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Lá há as cores garridas e alegres dos panos das negras*, das quitandas transportadas num equilíbrio instável sobre cabeças de cabelos entrançados, e as cores das fitas dos guiadores das bicicletas. As mil e uma cores das mil e uma frutas diferentes que nos acompanham durante 12 meses, sem que as estações do ano tenham influência nisso. Lá não se diz que cheira a laranja, sabiam? Lá diz-se que cheira a laranja da Quileva, que tinha uma cor diferente da do Cubal ou do Balombo. As pitangas não são todas da mesma cor, há as pretas e as vermelhas em tons diferentes. Pois muito bem, lá ou cheira a pitangas pretas ou vermelhas. Há um cheiro que levarei comigo até que a porta da eternidade se abra: o da terra molhada nos planaltos perdidos e abandonados da savana africana. O cheiro da terra calcinada por um sol impiedoso, e que parecia sorrir quando as primeiras gotas de água lhe faziam acreditar que a seca não era, afinal, eterna. Um cheiro que dura breves minutos, menos que os que dura aqui e que precisa de ser cheirado, jamais poderá ser descrito. Lá até as noites têm cor. Dependia para que lado a lua estivesse virada. Também as havia escuras como o breu, quando ela estava virada do avesso. Cá diz-se que está lua nova, não é?
* Desde que vim para Portugal que deixei de usar o termo pretos, não sei bem porquê, parece que é mal visto por nós, os brancos. Devem ser complexos do passado.
2 comentários:
e recordo que teve a Exa. alguma relutância em abrir o baú das recordações .. :)
Imagino .. só imagino ainda .. o tanto que tem esse baú ..
Gostei!
Ainda bem.
Grato :)
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