9.10.07
A mão de obra estrangeira subtrai emprego aos portugueses, não é pai? Não minha filha!
Os meus filhos foram, e têm sido, educados a respeitarem os valores da tolerância, assim como das diferenças do ponto de vista social, seja elas religiosas, sexuais, raciais, ou outras. No que diz respeito à diferença racial pouco ou nada poderiam fazer para renegar as origens de uma bisavó de raça negra e uma avó mestiça... omitir ou fingir que a bisavó não existiu já que nem a conheceram pessoalmente, era uma hipótese plausível. Mas, felizmente, que isto de educar às vezes prega-nos algumas partidas, não só não renegam essa diferença racial que as origens lhes impõem, como olham para ela como algo natural, que faz parte da vida deles. Posto isto, e para que não restem dúvidas sobre o que a seguir vai ser escrito, avancemos. Há dias a minha mais velha, menina recém formada a gozar um merecido período de descanso dos estudos, um dolce fare niente que ela teima em fare capoeira, dança, surf, Instituto Espanhol e sei lá mais o quê, colocou-me a questão da mão de obra estrangeira qualificada e não só, em Portugal... talvez preocupada com o que sabe que vai ter que penar para se empregar... Não estranhei a visão dela, comum à maior parte dos portugueses... sim, sei que já perceberam... “é de certa forma, mão de obra que subtrai empregos aos portugueses”... A recém doutora, conhecendo o pragmatismo do pai, não estranhou o rotundo estás completamente enganada minha filha, mas foi incapaz de esconder a sua surpresa face aos dados que lhe fui passando, acrescentando que, para além dos números, havia sempre outras questões em causa e que se prendem com a legítima aspiração do ser humano, a procura da dignidade e da melhoria das condições de vida. Dei-lhe como exemplo a nossa emigração nos anos sessenta. Os dados, ou números, como lhes quisermos chamar são claros. A economia portuguesa, entre 1995 e 2005, teria tido um crescimento negativo se não tivesse recebido o contributo da mão de obra estrangeira, com um aumento de cerca de 1,5% do PIB / per capita. Se não fosse essa mão de obra estrangeira, essa mesmo que olhamos de soslaio porque os nossos empregos vem roubar, a riqueza produzida por cada habitante teria diminuído a um ritmo de cerca de 0,6% ao ano. Ah, afinal as pessoas não sabem essas coisas e não sabem o que dizem, atira-me ela com um sorriso nos lábios, quiçà aliviada sem razões para tal (esta parte resolvi não comentar), enquanto caminhávamos por uma Lisboa que parece contrariar os números oficiais... pois, nesses números não constam os dados do sub-emprego, desemprego e situações de vida dramáticas vividas pelos imigrantes. Mesmo assim ainda lhe atirei à laia de conclusão que os estrangeiros que cá trabalham fazem o trabalho que os portugueses não querem fazer. Ela concordou, acrescentando, hoje já aprendi alguma coisa, pai... amanhã serei eu a aprender, filha. E ainda bem.
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7 comentários:
Parabéns Pai .. por elucidar, explicar, perder tempo com ..
Ainda bem, digo eu também :)
Se trocar o perder por ganhar tempo com, aceito os parabéns (risota) :)
troca feita Mr.Mike .. ;)
Dia bom por aí ..
"estrangeiros que cá trabalham fazem o trabalho que os portugueses não querem fazer".
A este tipo de afirmação apetece-me sempre acrescentar: "com a remuneração e o estatuto social que lhe está associado".
Se se pagassem salários dignos, e um trolha ou um empregado de mesa não fosse olhado de cima para baixo, tenho a certeza de que haveria mais portugueses a querer esses trabalhos.
Lembra-me mais uma vez o patrão da Nike, quando interpelado por Michael Moore em "Downsize this":
"Porque não fazer os sapatos nos estados unidos?"
"Os americanos não querem fazer sapatos"
"E se eu lhe arranjar 10 000 americanos que querem fazer sapatos? Faz uma fábrica cá?"
"Vou pensar nisso".
Michael Moore voltou com 10 000 nomes recolhidos entre os seus conterrãneos de Flint, Michigan.
"Estão aqui 10 000. E agora?"
(riso amarelo)
"It's not gonna happen"
A questão da imigração serve demasiadas vezes como alibi para fazer dumping social...
É verdade sim senhor, l.rodrigues, e esse exemplo da Nike, que desconhecia, é paradigmático. Mas o dumping social olho-o com alguma relatividade, talvez por ter começado a trabalhar como servente de pedreiro, numa altura em que a construção não estava "ocupada" por cabo-verdianos... é que precisava mesmo do dinheio... ;)
Desculpem ir entrando assim sem ser convidada, mas o post e tb os comentários me chamaram atenção.
Esse tipo de coisa não acontece só aí em Portugal.
Aqui no Brasil isso tb é muito comum.
As empresas dizem que falta qualificações aos candidatos, o que eu acho uma injustiça, pois até os qualificados são "trocados" por estrangeiros, como se tudo que for "lá de fora", é melhor dos que tem aqui.
Indignação é o que sinto.
intiresno muito, obrigado
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