Quem o disse, de acordo com Baptista Bastos na sua crónica habitual no Jornal de Negócios, foi Manuel da Fonseca, um grande escritor português que costumava dizer que viver no salazarismo não só lhes roubava a alegria (estou a citar e era muito novo na altura, por isso achei por bem substituir o “nos” pelo “lhes”) mas também os obrigava à vulgaridade de dizer mal do regime, constantemente e sem tréguas. “Corja” era uma palavra de que se servia para qualificar não só os politicos que governavam o país, como os maus escritores, maus jornalistas, maus cineastas, maus artistas. Para Manuel da Fonseca um “mau” era todo aquele que não se comprometia com o seu tempo e rejeitava os testamentos legados, numa continuidade de ordem ética que explicava a razão estética. Nesse artigo, Baptista Bastos relembra o processo que o regime instaurou a Aquilino Ribeiro por ofensas à magistratura, uma história sórdida que deu origem a um escândalo que indignou a Europa intelectual. E aviva-nos a memória de um Portugal esquizofrénico de que falou Eduardo Cortesão e que não é uma fantasia mesmo nos dias que correm. E fala-nos de uma geração que saiu da vida com o funesto desgosto de ter percebido que não havia saída. Menciona a célebre frase “Roma não paga a traidores”, que o procônsul Servílio Cipião proferiu acerca dos assassinos de Viriato, referindo-se a ela como uma lenda já que a realidade é outra: os traidores são compensados. Baptista Bastos deambula, eloquentemente, por um passado recente, trazendo-nos até a um presente em que os valores e princípios mais nobres são constantemente substituídos pela práctica de um subhumanismo, banalização da impiedade e conversão em normalidade o que é aberração. E termina assim: “há dias, no restaurante onde costumo almoçar às sextas-feiras com um grupo de amigos, escritores e jornalistas, perguntei ao ministro Mário Lino: então onde é que está o socialismo? na gaveta! exclamou, sorridente e cheio de júbilo”.
Caímos na armadilha funcionalista e tecnológica que, afinal, apenas tem beneficiado o grande capital monopolista e as estratégias financeiras internacionais. Nada disto nos é dito e esclarecido. Até por uma "Esquerda", que ajuda a cimentar o muro da "modernidade", que nos obriga a mudar de perspectiva, de vida e até de sonhos, sem nada opor em troca. Para a classe dirigente não há alternativa. Ele está em crer no contrário. Eu também!
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2 comentários:
A propósito do socialismo na gaveta, lá vai uma das do O'Neill: Ele não merece, mas vota no PS.
Muito boa. Essa é a sério, ou inventaste de repente?
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