2.9.08
Há qualquer coisa que me está a escapar.
Há dias, num debate profissional em que o rumo e o foco da discussão se estavam a perder, coisa em que os publicitários por vezes são pródigos, foi abordado o tema dos sete pecados mortais, ou capitais, já que a pena preconizada é essa mesmo, capital. São eles a gula, a avareza, a luxúria, a ira, a preguiça, a vaidade e o orgulho. Sete pecados capitais que mais não são que uma classificação usada nos primeiros ensinamentos do catolicismo, com o propósito de educar e proteger os crentes, apesar de, tanto quanto sei, não haver nenhum registo de nenhum deles na Bíblia Sagrada. E da minha pesquisa posterior me ter conduzido até um monge grego que terá escrito uma lista de oito pecados e não sete, incluindo a melancolia como um dos crimes cuja pena seria também capital. Confesso que sorri, concluindo que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Tomás de Aquino deve ter achado o mesmo e os oito passaram novamente a sete. Mas vamos ao que interessa, que já estou a perder-me. Não consta que haja nenhum registo na Bíblia mas a Igreja Católica seleccionou e classificou dois tipos de pecados. Os perdoáveis, sem necessidade do sacramento da confissão e os capitais, merecedores de condenação, deixando de fazer alusão à palavra capital, o que faz todo o sentido. Já este ano, o Vaticano divulgou uma lista de novos pecados merecedores de condenção, a juntar aos ditos capitais. A manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental estão entre eles. Reapareceu o sorriso, só que desta vez carregado de um sarcasmo silencioso, como o dos inocentes, por verificar que a Igreja, por vezes, também cai em tentação. Neste caso a tentação inglória e vã de se mostrar moderna e actual. A meu ver, numa perspectiva de leigo, a Bíblia tem razão e a Igreja não, quando, sensatamente, não menciona os sete pecados outrora considerados capitais. Porquê? Porque ou há alguma coisa que me está a escapar ou então há uma leitura subtil que não sou capaz de fazer a alguns deles. A gula e a manipulação genética são pecados e a traição não? A vaidade e a poluição ambiental são pecados e a mentira não? O orgulho e a desigualdade social são pecados e o homicídio premeditado não? Como levo a sério o que o Vaticano diz, definitivamente há qualquer coisa que me está a escapar.
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19 comentários:
o bom senso, seria tão bom que nascêssemos tdos com ele.
Um tronco, uma cabeça, dois braços e duas mãos, duas pernas e dois pés, todos os orgão inerentes e bom senso. Era tudo tão mais fácil...
Estas questões são irrespondíveis, Mike. Primeiro, porque pouco entendo do assunto (sou uma católica transviada, que não estuda, nem pratica); segundo, porque, como diz Charlie Brown, «never discuss religion, politics and the Great Pumpkin». Mas julgo, a propósito, que os sete pecados mortais clássicos correspondem a sentimentos ou atitudes mentais e não a actos ou crimes, como o homicídio que refere. Correspondem, no fundo, aos sentimentos e atitudes que motivam os actos ou crimes. Já no que toca aos novos pecados, parecem-me imbuídos de preocupações colectivas e sociais, que os colocam noutra categoria (os primeiros são essencialmente individuais). Por último, confesso-lhe que, pessoalmente, acho bem que a Igreja se modernize, ainda que, tal como a Lei, ande sempre um ou mais passos atrás da realidade. Pessoalmente, também, gosto de sentir que existe, que «filosofa», que orienta, mesmo se nem sempre compreendo as suas «filosofias» ou cumpro as suas orientações; e mesmo se, às vezes, me sinto um pouco «marginal» a pensar como penso acerca dela. :-)
Corine, :-)
Bom senso... hum... um dia ainda me vai dar para escrever sobre ele.
Ora bolas! (risos) e eu na esperança que a Luísa tivesse resposta para estas questões... (eu desconversando, não ligue) :D
Agora mais a sério que a desconversar também se é sério: gostei de ler o seu comentário. Obrigado. :-)
concordo com tudo, Querido Mike, menos quando diz que a Igreja não considera pecado o homicidio, é falso.
eu tenho o mau hábito , querido amigo, de dizer que só é pecado aquilo que a minha consciencia ditar, embora católica praticante :-)
Querido Mike:
Este post evidencia 2 coisas: a desgraça da comunicação social e a necessidade de um forte mergulho do Mike no catecisto.
Quanto à primeira: a Igreja não se pronunciou sobre os pecados capitais ou mortais. Um bispo deu uma qualquer entrevista e, perante uma pergunta concreta sobre novas formas de pecar, deu alguns exemplos (reconduzindo alguns deles a categorias mais amplas desde sempre existentes). A entrevista esteve disponível na net, designadamente na Zenit. Lendo a entrevista, é de pasmar com as notícias que saíram na comunicação social portuguesa e que, nem de perto nem de longe, se podem reconduzir às palavras daquele bispo.
Quanto aos pecados: a qualificação como capital nada tem que ver com a possibilidade de os pecados serem perdoados ou não (todos os pecados são perdoáveis, pois Deus é bom e misericordioso para além do nosso entendimento e da nossa "wildest imagination"). Foram qualificados como "capitais" os pecados que, pelas suas características, dão origem a outros pecados, da mesma espécie ou não (são pecados "fecundos"!). A qualificação destina-se, precisamente, a chamar a atenção dos crentes para a gravidade daquela falta que, podendo parecer inofensiva, cria raízes e com facilidade se "reproduz".
A distinção dos pecados em mortais e veniais atende ao critério de, morrendo a pessoa sem se confessar depois de praticado o pecado, ir para o Inferno (no primeiro caso) ou (eventualmente, dependendo do resto do curriculum...), para o Purgatório. Também se deve confessar os pecados veniais. Como as pequenas falhas num casamento: não produzem a ruptura imediata mas, com o tempo...
Claro que este automatismo não existe. A Igreja, desde sempre, usa esta linguagem com intuitos pedagógicos e preventivos. Como diz um salmo, "a misericórdia de Deus é firme e a sua fidelidade é para sempre".
Júlia, se assim o diz, não encontro nenhuma razão para duvidar. Contudo não vou tão longe como a Júlia quanto ao apenas ser pecado o que a minha consciência ditar, mesmo não sendo católico praticante. :-)
Rosarinho, agradeço, sinceramente, a sua exposição. Estamos de acordo em relação à desgraça da comunicação social, mas não me leve a mal por declinar a sugestão do mergulho no catecismo, para onde fui orientado desde tenra idade pela minha mãe, onde me mantive convicto e de onde me fui progressivamente afastando. Acredito que o meu percurso seja igual ao de muitas pessoas genuinamente crentes que, aos poucos, o deixaram de o ser. Ainda não é o meu caso... ainda. Grato, uma vez mais, pela sua exemplar exposição.
...claro que a minha consciência coincide com muitos pecados que aí refere, pretendi ironizar.
E eu percebi, Júlia. :-)
num parece :-(
desculpe lá, mas vai ter que se confessar, Mike, andar a dizer tão mal do catecismo é um pecado virtual.Não acabam todos em "al"?
Ah, o pecado... e as suas infinitas variantes, em todo os tempos... e as listas e classificações que dele têm feito os homens, e não Cristo, como se fossem um rol de lavandaria (desculpe, Rosarinho...). Sou firmemente cristã, mas cada vez menos católica.
... num parece, mas é... (risos)
... em "al"? não tinha reparado... ;-)
Ana, :-)
Bolas, alguns pecados capitais são bem bons. aí é que está o problema...
:)))
Mas sendo capitais há que ter cuidado, Nuno... ;-)
Abraço.
capital
venial
virtual
excepcional
primordial
sexual
mortal
piramidal
digital
O Mister Mike está desactualizado. Esta é a nova clasificação dos pecados, disse-me um aninho papudo.
LoL
Caramba, o que a menina sabe... está visto que o anjinho sou eu, só que não sou papudo. :-)
rosarinho, já agora, poderia explicar o que é o «inferno». É uma interrogação que me persegue há anos...
Hi, essa pergunta vai valer-lhe a pena capital... a menina está a pedi-las, ai está, está... ;-)
Ora, caro mike, a rosarinho ainda nem se dignou responder-me.
Mas, apesar de pessoa muito ocupada, tenho a certeza de que ela, em dois minutinhos, conseguiria ser brilhante a desconcertar-me.
Já somos dois, Hi. ;-)
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