Escrevemos para sermos lidos ou para nos lermos?
Escrevemos porque sim.
Escrevemos porque deixamos um pouco de nós em cada palavra, em cada frase, em cada vírgula, mesmo mal colocada.
Escrevemos porque nos ouvimos no silêncio; para viajamos para paragens longínquas, porque nos banhamos em mares desconhecidos, para caminharmos por veredas e caminhos que os nossos passos nunca marcaram.
Escrevemos porque sonhamos e porque choramos; porque as palavras não temem as nossas fragilidades; para as mostrarem, porque nos levam a aceitá-las.
Escrevemos porque temos medo; para nos ser devolvida a coragem e a esperança; porque estamos inseguros, porque estamos confiantes, para nos sentimos perto de quem não está ali, aqui.
Escrevemos porque nos rimos, para sonharmos, porque nos esquecemos, para nos lembrarmos.
Escrevemos porque nos dá de repente fome da vida e para nos alimentarmos dela; da vida e das palavras.
Escrevemos porque pensamos e para não pensarmos; porque sentimos e para não sentirmos.
Escrevemos porque estamos sós e para não estarmos sós; escrevemos porque e para.
Escrevemos porque queremos fugir do espelho que as palavras nos colocam à frente; escrevemos para nos olharmos nesse espelho; para sentirmos vergonha e arrependimento, para lhe sorrirmos e fazermos uma careta.
Escrevemos porque estamos cansados e para descansarmos; porque sentimos o vulcão e para que a lava saia e escorra por nós e nos queime por fora depois de nos ter queimado por dentro.
Escrevemos coisas sem nexo, como se o vento levasse as palavras e as trouxesse de volta para que façam sentido.
Escrevemos porque a alma nos pede e para a saciar.
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