29.10.07

África XVII. E por falar nos flagelados do vento-leste...

... aqueles a quem o poeta caboverdiano Ovídio Martins presta homenagem, gente da sua terra e gente que, por essa África fora sorri na probreza e da pobreza, e da vida dura de quem nasce flagelado pelos ventos, habituada que está a ter as costas voltadas e não os braços abertos, numa África abandonada quando não é cobiçada... eles são assim, os flagelados do vento-leste...

Eles são os flagelados do Vento-Leste!
A seu favor não houve campanhas de solidariedade
não se abriram os lares para os abrigar
e não houve braços estendidos fraternalmente
São os flagelados do Vento-Leste!
O mar transmitiu-lhes a sua preserverança
aprenderam com o vento o bailar na desgraça
as cabras ensinaram-lhes a comer pedras para não perecerem
São os flagelados do Vento-Leste!
Morrem e ressuscitam todos os anos
para desespero dos que os impedem a caminhada
teimosamente continuam de pé
num desafio aos deuses e aos homens
e as estiagens já não lhes metem medo
porque descobriram a origem das coisas
São os flagelados do Vento-Leste!
Os homens esqueceram-se de lhes chamar irmãos
e as vozes solidárias que têm sempre escutado
são apenas as vozes do mar que lhes salgou o sangue
as vozes do vento que lhes entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das suas montanhas
estranha e silenciosamente musicais
Eles são os flagelados do Vento-Leste!

(Adaptado do poema de Ovídio Martins, poeta caboverdiano).

1 comentário:

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado

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