela concepção de palavras vazias ou de circunstância. E eu revelo-me por reagir às palavras dos políticos com absoluto (mas será contemporizador?) cepticismo. Os políticos e eu? Raposas velhas! ;-)
Foi grato ouvir (neste caso ler) as suas palavras ditas (neste caso escritas). :-)
Ana, :-)
Eu vou dizendo mas tem-me faltado o tempo e, confesso, a inspiração. Vou dizendo palavras aos "internacionais", sem ter a certeza que eles as gostem de ouvir. (risos)
Fugidia, essa do efeito na boca deu-me para ficar com fome. (muitos risos)
Simpatia sua, Júlia. Obrigado. :-)
Caramba, Luísa, essa sua lucidez nunca o vento há-de levar... :-)
Palavras? Tanto de bom, e tanto de mau...; magoar e enlevar :)
E porque é que nós somos menos do que os "internacionais", ora essa??
;)
Não são menos, não senhora. Mas eles pagam-me o salário. (risos)
Um argumento de peso, realmente...
:)
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