3.7.15

Lisboa e eu


Levei muito tempo, tempo de mais, a gostar e a entregar-me a Lisboa. Pensava, durante esses anos voltados de costas para esta bonita cidade, que estava zangado com ela. Mas, na verdade, estive zangado comigo. Uma revolta provocada pelo sentimento de ter sido desenraizado sem nunca o assumir, que foi transferida para esta cidade que hoje considero minha. Hoje levantei-me muito cedo - quem vive nos subúrbios paga um preço elevado no princípio e no final dos dias - com receio de não cumprir com a pontualidade que me imponho quando se trata de reuniões ou outro tipo de compromissos. E foi com uma ligeira irritação que, depois de ter estacionado o carro perto do local da reunião, olhei para o relógio onde os ponteiros marcavam 8 da manhã. Amaldiçoei o facto de ter chegado duas horas antes da reunião. Saí do carro e logo depois dos primeiros passos dados numa avenida de Lisboa, a irritação tinha dado lugar a um sorriso de contentamento. A manhã de Lisboa como que me abraçava e me dava os bons dias, ainda preguiçosa mas sorridente, como uma mulher alegre, bem disposta e com bom acordar. Fazes-me bem, Lisboa.

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