30.11.07

África XX. E o sol vai pôr-se...

... vai pôr-se sem eu próprio saber quando se erguerá. Foram vinte retratos de África, onde estão as minha raízes. Um desafio lançado por uma senhora, a quem estou grato, que nunca lá esteve mas que sonha um dia conhecer... quem sabe um dia esse sonho não é realizado... Fez-me bem revivê-la em pedaços contados e outros pedaços apenas imaginados e vividos em silêncio, pedaços que, confesso, a escrita, pelo menos a minha, jamais conseguiria retratar. É que isto de há mais de 30 anos não saber o que é ir à terra, tem que se lhe diga e as raízes são um bocado como o amor... que não se vê, não se sente (risos). Escolhi o sol a pôr-se porque gosto do pôr do sol. Gosto mais dele na solidão da imensa savana, lá nos longínquos planaltos africanos onde, nesse breve momento do dia, o azul plácido do céu dá lugar ao vermelho marcado pelo fogo. Mas como o mar, aquele mar de lá onde a linha do horizonte permanece imaginária, teima em permanecer na minha memória, num sentir perpétuo, desta vez o sol põe-se no mar, num daqueles dias africanos em que o céu muda de cor.

29.11.07

África XIX. Sombra à beira-mar?

Em África a sombra é um bem precioso. Ah, bem sei, aqui também, ou em qualquer outro local onde e quando o sol se faz sentir com mais intensidade. Acreditem que lá, intensidade era coisa que não faltava ao sol, por isso esse bem tinha mais valor. Tinha, por vezes, o valor de vidas e não porque alguém, mais incauto, não se precavera fazendo uso do chapéu amigo ou da sombrinha companheira. Na tropa, contaram-me os veteranos de guerra, que a sombra matava... onde é que o senhor tenente acha que eles colocavam as minas anti-pessoais? debaixo dos imbondeiros (uma árvore enorme, solitária e rude que há quem diga serem precisos dez homens de mãos dadas para a tornear), que era para onde nós corríamos depois de quilómetros a pé e ao sol. Felizmente não conheci essas sombras malditas. Só conheci e só me lembro das sombras amigas, das protectoras. Das sombras que a natureza africana era pródiga em surpreender-nos, em dar-se a nós sem limites, nos locais mais inesperados. Como essa aí ao lado, onde a casourina, ali num lugar inimaginável, parece dizer-nos anda, podes vir aqui para ao pé do mar que a minha sombra te protege. Até dá para imaginar a mãe a dizer ao filho, vai para a beira-mar meu filho, vai para a sombra. Nunca disse isso a um dos meus. E nunca mais vi uma sombra assim.

África XVIII. Eu tive sorte.

Os meus pais são da geração da menina dos cinco olhos, mas eu, felizmente, já não conheci essa menina que, só de a imaginar com cinco olhos, qual alien chegado do espaço em movimentos contínuos, num vai-e-vem impiedoso sobre as nossas pobres palminhas e deixando as mãos marcadas durante dois dias, até me arrepio. Eu tive sorte. Sou da geração da reguada e dos puxões de orelhas e esses, as marcas que deixavam não duravam mais que um par de horas (as marcas visíveis, claro). Reguada ou puxão de orelhas eram a consequência habitual e esperada para erros imperdoáveis ou comportamentos inadequados. Punições sem surpresa para os preguiçosos, mal comportados ou teimosos. Os meus filhos estranham e divertem-se deliciando-se com essas histórias de reguadas e puxões de orelhas (mas puxavam mesmo a orelha pai?), histórias que necessitaram do aval da avó para passarem a credíveis. Eles são da geração do diálogo... apesar de, devo confessar, ser apologista e praticante, da pedagogia activa. É raro, mas às vezes os calções do mais novo ficam com pó acumulado e convém sacudi-lo. Bom, mas ainda bem que eles são da geração do diálogo, e quer se queira, quer não, vivem a escola de uma maneira diferente da que eu vivi, principalmente na primária. Não vou tocar na competência dos docentes do meu tempo Vs os actuais; não vou aflorar a dedicação dos professores do meu tempo Vs os de hoje; não vou sequer mencionar a palavra vocação... raios, já mencionei... vou ficar-me apenas pelo viver a escola. A memória que guardo, onde entram as ditas reguadas e puxões de orelhas, a maior parte deles, diz-me ela, justos, é a da vida ao ar livre, das janelas das salas de aula abertas, os recreios solarengos, a escola ampla, arejada e cuidada, o regresso a casa a pé onde havia sempre tempo para um mergulho no mar (nem sei como nunca lá ficou nenhum, que nós éramos todos uns miúdos da primária), num caminhar jogando à bola na estrada, fugindo que nem loucos quando um carro se aproximava. Guardo boas memórias da escola, com reguadas e puxões de orelha à mistura. Memórias de escola vivida diferente da memória que os meus filhos guardarão. Nostalgia? Não, realidade. Realidade dos dias de hoje, realidade de uma liberdade que eu tive e nem eu consigo deixar que eles tenham, mas como quem não sabe é como quem não vê, ou como quem não viveu, não sente, apenas acho que vivi a escola de uma maneira diferente. Lá, em África, onde estão as minhas raízes. E por falar em dias de hoje, foi com agrado que verifiquei que a minha escola primária está como eu a vivi.

28.11.07

Sensualidade, desejo, volúpia, cama e sexo, são fenómenos comuns a todas as mulheres, mesmo que secretamente, ou especiamente secretamente.

A propósito do que escrevi há dias sobre a história da Marilyn Moroe Vs Chanel nº 5, fui indagado via email por alguém que, inadvertidamente, questionou a minha hipotética certeza sobre a eventual probabilidade da encomenda, se a tivesse havido, poder não ser tão eficaz como a frase espontânea da estrela de cinema. Creio ter sido um jovem publicitário, muito cioso do seu mettier. Hipotética, eventual e probabilidade são palavras que não adivinham certezas e levaram-me a considerar inadvertida a forma como a questão me foi colocada, o que tive o cuidado de lhe explicar. Idêntico cuidado tive, em não enveredar por um tom paternalista, já que seria fácil ceder à minha experiência publicitária e pouca vocação para lides docentes. A outra explicação, de teor mais técnico e sustentada na experiência é apenas reveladora de uma visão muito pessoal sobre a questão. Aqui fica o resumo, mesmo considerando-o de intresse reduzido para quem tem outros problemas, e concerteza mais importantes, com que se preocupar. Chanel = a marca de prestígio (naquela altura e ainda hoje). Nº 5 = a produto sofisticado de uma marca de prestígio (hoje e ainda mais naquela altura). Marilyn Moroe = a marca com imagem antagónica a prestígio e sofisticação. O uso de figuras públicas na publicidade prevê a identificação da figura pública com a imagem da marca e com a do produto (atente-se à actual celebridade utilizada publicitariamente - Nicole Kidman). Não seria o caso da diva, por isso, mandam as regras que não se avancesse para essa solução e a Coco Chanel devia sabê-lo. Mas Marilyn Moroe = a sensualidade, desejo, volúpia e até, porque não admitir, o lado terreno e carnal da coisa. E isso, meu caro jovem, ainda hoje não “cola” com a sofisticação do Chanel nº 5. Mas em segredo, aquele segredo vivido por, arrisco-me a dizer, quase todas as mulheres saudáveis, e muitas vezes não publicamente admitido (muito menos na época) elas gostariam de reclamar para si toda a carga de lascívia que a Marilyn representava. E não sou eu que digo, os factos provaram-no, ou melhor, elas, as consumidoras provaram-no. Muitas das senhoras sofisticadas mostraram-nos, se acaso for preciso, que sensualidade, desejo, volúpia, cama e sexo, são fenómenos comuns a todas as mulheres, mesmo que secretamente, ou especiamente secretamente. Por isso continuo a acreditar que se tivesse sido encomendado, provavelmente não teria sido tão eficaz. E já agora, um obrigado teria sido, não eventualmente, mas de certeza, bem-vindo.

28 de Novembro

Era um dia como estes que nos têm acompanhado. Frio mas seco, com o sol a brilhar no céu sem que os raios nos conseguissem aquecer. Há 23 anos na já velha e gasta, mas respeitável Maternidade Alfredo da Costa era assinalado o nascimento de mais uma menina, não sei precisar a hora (sei que é imperdoável mas depois dela já vieram mais três e a memória é feminina, como alguém um dia me disse com toda a propriedade). Uma menina saudável, morena, muito morena, com muito cabelo e de olhos castanhos amendoados. Hoje, uma mulher de quem os pais se orgulham e que aos 15 anos decidiu ir viver com o pai (ui, personalidadezinha...), hoje mais babado que nos outros dias. Parece que foi ontem, é trivial dizer-se, mas não é que parece mesmo?... É a mulher cá da casa, mas para mim continua a ser a minha menina. Parabéns filhota e nada de vir falar em prendas que me levaste à certa quando me convenceste a juntar a de aniversário à de Natal (risos)... Bem sei que não aprecias (ainda), mas eu gosto (e muito), por isso vamos abrir uma Don Pérignon Vintage e celebrar, ai isso vamos.


27.11.07

Encomendado não seria melhor, nem provavelmente tão eficaz...


Era mais que improvável que as vidas desta e de uma outra senhora se cruzassem. Uma nasceu no final do século XIX e a outra nos loucos anos 20 do século passado. 43 anos de diferença e uns milhares de quilómetros, com um oceano pelo meio, entre Los Angeles e Paris. Nenhuma delas nasceu em berço de ouro, uma até com identidade paterna desconhecida, e cedo aprenderam que a vida não era um mar de rosas. Uma das senhoras casou bem e mais tarde conheceu o grande amor da sua vida, um milionário inglês que a ajudou a abrir a sua primeira loja de chapéus, o primeiro passo para uma carreira única no sofisticado mundo da moda. A outra senhora não parece ter casado assim tão bem mas tornou-se uma actriz célebre e num ícone da sensualidade feminina. Era improvável que a vida de Gabrielle Bonheur Chanel, ou Coco Chanel, a criadora do celebérrimo nº 5, se cruzasse com a de Norma Jean Baker, ou Marilyn Moroe, a estrela de Gentlemen Prefer Blondes, Niagara ou Bus Stop, essa mesmo que cantou o sensual "Feliz aniversário, senhor presidente", na sede do partido democrático, perante um JFK embevecido (pudera...) trajando, segundo Adlai Stevenson, um vestido de pele e pérolas, só que ele não tinha visto as pérolas (fácil de perceber...). O Chanel nº 5 foi lançado quando Norma Jean era ainda uma menina de 10 anos, mas foi ela, no seu jeito simples e desbocado que, anos mais tarde, o eternizou quando um dia um jornalista lhe perguntou o que vestia para dormir, esperando concerteza ouvir a resposta lasciva, nada, não visto nada. Mas não, com aquele, só dela, sorriso nos lábios, respondeu-lhe "apenas umas gostas de Chanel nº 5". Tivesse tido a criadora do perfume a ideia de contratar a diva Marilyn para uma campanha publicitária para promover o nº 5 e talvez o resultado não tivesse sido tão eficaz...



















Deste sorte Luana... como se algum dia pudesses dar azar...

Dei por mim a arquivar coisas antigas (muitas delas no arquivo morto), fotografias, notas, apontamentos, na tentativa de pôr ordem na assoalhada que serve de escritório cá em casa. E nessa tentativa de me aliviar do papel que me rodeava encontrei um bloco de notas, companheiro inseparável do tempo das lides brasileiras em S. Paulo. Abri a página correspondente ao dia 27 de Novembro de 2002 e dei conta que nesse dia, há 5 anos atrás, estava a filmar para a Peugeot do Brasil. A filmar um comercial para um produto histórico da marca, o Peugeot 206. Um filme promocional, sim que já nos tempos que corriam, a liberdade de produção local tinha limites. Anotei no bloco que as filmagens tinham corrido bem, o cliente ficara satisfeito, o director criativo também, bem como o realizador e, sendo assim, temos um account nas suas sete quintas. E também anotei algo parecido com “nossa, como ela é bonita”... é que tínhamos acabado de filmar com a Luana Piovani.









How does it feel?

How does it feel? How does it feel? To be without a home, like a complete unknown, like a rolling stone?

Não se sabe quando Bob Dylan a escreveu. Sabe-se apenas que a cantou pela primeira vez há 42 anos e que a Rolling Stone Magazine a considerou “the greatest song of all time”.

Se fosse vivo, este senhor comemorava hoje o 65º aniversário. Viveu like a rolling stone.
How does it feel? It still feels good listening to you Mr. Hendrix.

26.11.07

Carro do Ano 2008. E o vencedor é...





Os processos de compra são diferentes para cada categoria de produto e há umas que são de elevado grau de envolvimento, aquelas que, pelo seu valor e investimento necessário para as adquirir, o cidadão comum associa, legitimamente, a processos racionais, como por exemplo uma casa, um carro, umas férias, uma viagem, etc. Mesmo assim, e sem pôr em causa a teoria que é sustentada pelas escolhas necessariamente racionais de qualquer cidadão que tenta sobreviver com o seu salário, quanto mais tempo vivo, mais acredito que ninguém compra feio porque é barato ou porque pode pagar. E aqui o feio é subjectivo e depende do gosto de cada um.

A marca Fiat diz-me pouco e o pouco que me diz não é bom. Culpa de quem? Dos produtos das últimas 2 décadas, para deixar de lado o belo 124 Spyder, o 500 e outros. Design banal, pouca qualidade dos materiais, falta de rigor na construção, níveis de segurança ultrapassados, enfim, falando mal e depressa, carros banais ou feios e que davam chatisses, ao contrário dos da prima, a Alfa Romeo, que também se fartavam de dar chatisses mas sempre foram bonitos. Pois... eu não gosto de Fiats mas queria um novo Fiat 500. A par do mini, e do Ford GT 40, não me consigo lembrar de outra réplica tão bem conseguida. Uma delícia, até branco é bonito. Merecidamente o Carro do Ano. E há quem diga que a compra de um carro não é emocional... pois, está bem... acredita quem quiser, mas não tenhamos ilusões, as pessoas compram os carros que podem pagar mas de que gostam e depois comportam-se como qualquer ser humano: procuram factores racionais para justificarem a sua escolha emocional. Com o Fiat 500 nem me daria a esse trabalho.








A culpa é da sociedade e dos governos. Nós, coitados, somos apenas um produto da sociedade que nos rodeia... será?

Este american gangster não é siciliano, nem napolitano, é um preto chamado Frank Lucas, nascido e criado no Harlem, o mesmo bairro que ele dominou durante quase uma década traficando heroína e cuja pele Denzel Washignton veste na perfeição, como só ele sabe. Ridley Scott não deixa margem para surpresas e ainda bem. A minha filha mais velha achou que viu um exclente filme, eu achei que vi um bom filme, um filme interessante e que valeu o dinheiro. Ainda por cima no Londres, onde se pode fumar indoor ao intervalo. Mas interessante também foi a conversa de regresso a casa, à volta do detective Richie Roberts (Russell Crowe). Nós somos um produto da sociedade que nos rodeia, somos aquilo que ela nos deixa ser... seremos? Só somos se quisermos, mostra-nos Richie Roberts que tendo encontrado uma pasta com 1 milhão de dólares (em 1968!) no porta-bagagens de um carro a entregou na polícia e, fiel aos seus princípios, aos seus valores, às suas convicções, se manteve incorruptível numa brigada de narcóticos nova-iorquina corrupta nos anos 60-70, enfrentou um divórcio, perdeu a custódia do filho, mas mudou o mundo que o rodeava, para além de ter conseguido pôr o tal Frank Lucas entre as grades – mais de metade dos detectives foram julgados e presos, outros suicidaram-se que o dinheiro sujo não paga, por vezes, o peso da consciência e da vergonha. E isto só tem de ficção aquilo que Ridley Scott quis que tivesse, porque a história é real. Um homem só não pode mudar o mundo que o rodeia? Pode, mas dá cá um trabalhão... e a sociedade tem costas largas.

23.11.07

Guichets electrónicos para quem não tem passaportes electrónicos... ele há cada modernice...

Encontrei Londres como esperava encontrar. Organizada, ordeira, pragmática, fria e sombria, apesar do sol me ter brindado com uns dos seus raios, e cada vez mais fundamentalista no que diz respeito aos cigarros, proibitivos e proibidos, que agora até ao ar livre passou a haver as célebres smoking areas. E encontrei-a de ressaca depois do cataclismo que foi o não apuramento para o Europeu de 2008. E que ressaca, senhores... mas por aquelas bandas, mesmo ressacados, os ingleses não perdem a lucidez e tomam decisões rápidas... bye, bye coach, que para além da vergonha, o futebol é um negócio e esta manhã havia um alarido em Londres por causa da quebra do valor das acções das marcas desportivas patrocinadoras da selecção de Sua Majestade (ah pois é)... Regressei no mesmo dia e encontrei Lisboa como esperava encontrar. Desorganizada, confusa, com uma total ausência de pragmatismo, fria, sombria e tolerante no que diz respeito aos cigarros (ainda bem, digo eu, ainda mal, dirão outros). Mas mais moderna, que o progresso chegou, sem avisar, ao aeroporto. Um tipo de progresso e modernidade que encherá de orgulho muito boa gente, mas que incomoda e transtorna muito boa gente também. Agora há guichets para passaportes electrónicos, e logo sete, que não fizeram a coisa por menos. Sete guichets vazios e uma fila a perder de vista para dois guichets à cunha só para passaportes da UE, daqueles normais (já nem falo dos outros)... Bem gritava o homenzinho, mais parecendo um amolador num bairro típico alfacinha... “passaportes electrónicos por aqui, passaportes electrónicos por aqui” (dessem-lhe uma harmónica e era perfeito) e nós, viajantes cansados, olhávamos para ele sem percebermos patavina, ou melhor, percebendo que a situação roçava o patético... é que não passou uma única pessoa pelos modernos guichets. Será porque não sabiam que agora há passaportes electrónicos? Mas continua a não haver bom senso, e isso toda a gente percebeu. Modernices...

19.11.07

Ah velho cacilheiro amigo...

...toc, toc, toc... pode entrar diz o mestre de lá de dentro. Subo as escadas íngremes que terminam numa portinhola que dá acesso à ponte, à ponte do leme, aquela cabine onde todos os comandantes são os senhores das suas embarcações ou navios. Há aqui uma criançada que está muito curiosa sobre o seu trabalho e sobre de onde se comanda o navio. E o mestre, que o comandante do cacilheiro assim é chamado, sorridente e solícito nas explicações, depois de mandar subir a criançada delirante, contribuiu, também ele, para uma tarde bem passada onde se cumpriu a promessa de atravessar o rio de barco. A mais nova e a “maninha” de máquina fotográfica na mão, agora tiro eu, agoras tiras tu, alternando o gravar para a posteridade com as mãos no enorme leme que o mais novo não queria largar, sentado na cadeira do comandante. Desta vez não inventei, naquele esforço a que todos os pais se entregam para passar um fim-de-semana diferente do anterior. Apenas lhes disse que íamos atravessar o rio Tejo de barco. Simples não é? E o almoço em Porto Brandão soube-me mesmo bem.

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... não liguem, com um dia como o de hoje, senti que era mais apropriado reclamar do tempo em norueguês. Raios, como detesto a chuva... alguém me dizia, há dias, que só devia chover entre a uma e as seis da manhã... e com razão. Estive para escrever em somali, mas escolhi a língua do país com a melhor qualidade de vida do mundo (a confiar num estudo do The Economist). Amanhã, se o tempo continuar assim, reclamarei em islandês, e depois em australiano, ou melhor, em inglês (continuarei a confiar no The Economist).

16.11.07

Este trio vale mais que um póquer.

"Onde quer que esteja, a integridade está sempre comigo. Seja em Hollywood ou Istambul. Uma cidade ou uma indústria não pode tirar o que não se dá". (Denzel Washington, actor).

Ele, no papel do gangster Frank Lucas, e Russel Crowe, dirigidos por Ridley Scott... vou ver o filme American Gangster. Ai vou, vou.

A realeza desce à terra. Viva a realeza?

Somos republicanos sem sabermos porquê. Porque sim. Porque um dia o Manuel Buíça e o Alfredo Costa mataram o rei, acabou a Monarquia e instaurou-se a República. Descontando as diferenças fundamentais entre os dois regimes, mas não esquecendo que nehuma República europeia se pode insinuar a dar lições de democracia a nenhuma Monarquia europeia, o que impera é a forma de estar e a atitude dos cidadãos. Pensava eu que a mudança de regime implicava uma mudança de pensamento, mas não. Hoje li uma notícia, ou melhor, uma história de cordel sobre a separação de uma das infantas de Espanha (a mais velha) que, segunda consta, devia ter tomado essa decisão há muito tempo atrás já que o marido e pai dos seus filhos não é flor que se cheire... escândalos, muita farra, muitas mulheres, muita bebida e muita cocaína também. Presumo que a infanta, a quem foi dada uma educação de realeza, tenha engolido muitos e gordos sapos durante o matrimónio e tenha tomado a decisão quando a situação se tornou insuportável. É infanta mas é mulher, é gente, é mãe. Viva a realeza é o título do artigo em que o jornalista (?) não esconde o seu gáudio pelo facto da moderna realeza tomar estas sempre difíceis decisões como a separação do casal, tal como os casais comuns as tomam, dando vários exemplos. E termina assim, estou a vê-lo sorridente (ao jornalista) e como se do arauto da sociedade se tratasse: “A realeza já não é o que era, quando iludia apesar da desonra e do engano. A realeza desce à terra. Viva a realeza”. Ah, agora entendi, a desonra e o engano eram uma práctica apenas da realeza, não dos homens e das mulheres. Ah, e ainda bem que, independentemente de continuarem a praticá-la, os principes, princesas, reis e rainhas se separam. É que assim ficam como a gente. Ah, e desce à terra, à parte ruim da terra. Agora sim, estão desculpados e devem ser elogiados, porque se comportam como a plebe. Pensava eu que o descer à terra da realeza tinha a ver com uma maior proximidade com os seus súbditos, interesse genuíno pelos problemas da sociedade, abraçar causas sociais, etc. Pensava e continuo a pensar. E sou republicano, só não sei porquê.

15.11.07

A Season Ticket for the Cemetery… e se a moda pega por cá?

O Boca Juniors, clube de futebol argentino, é um clube mítico. Disso me apercebi quando, de visita a essa magnífica cidade que é Buenos Aires, não evitei uma ida a La Bombonera, o estádio desse histórico clube. Já assisti a jogos no Santiago Barnabéu, em Camp Nou, em estádios ingleses, brasileiros e, porque não dizê-lo, na Catedral da Luz, em Alvalade e no Dragão, estes últimos nas versões anteriores e pós Euro 2004. Estive em La Bombonera num dia de semana normal e o que senti não tem paralelo, não se consegue descrever ou explicar a paixão e a devoção que os adeptos têm pelo seu Boca. Acresce o facto do clube ter sofrido profundas alterações, muito por via de uma gestão exemplar introduzida pelo actual presidente, Mauricio Macri, um, ainda jovem, empresário de sucesso. Com sentido empreendedor, verdadeira paixão pelo clube e uma visão moderna e transformadora, Mauricio Macri e a sua equipa transformaram um clube falido, na penúria, num clube que hoje é um exemplo de gestão. Um clube que vivia dos e para os seus ídolos, e que ídolos, senhores, Maradona, Batistuta, Riquelme, só para mencionar os mais notórios e conhecidos, mas que tinha chegado a um beco sem saída e o business, que é hoje o futebol, não se compadece apenas com memórias. E foi exactamente esse novo Boca Juniors que despertou a minha atenção para um artigo da Time, que nos dá conta da criação de um cemitério criado exclusivamente para os fans do Boca, fans que já tinham direito a caixões especiais. A confiarmos na descrição, o local deve ser paradisíaco. "It's so nice it makes you feel like staying.", dizem os adeptos, como se porventura depois de lá chegarem, tivessem a possibilidade de sairem... Mas deve ser mesmo paradisíaco, já que é do paraíso que os cânticos proclamam... "Even death can't separate us, from heaven I will cheer you on," chant the thousands of passionate soccer fans that turn out every week to cheer on Argentina's biggest club, Boca Juniors…

11.11.07

11 de Novembro

11 de Novembro de 1975. Há 32 anos o MPLA proclamava sozinho a independência de Angola perante a passividade do governo português e desrespeitando os acordos de Alvor, que concebiam o desarmamento dos 3 movimentos armados e a consequente passagem a partidos políticos, bem como a criação de um governo de transição para uma nova Angola. A data fica para a história como o dia da independência de Angola, apesar do governo do MPLA ter sido reconhecido como legítimo pela ONU a 12 de Janeiro do ano seguinte. “Levai-o vós... isso não é comigo... eu sou neutro” disse Pilatos para quem um simples lavar de mãos não foi o suficiente para sossegar a sua consciência. Uma guerra civil fracticida que durou mais tempo que uma guerra colonial, também não deveriam ser suficientes para sossegar algumas consciências. 11 de Novembro. Hoje comemora-se a independência da minha Angola onde todos os interesses se jogaram à execepção dos do povo, à excepção dos interesses da liberdade e da vida.

9.11.07

Erros assim é difícil cometer duas vezes...

Alguém me dizia há uns tempos atrás, que as pessoas cometem sempre os mesmos erros, só que o tempo e a experiência, ou a maturidade fazem com que relativizemos esses mesmos erros ou contribuem para nos desculparmos mais facilmente e mais rapidamente. Washington (leia-se Casa Branca) é, porventura, o melhor exemplo deste pensamento e pratica-o vezes sem conta e a todo o momento. Desde que Pervez Musharraf se aliou aos EUA, consta que já entraram nos seus cofres (leia-se Islamabad, ou se calhar leia-se mesmo como está escrito) cerca de dez bilhões de dólares (podem ler as vezes que quiserem que o número está correcto). Tem sido uma autêntica caixa multibanco. O montante foi entregue no âmbito de ajudas económicas e, claro, militares. Washington apoia um general déspota que governa um país que, consta também, tem entre trinta e cinco a noventa bombas atómicas. Pois muito bem, a primeira, por sorte não é atómica... por enquanto... caiu-lhes nas mãos com a situação de instabilidade que se vive no Paquistão. Washington também apoiara Hassan Hussein e até Osama Bin Laden, com os resultados que estão à vista. Stephen Cohen, analista da Brookings Institution alertou há dias que o exército paquistanês tem andado a fazer jogo duplo com os EUA e a aceitar a ajuda sem levar a luta contra os extemistas islâmicos até às últimas consequências... que novidade...
Num artigo do The Guardian há uma menção, prontamente comentada pelo editor, que ajuda a entender um pouco a política internacional e os interesses de duas grandes potências. "There was pressure from the US and Britain in the beginning. But later on, when the government gave them the detail that elections will be held on time, and the president will take off his uniform, they did not have any objections." Ah, então está bem, se é assim, devemos todos ficar também mais descansados, os paquistaneses então, esses podem ficar absolutamente tranquilos. Erros destes creio que não cometeria duas vezes, mas sei que Washington cometerá vezes sem conta. Irra...

6.11.07

Tenho um Tintoretto em casa.

Tenho um Tintoretto em casa e não sabia. E nem sei como veio cá parar... espólio do passado, vou admitir... Está pousado no chão, a um canto e escondido da maior parte dos olhares, não porque não o ache belo, mas porque tem um tamanho que não se presta a ser colocado numa das paredes da sala, onde todos os amigos poderiam deliciar-se com a magia da “Adoração dos Magos” do grande pintor do século XVI. A minha filha mais velha, sensata e responsável, e deslumbrada com a descoberta, manifestou o desejo, quase me convencendo, de que uma obra de arte assim deveria ser doada a uma fundação ou a um museu. Ontem disse-lhe que sim, que era assim que devíamos agir e por várias e óbvias razões. Hoje disse-lhe que não. Vou vendê-lo e não me interessa a quem, sendo que a única permissa que entra na minha avaliação do potencial comprador é a sua conta bancária. Como o Tintoretto que foi descoberto num mosteiro beneditino português e que está lá há cerca de quarenta anos. É improvável que o mosteiro o queira vender mas podia, já que não há nenhuma restrição à saída da peça do território nacional. É que a obra não está classificada, nem inventariada. Havia de ser em Espanha, França ou Inglaterra... já não saía do país, nem que para isso tivessem que ser movidas montanhas. Tiveram (quem quer que seja, para não escrever o Estado) sorte com os monges, já comigo... não teriam, se eu descobrisse que tinha um Tintoretto cá em casa.

(Descoberta do Tintoretto é notícia num artigo do jornal Público de hoje)

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