13.9.07

Africa (XI). A Terra é redonda.

O apelido de Joseph Thomson, o primeiro europeu a empreender a travessia de território queniano entre Mombassa, na costa oriental e banhada pelo Índico, e o Lago Vitória, deu o nome a umas quedas de água – Thomson Falls, que originalmente se chamavam Nyahururu Falls (e ainda se chamam). As Thomson Falls, assim me foram apresentadas pelo meu guia (esse mesmo, o Youstous) situam-se em pleno equador. Se olharmos para o mapa, meu companheiro inseparável nessa viagem, essa linha imaginária que divide o planeta em duas metades, atravessa as Thomson Falls, que incluí no itinerário da viagem sem saber bem porquê, mas não me arrependi de estar ali não só pelo que os meus olhos viam, mas também porque o meu pensamento me levou a imaginar a travessia daquele explorador nos finais do século XIX. Youstous, contudo, encarregar-se-ia, nesta altura as cerimónias já tinham ficado algures perdidas na savana africana, de tornar aquele dia inesquecível e não pelas razões ou belezas naturais que nos tinham ali levado. Perguntou-me se me podia levar até perto de Nanyuki, cidade conhecida pelos viajantes por ser lá que está o famoso Mount Kenia Safari Club, no qual consta uma lista de membros assinalável (Winston Churchill, Bing Crosby, Bob Hope, Hemingway, etc). Se é para me mostrares o Clube, agradeço-te mas não estou interessado. Sabes, quando marquei a viagem podia ter incluído uma noite lá... e tenho a certeza que deve ser fantástico, com uma atmosfera impressionante. Mas estás-me a ver, a mim, aqui no mato, a ter que vestir um blaser e a não poder usar jeans na sala de jantar? Ele deu uma gargalhada contagiante e ainda a rir balbuciou que não, que não estava a ver, mas insistiu em levar-me pela estrada que chega a Nanyuki pelo sul e atravessa o equador. Esclarecidas as coisas, porque não? vamos lá embora para não chegarmos, já noite, às tendas onde iríamos pernoitar. E fizemo-nos à estrada na Bedford matreira que nesse dia bufava que nem uma louca. Lembro-me de estar um calor insuportável, abafado. Já próximos de Nanyuki, a beira da estrada apinhada de gente, uns a vender, outros a comprar, motoretas carregadas, crianças a brincar, Youstous afastou-se do burburinho e parou. Enquanto se dirigia à bagageira da van ia dizendo, aqui passa o equador, aqui mesmo. Aí mesmo onde estão os seus pés, acrescentou quando me viu apeado, ele já de funil numa mão e garrafa de água na outra. Onde é o hemisfério norte? atira-me com um sorriso desafiador, eu ainda baralhado com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo. Arrisquei e acertei. Venha comigo, vamos dar 50 passos daqui (da linha imaginária do equador) em direcção ao hemisfério norte. Fui seguindo as instruções: segurei o funil direito enquanto ele deitava água, olhei para a parte de dentro do funil e vi a água a sair. Para que lado roda a água no interior do funil? deixa lá ver... para a esquerda. porquê Youstous? Não houve resposta, apenas mais uma instrução. Agora caminhemos ao contrário, os mesmos 50 passos. Vamos fazer o mesmo mas no hemisfério sul... e não é que a água do funil, ao sair roda para a direita? Pasmei, ele riu-se, voltámos à Bedford e ao arrancar diz-me sem tirar os olhos da estrada e entre uma gargalhada bem disposta, a terra é mesmo redonda Mr. Mike. Eu sei Youstous, eu sei, já Plínio aceitava a ideia, Ptolomeu desconfiava e Pitágotas achava que sim. Mas tu mostraste-me à tua maneira, sem ter que ler num livro, ver num documentário ou numa fotografia do espaço tirada por uma qualquer nave espacial. Não me arrependi de ter ido para ali, de estar ali, nos confins de uma África onde não estão as minhas raízes.

3 comentários:

CPrice disse...

Não estão.

Mas deixou lá ficar um pouco e trouxe outro tanto consigo ..

:)

Mike disse...

Acho que sim...
:)

Tâmarinha disse...

Oooh papa, a Terra não é redonda!!! rs rs *;)

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