12.2.08

Vão em frente, filha.

Jovens, todos eles jovens. Abancados (ou acampados?) cá em casa, numa casa que mais parecia a Pensão Estrelinha, em dias e noites que pareciam não ter fim. A relembrarem-me como nascem projectos. Sim esses mesmo que começam com um sonho e que damos início com paixão, esses mesmo a que nos entregamos generosamente, com devoção e crença e sem sabermos como, onde e quando acabam ou para onde nos levam. Apenas porque os sentimos como sendo nossos e quando isso acontece, contrariando o Pedro Abrunhosa, entregamos a alma para além do corpo. A minha mais velha sei que o fez, que ela não sabe fazer as coisas pela metade. O número 0, dedicado a etnias, saiu no dia 8 deste mês e 48 horas depois lá estávamos os dois, sentados à mesa do Tico-Tico, a questionar, criticar, olhando para os detalhes, onde se devia melhorar... A Ncontrast nasceu para ser uma revista de cultura visual que aborda temas como Artes Plásticas, Arte Urbana, Design, Fotografia, Ilustração, Multimedia e Letras. Bimestral, de distribuição gratuita em cerca de trezentos e cinquenta pontos do país. São doidos, pensei no princípio. São uns bravos, concluí quando ela me abraçou e me passou um exemplar impresso para a mão. Digo-lhe o quê? Olha, ide em frente filha, tu e todos os outros bravos que meteram mãos à obra, disse-lhe (já) eu, com indisfarçável orgulho.

11.2.08

Objectos de culto (IV). Miss Betty.





















"Though Betty bowed out as a headliner in 1939, her popularity remains as intact as her boop-oop-a-doop. Maybe the appeal lies in her sassy independence, in the fact that she's the only female cartoon character who's not a foil for a male. Call it fatale feminism." (Entertainment Weekly)

Objectos de culto (III). Um momento de cumplicidade único. Um cortejar demorado, sem pressa.

Ainda hoje, na Fábrica de Charutos Partagas em Havana, se mantém a tradição do leitor de serviço ler para um microfone, da primeira à última página, o Granma, jornal do regime que foi buscar o nome à embarcação que trouxe de regresso a Cuba Fidel Castro, em 1956. Mantém-se a tradição porque, reza a lenda, no final do século XIX, princípio do século XX, já havia um leitor de serviço para os trabalhadores das plantações, só que nessa altura o que se lia era Shakespeare e Alexandre Dumas. Daí os nomes dos célebres charutos Romeo y Julieta e Montecristo. Actualmente talvez o nome Cohiba seja o mais conhecido quando se fala de um puro. Cohiba, uma marca que surgiu em 1966, sendo registada três anos mais tarde, e que quando em 1982 apareceu nas melhores tabacarias do mundo, já era conhecida como um "Embaixador Extraordinário" da nação cubana, pois era oferecido como presente diplomático, além de ser o charuto preferido de Fidel Castro. O charuto tem alma. A sua degustação é um ritual sem igual que requer tempo. Um momento de cumplicidade. Um cortejar demorado, sem pressa, saboreado minuto a minuto. A simples contemplação da caixa, onde cada charuto é único, já estimula a imaginação. Abri-la cuidadosamente e olhá-los perfeitamente alinhados e em harmonia dá início à descoberta de um aroma libertário, uma mescla de tabaco e madeira de cedro. Depois há o escolher, o acariciar, o escutar a melodia das folhas quando apertadas entre os dedos, antes do inevitável corte, feito a preceito. De seguida há que desfrutá-lo... calmamente... e ele entrega-se a nós como uma gueixa, bela em seu próprio estilo, graciosa, flexível e forte, num acto de submissão que exige toda a atenção.

10.2.08

Objectos de culto (II). Um ritual simples e aprazível.

Tirava-se o LP da capa, punha-se o vinil no prato, pegava-se cuidadosamente no braço, como quem segura graciosamente o braço de uma senhora antes de iniciar uma dança, virava-se a patilha para o lado que se queria (78, 33 ou 45 rotações) e, cuidadosamente, pousava-se a agulha no sulco do disco. O resto era o desfrutar do som gordo e amigo, muitas vezes com uns estalidos e chiado à mistura. Igualzinho à vida. Nesta desordem que chamamos progresso, foi-se o vinil. Digitalizámo-nos e somos vítimas das “armas espertas” daqueles que manobram a tecnologia das indústrias. Já vamos no MP3, nome que bem define o torpedo arrasador que nos acabou com a vida. Já nem falo das capas dos LPs, uma arte que também acabou. Até as capinhas dos 45 rotações, agora chamados singles, como correctores safados registados com nome falso num motel de segunda, até elas davam para virar arte, bastando para tal imaginação e engenho. O vinil está de volta? Ainda bem! Os DJs nunca chegaram verdadeiramente a virar-lhe as costas... pode ser que um dia possamos ter de volta Artie Shaw, Charlie Parker, Sarah Vaughan...

Objectos de culto (I). Um Twingo dos antigos não se vende.

De tempos em tempos algumas marcas automóveis, pela mão talentosa dos seus designers e pelo arrojo de quem decide, brindam-nos com carros que se transformam em objectos de culto. Podem nunca chegar a campeões de vendas, mas colocam as marcas num patamar de desejo e admiração único. O VW Carocha (este foi campeão de vendas), o Mini, o Cinquecento, o 2CV, O DS (Boca de Sapo), são alguns exemplos. A meu ver, o Twingo também. O mercado manda que se evolua, que parar é morrer, e assim fez a Renault com o Twingo, que se mantinha practicamente inalterado desde que foi lançado em 1993 e depois de quase 2 milhões e meio de veículos vendidos. E fê-lo alinhando-o pelo ADN da família, tornando-o concerteza mais seguro, mais bem equipado, mais moderno, com um maior leque de oferta de motorizações, introduzindo mais tecnologia, etc, etc. Deve ter-lhe dado tudo de bom que a marca tem e sabe fazer, ou não seja a Renault uma das marcas mais competitivas naquela que é a vitrina tecnológica do mundo automóvel – a Fórmula 1. Hoje temos um novo Twingo, mas a marca perdeu uma das jóias da coroa. Confesso que não percebo porquê. O antigo Twingo era um automóvel único, ao qual ninguém ficava indiferente. Todos os jovens o desejavam como primeiro carro, ficava bem com uma mulher ao volante, fosse ela jovem ou avó, fosse ele estacionado por um executivo engravatado no parque de estacionamento do Ritz, ou por um surfista com as pranchas no tejadilho, na praia da Ericeira. O antigo Twingo tinha personalidade, carácter, era simultaneamente sedutor e irreverente, chic e popular. O novo Twingo é mais moderno, mas também banal, igual aos outros. Há dias cruzei-me com um e por breves instantes confundi-o com um Clio. Acho que se cometeu um erro, e não é a primeira vez que isso acontece, bastando atender às “evoluções” que foram feitas aos automóveis de culto. Algumas marcas emendam a mão, como é o caso da Fiat com o Cinquecento, outras tiveram visão. O Mini é um bom exemplo, eternizando o culto. Não tenho uma bola de cristal nem digo que não tenho dúvidas e raramente me engano, mas se tivesse um Twingo antigo, que agora deve valer muito pouco, não o vendia. Daqui por uns anos, quando o novo Twingo também já for velho, aquele com os faróis que parecem 2 olhinhos vivaços, alegres e bem dispostos, terá o preço que o seu dono quiser aceitar, não o que o mercado ditar. Até sempre antigo Twingo.


8.2.08

Haja fitas por mais anos, que a tesoura levo eu.

Temos a tendência de racionalizar as nossas escolhas porque faz parte da nossa natureza, porque apazigua as nossas incertezas e legitima as nossas decisões. Também sabemos que, na verdade, muitas das escolhas que fazemos na vida, independentemente do grau de envolvimento, foram feitas emocionalmente... depois há que as justificar, justificar o porque sim, o porque gosto, o porque me faz bem. Neste caso, nem sei como lá cheguei. E nem tenho a certeza porque continuo a lá ir... às vezes é por causa do gato de uma senhora, outras porque os assuntos de política me espicaçam, há outras ainda em que a culpa é do cinema e de bons filmes, há a vertente social e temas pertinentes como a justiça. Ah, sê honesto Mike, também há as sextas-feiras, que para aquelas bandas são as melhores sextas-feiras do burgo. Porque é que continuo e continuarei a lá ir? Olha, porque sim. Porque gramo. Gramo da sensação de toma lá uma tesoura e corta para aqui umas fitas. Consta que há gente que as corta faz precisamente dois anos... haja fitas por muitos mais anos, que a tesoura levo eu.

1.2.08

Há recados que não se deviam dar.

Bundas e passagens de modelos são coisas que, a meu ver, se afiguram interessantes desde que contextualizadas, sendo que o contexto diz respeito a cada um e admito que haja muitos e variados. Contudo tenho dificuldade em enquadrar bundas e passagens de modelos num recado do seleccionador nacional de futebol a um jogador. Porque entendo que o selecionador não deve mandar recados e sim falar com os jogadores, e porque os exemplos escolhidos são, no mínimo, de mau tom. Há gostos para tudo mas também há mau gosto. Kiss my ass Scolari, foi o meu primeiro impulso, mas depois pensei... livra, vai-te antes embora... Já me senti devedor mas há algum tempo que me sinto credor.