Olha pela janela, ainda é noite mas o dia não tarda está aí a despontar. Não sabe porquê, nem lhe interessa, mas em África, a das raízes inconscientes dele, o amanhecer acontece num zás, num ainda é de noite não era? Os preparativos levam menos tempo que vestir-se, lavar os dentes e a cara. Vestir-se... pois sim... vestir o calção de banho que à pesca vai-se tronco nu e descalço. Mata-bicho tomado, frasco grande de vidro cheio de pão seco na mão e ala que se faz tarde. Então ele não ia pescar? Onde raio está a cana de pesca, azóis, chumbadas e isco? Se calhar trazem os amigos... Não, não trazem e vão todos pescar. Vão pescar taínhas, esse peixe a que se habituara a ouvir o pai chamar de imundo e que, na melhor das hipóteses serve para isco. É a esta hora da manhã, quando o sol ainda não começou a sua subida vertiginosa que ele as pesca, com o tal frasco e pão dentro, que depois, quando já faz muito calor, caça-as com uma pressão de ar, mira bem calibrada, pontaria afinada e o tiro certeiro quando elas estão de dorso de fora a apanhar banhos de sol. Ele já com água por baixo da cintura na companhia do ladrar de alguns cães que, de passagem, resolvem implicar com o chilrear das gaivotas, frasco pousado no fundo do mar esperando que as tresloucadas das taínhas entrem sem conseguirem encontrar o caminho da saída, peixes tontos. É até deixar de ver o frasco. Depois é simples, basta tapar o bucal e despejar o conteúdo do frasco na areia, à beira mar. As mais pequenas voltavam para as águas calmas da baía. Menos de duas horas depois, já com o sol implacável a fustigar-lhe as costas e os ombros, o regresso a casa com isco suficiente para meia dúzia de pescarias a sério, essas com cana de pesca. Infância feliz a dele, à beira das águas plácidas da baía ou do mar revolto que ficava do outro lado da avenida. Na África das suas raízes.
4.9.07
África (VII). Pescar sem cana nem anzol.
Olha pela janela, ainda é noite mas o dia não tarda está aí a despontar. Não sabe porquê, nem lhe interessa, mas em África, a das raízes inconscientes dele, o amanhecer acontece num zás, num ainda é de noite não era? Os preparativos levam menos tempo que vestir-se, lavar os dentes e a cara. Vestir-se... pois sim... vestir o calção de banho que à pesca vai-se tronco nu e descalço. Mata-bicho tomado, frasco grande de vidro cheio de pão seco na mão e ala que se faz tarde. Então ele não ia pescar? Onde raio está a cana de pesca, azóis, chumbadas e isco? Se calhar trazem os amigos... Não, não trazem e vão todos pescar. Vão pescar taínhas, esse peixe a que se habituara a ouvir o pai chamar de imundo e que, na melhor das hipóteses serve para isco. É a esta hora da manhã, quando o sol ainda não começou a sua subida vertiginosa que ele as pesca, com o tal frasco e pão dentro, que depois, quando já faz muito calor, caça-as com uma pressão de ar, mira bem calibrada, pontaria afinada e o tiro certeiro quando elas estão de dorso de fora a apanhar banhos de sol. Ele já com água por baixo da cintura na companhia do ladrar de alguns cães que, de passagem, resolvem implicar com o chilrear das gaivotas, frasco pousado no fundo do mar esperando que as tresloucadas das taínhas entrem sem conseguirem encontrar o caminho da saída, peixes tontos. É até deixar de ver o frasco. Depois é simples, basta tapar o bucal e despejar o conteúdo do frasco na areia, à beira mar. As mais pequenas voltavam para as águas calmas da baía. Menos de duas horas depois, já com o sol implacável a fustigar-lhe as costas e os ombros, o regresso a casa com isco suficiente para meia dúzia de pescarias a sério, essas com cana de pesca. Infância feliz a dele, à beira das águas plácidas da baía ou do mar revolto que ficava do outro lado da avenida. Na África das suas raízes.
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2 comentários:
"..Infância feliz a dele.."
lucky man Mr. Mike ..
thank you for the sharing ;)
(mesmo correndo o risco de me repetir .. antes esse que o da palavra calada .. que bem escreve a Exa.)
Vénia (corada) miss once. ;-)
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