16.11.07

A realeza desce à terra. Viva a realeza?

Somos republicanos sem sabermos porquê. Porque sim. Porque um dia o Manuel Buíça e o Alfredo Costa mataram o rei, acabou a Monarquia e instaurou-se a República. Descontando as diferenças fundamentais entre os dois regimes, mas não esquecendo que nehuma República europeia se pode insinuar a dar lições de democracia a nenhuma Monarquia europeia, o que impera é a forma de estar e a atitude dos cidadãos. Pensava eu que a mudança de regime implicava uma mudança de pensamento, mas não. Hoje li uma notícia, ou melhor, uma história de cordel sobre a separação de uma das infantas de Espanha (a mais velha) que, segunda consta, devia ter tomado essa decisão há muito tempo atrás já que o marido e pai dos seus filhos não é flor que se cheire... escândalos, muita farra, muitas mulheres, muita bebida e muita cocaína também. Presumo que a infanta, a quem foi dada uma educação de realeza, tenha engolido muitos e gordos sapos durante o matrimónio e tenha tomado a decisão quando a situação se tornou insuportável. É infanta mas é mulher, é gente, é mãe. Viva a realeza é o título do artigo em que o jornalista (?) não esconde o seu gáudio pelo facto da moderna realeza tomar estas sempre difíceis decisões como a separação do casal, tal como os casais comuns as tomam, dando vários exemplos. E termina assim, estou a vê-lo sorridente (ao jornalista) e como se do arauto da sociedade se tratasse: “A realeza já não é o que era, quando iludia apesar da desonra e do engano. A realeza desce à terra. Viva a realeza”. Ah, agora entendi, a desonra e o engano eram uma práctica apenas da realeza, não dos homens e das mulheres. Ah, e ainda bem que, independentemente de continuarem a praticá-la, os principes, princesas, reis e rainhas se separam. É que assim ficam como a gente. Ah, e desce à terra, à parte ruim da terra. Agora sim, estão desculpados e devem ser elogiados, porque se comportam como a plebe. Pensava eu que o descer à terra da realeza tinha a ver com uma maior proximidade com os seus súbditos, interesse genuíno pelos problemas da sociedade, abraçar causas sociais, etc. Pensava e continuo a pensar. E sou republicano, só não sei porquê.

2 comentários:

CPrice disse...

a desonra e o engano é uma prática dos homens .. tal como a compaixão e a entre-ajuda .. quando um dia conseguirmos deixar de colocar rótulos nas atitudes pode ser que estas corram mais naturais e sãs.

Louvo a atitude da Infanta. Como a da minha vizinha do lado .. são seres humanos iguais. Quanto à responsabilidade e visibilidade social .. aí o resto dos homens habituou-se a apontar o dedo mais facilmente a quem está no trono do que a quem mora num prédio anónimo lá para as minhas bandas .. :)

Mike disse...

Ora aí está! Nem mais, até porque, no limite as pessoas têm uma função (onde é que já ouvi isto?... risos) na vida: serem felizes.

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