Conheci a Marília (o nome verdadeiro não é este, obviamente) em S. Paulo. Era uma das senhoras que tratava da limpeza e de servir os cafés na empresa onde trabalhei. Marília era (e espero que continue a ser) uma jovem mãe de três filhos, o mais velho era uma menina que devia ter na altura para aí 10 anitos. Os outros dois vinham em escadinha, como costumamos dizer. Jovem mãe e sozinha que o marido ao terceiro abalou (está visto que meteu saias) e ela nunca mais lhe pôs a vista em cima quanto mais numa mísera nota de cinco reais. A Marília vivia com os filhos na Favela Paraisópolis e, nas suas próprias palavras, rezava e dava graças a Deus todos os dias pelo menos por dois motivos: por ter um emprego (de empregada da limpeza!) à sua espera todas as manhãs e o salário no dia certo todas as quinzenas, e para que os filhos se mantivessem no caminho do bem e estudassem para terem empregos melhores que o dela. Um dia, daqueles em que à chuva se passa a chamar dilúvio, daquela chuva torrencial que arrasta tudo à sua frente, ouvi-a a rezar baixinho na copa da empresa, pedindo a Nossa Senhora Aparecida que lhe cuidasse da prole que tinha ficado sozinha em casa (o significado de casa nas favelas é algo diferente, para ser simpático, daquele que atribuímos quando nos referimos ao lar que nos espera no dito regresso a casa). Ela não me viu e eu, por respeito, ou por outro motivo que não consigo definir, afastei-me e deixei-a a sós na sua prece... a sós não, com a Nossa Senhora Aparecida. À hora de almoço, que o assunto não me saía da cabeça, comentei-o com um colega, acrescentando despropositadamente, a minha opinião sobre a situação insólita... feito estúpido, concluí eu, o senhor instruído, pouco depois de ouvir a explicação. Veja bem, caro Mike, ela não quer faltar ao emprego, o seu único ganha pão, pode até ter um celular, mas os filhos não têm de certeza e telefone em casa, se tem, o que eu duvido, hoje nem deve funcionar... veja bem companheiro, ela fica aqui num desespero e só volta para casa tarde, no final do dia, sem saber nada deles... e quando chega, o casebre está de pé e é recebida com os sorrisos dos seus três filhos... você está entendendo Mike?... depois de passar o dia a rezar a Nossa Senhora Aparecida... acha que ela deve isso a quem? que ela tem fé em quem? Entendi sim e engoli em seco... pois, vá-se lá dizer à Marília que a fé, tal como vem nos dicionários não existe... Eu cá nunca mais “brinquei” com a fé, principalmente com a dos outros.
Bem, haja fé num bom fim-de-semana, que é o que eu desejo a todos, incluindo a Marília. ;)
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2 comentários:
e se vale bem a oração o sorriso dos filhos .. sensata Marília :)
Gostei Mr. Mike *
Grato Miss Once :)
Dia bom para si.
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