
O segundo e o terceiro choque não foram térmicos. As impressões que a vista alcançava eram verbalizadas com uma sinceridade... como dizer?... europeia. Isto é tão desolador, tão pobre, tão árido... mas as pessoas são sorridentes e bem dispostas... Eu calado, deixando-me levar por memórias e por outros sentidos. Uma batida dum batuque aqui, o som estridente dum cavaquinho ali, a voz melodiosa de uma feirante ensaiando uma morna aculá, e o cheiro da terra a ser ocupado progressivamente pelo da marzia, à medida que nos aproximávamos de Santa Maria. Chegados ao hotel, Morabeza de seu nome, alguns dos amigos tranquilizaram-se. Na sua simplicidade, tinha tudo o que um europeu espera de um hotel, mesmo em África... ginásio, salão de jogos, quartos amplos, piscina, aluguer de motas de água, aulas de wind surf e mergulho, etc, etc. A mim bastava-me como ele era... simples e pé na areia, com o mar logo ali, a umas dezenas de metros dos quartos. Um deles não conteve a curiosidade. Porque se chama Morabeza? Hum... Morabeza não tem tradução, não se explica, é como a nossa saudade, mas não é a mesma coisa. Há-de ter algum significado, insistiu, não satisfeito com a resposta. Tem, claro que tem, é uma palavra muito falada em crioulo e que pode querer dizer bem estar, gozar a vida, beleza, boa conversa, ou até nadar no mar, mais ou menos como os brasileiros empregam gostoso. Ah, afinal sempre tem tradução. Não, não disse isso, os caboverdianos dizem que Morabeza não se explica, sente-se, vive-se. Sorri, sabendo que no final da semana que ia começar em terras africanas, eles entenderiam o que era Morabeza. Só não saberiam explicá-la... e continuei a sorrir.
1 comentário:
.. :)
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