22.10.07
África (XV). Eu? eu vou para o pontão.
Mesa posta cuidadosamente, as toalhas de um branco imaculado ofereciam-nos um pequeno-almoço farto, um belo mata-bicho, como se diz para aqueles lados. Um sol magnífico, brilhante e radioso, recebeu-nos mal passámos a porta dos quartos. A brisa marítima atenuava a força castigadora do calor que nos empurrara para fora das camas e abria-nos o apetite. Era cedo mas a sala estava já composta, para não dizer cheia. Os amigos organizavam-se, tentando chegar a um consenso sobre como ocupar o dia, ainda reféns de um quotidiano preenchido que nem há vinte e quatro horas fazia parte das suas vidas. Eu ouvindo, divertido, e observando. Cinco minutos bastavam para poder afirmar a pés juntos quem tinha acabado de chegar e quem estava prestes a partir, e não era apenas pela visão da tez morena e dos corpos bronzeados que, tal como o algodão, não enganavam. Podia afirmar, bastando para isso atentar à indumentária dos turistas. As camisas, calções, sandálias e acessórios e relógios de marca dos que tinham acabado de chegar, haviam dado lugar a t-shirts simples, calções de banho e chinelos, ou nem isso, nos que se preparavam para partir, convertidos que estavam à simplicidade daquela terra e daquelas gentes. As senhoras queriam estender-se ao sol, ávidas que estavam de bronzear os corpos; eles na dúvida, uns querendo saber o preço do aluguer das motas de água, outros desejando iniciarem-se no mergulho e outros ainda curiosos sobre como se sairiam no desafio do instável equilíbrio sobre as pranchas de wind surf. Também havia quem quisesse alugar um jipe para dar uma volta à ilha ou dar um passeio a cavalo. O que é que achas Mike? Passei a mão pelo queixo, desviei o olhar lá para fora, através da vidraça, e os meus olhos quedaram-se no envelhecido e gasto pontão de madeira, como um braço do areal que parecia querer abraçar o mar. Desviei o olhar para o horizonte, onde se podiam avistar as pequenas embarcações dos pescadores dirigindo-se a terra. Eu vou para o pontão. Vou assistir à chegada dos pescadores, ao desembarque do atum e à pescaria dos meninos crioulos. E senhoras, mesmo que consigam, e eu tenho algumas dúvidas, antes do meio dia saiam do sol, se querem chegar bronzeadas a Lisboa. E senhores, temos tempo, temos muitas horas durante esta semana para fazermos todas essas outras coisas. E se não as fizermos aqui, podemos fazê-las no Guincho, em Lisboa, na Ericeira ou em Cascais. Relaxem, não se apressem, usufruam, aproveitem para viver cada minuto, não como se do último se tratasse. Eu vou para o pontão, se calhar até encontro o Américo, ele que é cioso do peixe que serve no seu humilde restaurante e que ele próprio gosta de escolher. E depois? vais fazer o quê? Encolhi os ombros e sorri... sei lá, depois logo vejo. E os amigo acharam que depois logo veriam também, juntando-se a mim a caminho do pontão para assistir ao desembarque do atum e à pescaria dos meninos.
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2 comentários:
.. e um pontão com uma vista dessas era tudo o que queria agora para poder descansar um pouco ..
bonito episódio este Mike .. como todos .. :)
… os pontões por vezes estão à nossa frente, nós é que não os vemos ;) e aquele, em Santa Maria, na Ilha do Sal nem tem nada de glamoroso... velho, gasto, mas lá acontecem coisas simples que merecem ser saboreadas...
Grato miss Once :)
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