25.12.08
Ouvi-te chamar-me.
Chamaram por mim e não me surpreendi. Conheço bem e conhece-me bem quem o fez. Durante alguns dias estaremos juntos, desafiando-nos mutuamente. Já sinto um rebuliço em mim, aquela inquietação que antecipa o momento em que nos encararemos, num frente a frente tal qual dois pistoleiros do Farwest numa ruela estreita e deserta, sob os olhares escondidos por detrás das frestas das janelas fechadas. Não haverá balas nem fumaça, ou poeira de corpos caídos. Não será numa cidade e muito menos na estreiteza de uma viela. A natureza será testemunha dos duelos que terão lugar. O sol, as nuvens, a chuva e o vento, se fizerem a desfeita de dar à costa, e a areia molhada que me receberá com um afago que não espero sedoso, antes agreste e vigoroso. Quem me chama conhece o protocolo e, estou certo, começará por me lançar, num convite descarado e sem vergonha, a espuma cativante que, como uma sereia sedutora e inebriante, me beijará os pés nus, acenando-me com a inocência de uma ninfa e sussurando-me anda Mike, anda, do que esperas tu? Sorrirei para ela enquanto a brisa fria e salgada me molhará o rosto num derradeiro apelo ao desafio. Sê impiedoso mar, e arremessa as tuas ondas com toda a fúria que trazes nas tuas profundezas. E não contes com a minha complacência, que implacável serei. Ambos sabemos qual é a punição para vacilos e momentos de frouxidão. E também conhecemos o prémio, que mais não é que o sentimento gratificante de estarmos juntos e desafiarmo-nos. Ouvi-te chamar e não me surpreendi. Tinhas saudades minhas? Eu sinto a tua falta.
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15 comentários:
Hum... nesta altura do ano eu prefiro o apelo de lhe sentir o cheiro e de, eventualmente, lhe sentir o frio e a força só nos pés, enquanto caminho pelo areal.
Não há nada mais relaxante e retemperador do que caminhar à beira-mar no inverno, Mike :-D
E eu não encontro nenhuma razão para duvidar do que diz, Fugidia, antes pelo contrário. Como eu e o mar havemos de nos cansar, nada melhor que caminhadas relaxantes e retemperadoras à beira-mar. :D
como eu o entendo!..
texto lindo e poético, Mike..
Bonito texto. O desafio da natureza e a natureza do desafio. Só os mais novos, as aventuras com ou sem eles passadas e outras histórias nos impelem a testar capacidades de temperança.
E na verdade, nada como o mar para nos reposicionar.
Ele chama sempre, não é? Como te entendo! Bom encontro com ele, Mike. E bons passeios pela praia, em boa companhia.
afogou-se, Mike?
que bem mike, que bem que se sentem estas palavras...mesmo optando pelas ondas do sofá ou a violencia das chamas e as cores fortes das brasas.. ;)
bom ano mike.
E então Mister, o duelo foi bom?
:-)))
Júlia, agradeço as suas palavras... e não me afoguei, não senhora. ;-)
GJ, o mar é um velho companheiro e quando estamos mais tempo do que devíamos longe um do outro começamos a sentir vontade destes desafios. São coisas nossas... (risos)
Sempre, Ana, chama-me sempre o malvado... (risada)
O encontro foi bom mas o mar não se portou à altura. Acho que vai ter direito a post e ele não vai gostar. (gargalhada)
Ó Corine, a partir de certa idade começamos a preferir a paz da lareira, de pantufas calçadas... (riso abafado)
O duelo, Fugidia? Bah! O mar não vai gostar do que escreverei sobre o desafio... (muitos risos)
Como um lago, o adversário, ou o Mike é que se agigantou, qual " Homem do Leme " ?
Cristina, ia dizer que o mar se acobardou, mas o respeito que lhe tenho impede-me cometer tamanha injustiça. Digamos que o desafio é merecedor de um post justo. :-)
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