O ciclo de trabalho de intensidade extrema concluiu-se hoje, como estava previsto. Outros ciclos assim virão. Creio que o meu corpo e a minha cabeça já se habituaram a este vai-e-vem cíclico, mas confesso-me cansado. Hoje estou cansado e triste. As muitas horas de labuta diária intensas, as poucas horas de sono - poucas e que o stress se encarregou, sem piedade, de transformar em más - explicam, naturalmente, o cansaço físico e mental. Mesmo que tenha conseguido, sendo inédito para mim, equilibrar uma agenda diária densa e por vezes tumultuosa, sem ter abdicado do exercício físico praticamente diário, o que são boas e bem-vindas notícias. Horas, dias, semanas de trabalho jogam-se e são avaliadas em 4 horas, o tempo que dura uma conferência. Também sei isso há muitos anos; os anos, e já são muitos, em que o trabalho faz parte da minha vida. Sou especialmente crítico do meu trabalho; chego mesmo a ser severo nessa auto-crítica e auto-avaliação. Indo directo ao assunto: a conferência correu bem apesar de haver muitos pontos a melhorar mas que não dependem directamente e só da minha dedicação, empenho e experiência. A maior parte das coisas que não correram bem só eu as sei e tratarei de evitar que se repitam nas próximas conferências. Mas estou triste. Estou triste com as pessoas, ou melhor, com o lado mais negro do ser humano que se revela quando o campo é propício a que tal aconteça: a arrogância, a mesquinhez, o caciquismo e a falta de carácter. Lidei com isso tudo hoje. Nada a que não esteja habituado a lidar mas que não deixa de me entristecer. A vida é feita de dias assim. Mas amanhã é outro dia.
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