De África ficaram-me tantas memórias. Memórias que o tempo, demolidor como só ele sabe, se encarregará de apagar. Mas há algumas que creio sair vencedor desse duelo com ele. O mar é uma delas. O mar que banha África Ocidental é o mesmo que acaricia as areias que pisamos nas praias deste nosso Portugal. Chamam-lhe Atlântico, para mim é simplesmente mar. Lá, como cá, também muda de cor, umas vezes azul, outras vezes em tons de verde, umas vezes transparente e cristalino, outras turvo e ameaçador, e outras há ainda em que até parece que é feito de prata. O mar lá também namora e tem arrufos com a lua e manifesta o seu desamor com marés impiedosas, quando ela é devassa sob o seu olhar romântico. Então porque é que eu o acho diferente? Porque é que o acho maior? Porque é que por estas paragens parece que o mar tem fim, mesmo quando toca o céu, tornando a linha do horizonte real? Lá não, a linha permanece imaginária.
Diz-se que em África, quando uma pessoa não tem sonhos e se aproxima do mar, quando se afasta leva com ela uma mão cheia deles. Em África, naquela onde estão as minhas raízes, não há Verão nem Inverno, o mar faz parte das nossas vidas o ano inteiro e todo o dia, mesmo quando a noite chega. Lá não se diz vamos ao banho, lá diz-se vamos dar um mergulho. Lá não se diz vamos passear pela praia, que cá usamos da mesma maneira quando vamos passear ao jardim ou pelo campo. Lá diz-se vamos ver o mar. Também se passeia pela praia, mas vamos lá para o ver. O mar lá é quente, aqui é frio. Lá parece que nos convida e acolhe, aqui olha-nos desconfiado e frívolo. O mar lá não é melhor nem pior que aqui, apenas diferente. E como as diferenças são tão grandes...
Talvez por isso eu o ache maior.
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2 comentários:
mike .. que "quadro" .. :) a "imensidão" por lá tem outra imagem .. aquela que nos conseguiu transmitir .. :)
dia bom
Será que consegui? Hum... talvez um pouquinho... pronto, vou acreditar que sim. Pelo menos esforcei-me. :)
Dia bom.
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