Acreditem que já vi o pôr do sol muitas vezes e em muitos locais. Há três coisas que contribuem para se ter visto o pôr do sol muitas vezes e em muitos locais. Gostar de o ver, viajar e ter entrado nos “entas” (se a primeira permissa estiver coberta, o passar dos anos ajuda à quantidade). Lembro-me das minhas primas, nos idos anos 70 quando os meus pais nos traziam à Metrópole nas férias escolares, me levarem a ver o magnífico pôr do sol do Guincho ou das Azenhas do Mar. Depois, pelo meu pé, vi outros, de Viana do Castelo a Sagres. A primeira coisa que me dei conta foi que aqui, para verem um pôr do sol bonito, as pessoas rumam em direcção ao mar. Também o vi em Brighton (nesse dia ele estava lá para se pôr), em Mombassa, em Copacabana, em Búzios e em Jericoacoara (dizem que é o mais belo do Brasil). Em Punta del Este e na foz do Rio da Prata. Em Pedra Lume, na Ilha do Sal (mais bonito que em Santa Maria), em Agadir e em Havana. No Lobito, em Moçâmedes (magnífico) e em Luanda. E noutros locais recôndidos de que não me recordo agora e se não me lembro é porque estavam destinados ao esquecimento. Em África, as pessoas quando querem ver o mais belo pôr do sol rumam à savana, ao mato como lá se diz.
Lá no mato, uma tarde quando o sol se pôs, o meu pai, era eu um adolescente orgulhoso por ser seu fiel escudeiro nas caçadas à perdiz, e por me sentir já mais homem que os outros, convidou-me a fazer um exercício simples. Vira-te para ali, para onde o sol se está a pôr e olha para horizonte, que me pareceu infidável nessa tarde. Tens que esperar até que ele desapareça por completo. Assim fiz, pacientemente. Agora, sem tirar os olhos do céu, vira a cabeça para trás até onde conseguires.
Céu? Qual céu? O céu não é azul? Nesse dia não. Nem só um pedaço de azul, todo vermelho.
Por experiência própria fiquei a saber que assim é, e não só na África onde estão as minhas raízes. O mais belo de todos, um que deixou todo o céu ainda mais vermelho, vi-o na região Masai, algures onde o Quénia e a Tanzânia perdem a noção das suas fronteiras concebidas pelo Homem e onde a natureza juntou as terras de Mara e do Serengueti.
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2 comentários:
.. só uma coisa lhe digo agora: valeu o desafio e a sua anuência ..
Fantástico pedaço este .. feito de cor e de memória :)
dia bom ..
Grato...
:)
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