26.11.08

24.11.08

Porque hoje é السبت، الاحد


As minhas actrizes favoritas:

Scarlett Johansson

Dar-se à vida e partilhá-la. A aprendizagem e a desaprendizagem.

"Os compromissos que adquires para a vida deverão ser assumidos na íntegra por ti. Todos? Sim, considera-os teus. Os compromissos materiais e os outros? Sim, todos. Não sei se concordo. Repara, e tu sabes do que estou a falar, na vida as coisas repartem-se, os bens materais, as tarefas, as agruras, os filhos, tanta coisa. Dizes bem, sei do que estás a falar. Por isso não te esqueças que os compromissos que assumes só a ti pertencem."

O diálogo não foi exactamente assim, concerteza, mas este breve trecho retrata o conteúdo de uma conversa entre pai e filho. O filho não se deu por convencido na altura, mas hoje sabe que o pai o convencera. E hoje também sabe que foi para o bem e para o mal, como em tudo na vida. O filho, que não é homem de olhar para trás, nos breves instantes em que o faz, chega à conclusão que já há bastante tempo rege a sua vida de acordo com este princípio que, a custo, tem renitência em chamar-lhe ensinamento. Cultivar a auto-suficiência não lhe retirou a capacidade de se dar. Dar-se a causas, às pessoas, aos amigos, a quem ama. E contribuiu para que se sentisse melhor consigo próprio, mais seguro, mais autónomo, diria, sabendo quão falicioso poderá soar, mais livre. A ponto de incluir este princípio na educação da terceira geração. Para o bem fica a não-dependência, o sentimento de que a vida e o que ela lhe traz de bom e de mau, apenas depende dele próprio, que a tem nas suas mãos, não deixando que as rédeas passem para outras. Eu disse que o filho hoje sabe que é para o bem e para o mal, não foi? E para o mal? Para o mal, é facilmente esquecido o verdadeiro significado da palavra partilha. O filho esqueceu-se, e voluntariamente, se não temer ser honesto, do que é partilhar sentimentos, dificuldades, já não se lembra o que é repartir tarefas numa casa, dividir as más horas do dia com alguém. Habituou-se a tomar as grandes e pequenas decisões sozinho, contando para isso apenas com ele próprio. Repararam que quando se fala de partilha, o filho menciona as coisas difíceis e menos boas? Entendo-o. É que quando são boas ele dá-se a elas, mas sendo menos boas, ele continua a dar-se mas esquece-se que existe a partilha. E agora? Princípio ou ensinamento? Para o bem e para o mal, como em tudo na vida, o filho dá-se à vida mas, e fez por isso, desaprendeu a partilhá-la.


Lembrei-me desta conversa entre pai e filho a propósito de um post num Esconderijo.

22.11.08

Post(o) a nu (mas sentado). *

Se bem compreendi, devemos escolher um músico, um compositor ou uma banda. Feita a selecção, e creio também ter compreendido que a escolha admite apenas uma opção, o que, convenhamos, é um bocado redutor, mas regras são regras e entendo que esta não deve ser quebrada, cumpre-nos responder às dez questões. Li as perguntas às quais devem ser dadas respostas e a minha intuição segredou-me que teria que ser uma banda. Porque teriam que ser músicos que me acompanharam desde muito cedo e que atravessaram este quase meio século comigo entre aventuras, venturas e desventuras. Músicos que marcaram várias gerações, que escrevem sobre a vida, subversão, virtude, pecado, transgressão, amor e desamor, paixão, felicidade e infelicidade e, quer se queira quer não, quer se goste ou não, continuam contemporâneos apesar de serem já avôs. Não se gosta de muito do que escrevem ou musicam. É natural, escreveram muito e musicaram muito também. Mas isto não é suposto ser um post sobre os Rolling Stones, pois não? Agora sim, concisamente, como diz a Luísa que, achando os meus gostos musicais mais ou menos enigmáticos, me passou a responsabilidade da escolha.

* Título roubado ao Paulo e ao seu Duro das Lamentações


1. És homem ou mulher?

Travelinn’ Man

2. Descreve-te.

Still a Fool

3. O que as pessoas acham de ti?

Cool, Calmed and Collected

4. Como descreves o teu último relacionamento?

It’s All Over Now.

5. Descreve o estado actual da tua relação.

I Wanna Be Your Man.

6. Onde querias estar agora?

Nearness of You

7. O que pensas a respeito do amor?

Everybody Needs Someone to Love

8. Como é a tua vida?

God Gave Me Everything

9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo?

Wake Up in the Morning

10. Escreve uma frase sábia.

Don’t look back

19.11.08

E o saloio a pensar o que fazer.

Precisas que te façam um desenho ó totó? Põe os olhos nessa bela mulher, de formas generosas onde a volúpia e a sensualidade parecem não ter fim. E depois de os pores não te fiques por aí. Perde-te antes por lá.

Comunicar e o antes de comunicar.

Num dia em que estava do contra, questionando tudo, mesmo o que aparentemente se afigurava inquestionável (não sei bem porquê mas sinto-me bem nesses dias), e ao ler um texto que me agradou e que nos dava a conhecer um conhecido conto árabe em que a importância da arte de comunicar era, afinal de contas, a moral da história, manifestei a minha discordância justificando o meu comentário com o facto de haver um passo que antecede um dos grandes desafios da Humanidade, que é a arte de comunicar. Importante mesmo é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas. É verdade, é importante e faz realmente a diferença até porque a maior parte das vezes tom é conteúdo, quer se queira, quer não. Mas há um passo que considero fundamental e já agora, porque não, constitui a meu ver outro grande desafio para a Humanidade. Um passo que antecede um acto que requer arte como é o de comunicar. Essa etapa anterior tem a ver com o conhecimento. Sem ele e por mais que haja mestria e arte ao comunicar, a mensagem corre sérios riscos de se perder, deturpar, ser mal interpretada ou quedar-se ineficaz. Comunicar pressupõe a existência de um receptor da mensagem. Conhecer a quem nos dirigimos é a pedra basilar que contribui para que a comunicação seja eficaz. Nesse conto que li, ainda mais importante que a arte de comunicar, é o facto do segundo adivinho conhecer o sultão melhor que o primeiro. Saber o que ele gostaria de ouvir. Tal como em Roma acontecia com os senadores e conselheiros que diziam, com mais ou menos arte, o que César queria ouvir. Porque mesmo com toda a arte, se o que fosse dito não agradasse a César, o mestre da comunicação tinha um triste fim. Poderão contrapor que a arte de comunicar, mais do que feita de palavras, é também a arte de conhecer. Aceito. Mas convém não misturar as coisas e assim evitar que os passos não sejam dados de forma cirúrgica.

16.11.08

A reconquista de territórios nunca foi tarefa fácil e tem sempre consequências.

Um homem divorcia-se e, apesar de viver com os filhos, uma das perspectivas que volta a colocar a si próprio é a da reconquista de territórios outrora perdidos ou cedidos. Leiam-se territórios, espaços vitais que estão ali a nossos pés, rogando que os aproveitemos ilimitadamente. Pura ilusão. Há casos em que um homem divorcia-se mais continua a viver com mulheres, mesmo no exagero de considerar mulher uma delas, com dez anos. Às minhas filhas não lhes basta o quarto que nem é partilhado, tendo cada uma o seu. À mais nova, a de dez anos, bastou ouvir que se estava a ponderar a remodelação do quarto dela para, sem hesitar, reclamar uma cadeira para além da que está na escrivaninha. Uma bola de cristal é absolutamente dispensável para se adivinhar o uso que será (ou seria?) dado à cadeira. Elas parecem polvos de enormes tentáculos, ou medusas gigantes, ocupando um espaço e marcando um território como foras-de-lei no Oeste americano. Não o marcam a tiros, mas fazem-no com uma mestria, rapidez e talento de que só as mulheres parecem ser possuidoras. Quando as escrivaninhas delas estão incapazes de ser utilizadas, a mais nova ocupa a minha mesa de trabalho e a mais velha a da sala de jantar. Quando a minha mesa passa a estar imprópria e na mesa da sala de jantar já não cabe nem uma maçã, uma delas estende mais um tentáculo e ocupa a mesa de centro da sala de estar e os sofás. A outra, parecendo disputar um território que acredita pertencer-lhe, acerca-se do irmão mais velho e, claro, convence-o a ceder-lhe parte do quarto, empurrando-o, enquanto o Diabo esfrega um olho, de lá para fora. Os homens da casa desesperam diante da inevitabilidade de lhes sobrar o chão e parte da bancada da cozinha. Quando se aprestam a entregar-se ao que parece ser mais uma derrota, prontos para assumirem que o território foi definitivamente conquistado pelas madames, eis que a salvação chega pelas mãos do mais novo que tem quatro anos. Pai, precisamos de espaço para brincarmos às construções com o Lego. Caramba, nesses momentos, o verbo utilizado na primeira pessoa do plural soa-nos como trombetas que nos devolvem a coragem e também a crença de que algo poderá mudar e que, afinal, o território, o tal espaço vital não está ainda perdido. O prazer começa quando miramos o olhar aterrorizado das mulheres da casa. Sim, madames, preparem-se para o pior. Recolham o que puderem que a Cavalaria está a chegar. O mais novo, esse aprendiz de pirata, delicia-se, e um sorriso de predador surge no seu rosto. O mais velho grita we came in peace, you go in pieces e eu, com um sorriso cândido, mas sentindo que o poder está nas minhas mãos, apenas murmuro um hasta la vista babies. Nem questionamos o trabalho de arrumar as centenas de peças de Lego que são despejadas nas mesas e no chão das salas. O ruído é aterrorizador, mais parecendo o ribombar de canhões apontados a territórios outrora livres e agora ocupados pelas madamoiselles. Gritos, o pânico vive-se nas salas e elas tentando recolher o pouco que sobra dos seus exércitos, recuam em debandada para o escritório. Tarde de mais. O mais novo corta-lhes a retirada e o caos instala-se. Um dos baldes de Lego houvera devolvido o território que as invasoras acreditaram ter sido conquistado para sempre. Elas sentem-se perdidas, adivinham a derrota e recolhem aos respectivos quartos. O mais velho regressa ao dele e, num tom de voz que faz prever o pior, avisa que irá ler as mensagens do telemóvel que encontrou no seu território. Alvoroçadas e em pânico, saem ambas dos quartos, chocam uma com a outra, parecendo duas personagens de um filme de bonecos animados. Barro-lhes o caminho. Onde pensam que vão meninas? Mas pai... tarde de mais, não há lugar a mas. O mais novo excita-se, leva a batalha a sério e atira com uma peça de Lego à mais nova, que se enfurece. O mais velho diz que já leu cinco mensagens e ri-se. A casa está o caos, mas as cancelas da fronteira só são erguidas quando se comprometem a levarem o que lhes pertence para os seus quartos. Despojos de guerra, como lhes chamo. A dona do telemóvel implora. Levanto o braço e deixo-a passar. A que não é a dona suspira de alívio. O cão do vizinho de cima ladra empolgado com a disputa residencial que se assemelha a uma batalha campal. Despojos de guerra esperam tombados e inertes, aguardando a recolha. Dizia eu que um homem divorcia-se e pensa que a reconquista de alguns territórios é um dado adquirido. Mas não, a ocupação de territórios nunca foi, nem será, tarefa fácil ou sem consequências. Uma delas é ter que arrumar o Lego.

13.11.08

Como olhamos o futuro e a reforma? De maneira diferente dos holandeses.

Momento de pausa no trabalho e descontracção ao almoço, numa Amsterdão onde os raios de sol foram tomando conta do céu, afastando civilizadamente, ou não estivéssemos na Holanda, as nuvens escuras que borrifaram as ruas com uma chuva tímida nos últimos dias. Um dos temas, o último, foi o futuro associado à reforma, essa coisa distante mas tão próxima nos tempos que correm, que não impede os holandeses de continuarem a sorrir. Nem a mim, mas por razões diferentes, umas piores, outras melhores. Vamos às piores primeiro e deixemos as melhores para o futuro. As piores prendem-se com o facto de, há muito, ter baixado a fasquia das expectativas. Espero e sei que terei, uma reforma má, não me atrevo a dizer miserável que sei olhar para o lado, uma reforma que será, em tudo, desajustada ao que trabalhei. Bater-me-ão nas costas em sinal de agradecimento e serei chutado para canto quando a energia me faltar, e um jovem ocupar o meu lugar. As virtudes escrevem-se na água e os defeitos gravam-se na pedra. A vida é assim mesmo, a reforma é que não devia ser. Como disse, nada como baixar a fasquia das expectativas e ser realista. Mas não deixa de ser uma má razão. Vamos às boas que é de futuro que se trata e, quer se queira, quer não, estão ligadas às más. Habituei-me, também há muito tempo, a olhar para o futuro a cada dia que passa, tentando viver bem e com alegria o presente. Projectos? Vi os meus pais perderem tudo, começarem a vida do zero depois dela passar meio século por eles, eu próprio tive que recomeçar tudo de novo e praticamente do zero por duas vezes. Não sou proprietário de casa nenhuma, não tenho terras e não invejo quem tem. Prefiro assim. Aos meus filhos deixo o que os meus pais me deixaram a mim. Uma enxada, educação e valores e princípios que, gosto de acreditar, lhes servirão para encarar o futuro com optimismo mesmo quando a vida não lhes sorrir. Já não é mau. Só peço saúde. Claro que exagero, mas nem tanto, quando digo que os meus projectos tem uma validade de vinte e quatro horas, exactamente as mesmas em que vivo o futuro no presente. É quase certo que não passarei os meus últimos dias, ou seja, a minha reforma, em Portugal. Os meus filhos também estão avisados, não vá o meu futuro pregar-lhes uma partida. Recusar-me-ei sobreviver num qualquer jardim mal cuidado, entre partidas de dominó, contando histórias de um passado que não interessará a ninguém e tendo como ouvintes jovens misericordiosos que se têm como educados, sentindo a dádiva como uma esmola emocional que, no meu caso, cairia em bolso roto. Farei como fazem os holandeses, que procuram outras paragens onde os euros da reformam valham mais e contribuam para que a velhice seja mais aprazível. Eles vão para o Algarve, eu irei para um país africano perto do mar. Eles compram boas casas, eu alugarei uma humilde mas confortável. Eles jogarão golfe, eu irei à pesca num pequeno barco usado e movido por um motor cansado e com poucos cavalos. Eles terão governantas, eu arranjarei alguém que me faça o comer. Eles vestirão roupa de marca e eu viverei de calções e calçarei umas sandálias de vez em quando. Eles verão televisão e eu darei aulas a miúdos sem cobrar um tostão. E apanharei ondas com a minha velha prancha até que as forças me abandonem. E a minha alma alimentar-se-à todos os dias do pôr do sol e o corpo sentir-se-à revigorado quando quando ele nascer. E os teus netos? perguntam-me os portugueses. Os meus netos? Desejarei saber que são felizes e que essa felicidade também passa por saberem o avô feliz, apesar da distância que nos separará. Esforçar-me-ei para que prevaleça o legado dos meus pais, que sempre me disseram que a nossa família passa a ser aquela que constituímos. Porventura estaremos mais próximos que muitos outros avós e netos. Cuidarei que nenhum Banco português, ou mesmo o Estado, use os euros da minha reforma. Como vêem, tenho boas razões, se a saúde não me abandonar, para sorrir quando penso no futuro e na reforma. São diferentes das dos holandeses, mas não deixam de ser boas. Por falar nisto, tenho que me ir deitar, que no futuro, ou seja, amanhã, espera-me mais um dia de trabalho.

12.11.08

Em Amsterdão não há frangos como os nossos.


As lides profissionais levaram-me a Amsterdão, esperando-me batalhas que por sabê-las leais, a elas me entrego com uma convicção inabalável. Amsterdão é uma cidade que gosto de rever. Pacata, ordeira e ordenada, onde tudo parece funcionar e bem. Se dependesse apenas de mim não sairia daqui. Quero ficar, não quero voltar. Encontrei-a sombria, sem surpresa. E revejo um povo jovem, bonito, sorridente, culto e de bem com a vida, mesmo debaixo da chuva miudinha, e pedalando as suas bicicletas apesar do frio que já se faz sentir nas margens do rio Amstel. Esquecera o que mais me tinha agradado quando, há uns anos atrás, visitara a capital dos Países-Baixos. O silêncio. A cidade é silenciosa, muito contribuindo para isso, para além do civismo, o meio locomotor que os que lá habitam utilizam. Apetece-me dar-lhes os parabéns. Exceptuando o clima, não encontro defeitos. Encontrei um, para meu gáudio. Ainda não vi frangos assados como os nossos, como os da Valenciana. E fiquei a pensar, com os botões do meu sobretudo, se a oportunidade não me está a bater à porta em cada rosto sorridente de muitas das esbeltas e belas mulheres com quem me cruzo. Virar frangos pode muito bem ser a minha sina, porquê contrariá-la? E Amsterdão tem, aparentemente, tudo para que o virar dos frangos se adivinhe um bem sucedido empreedimento. Consigo sonhar com o letreiro luminoso à porta do estabelecimento, Mike’s Kippen. E imaginar os holandeses a salivar com o cheirinho gostoso dos frangos a assar. Para já viverei esta magnífica cidade, depois logo se vê. Há que viver o dia de hoje. Amanhã é outro dia.

Meus companheiros inseparáveis (III)


10.11.08

Porque hoje é Pirmadienis.

As minhas actrizes favoritas:

Ingrid Bergman

7.11.08

Quem a meu filho tira espinhas da garganta, minha boca adoça.

Quantos de nós não tiveram já uma espinha atravessada na garganta? E há umas que precisam que o tempo dê tempo ao tempo para que deixemos de as sentir. Mas não são dessas que vos vou falar, e sim das outras, daquelas dos peixes. S. Brás não era homem de deixar que as espinhas ficassem atravessadas em gargantas alheias. Que o diga a criancinha que, já roxa e agonizante, com a pobre mãe a desesperar, foi salva pelas mãos milagrosas do santo. A Ciência teima em afirmar que não foram as mãos de S. Brás as salvadoras, mas uma espátula a desalojar a maldita espinha da garganta da pobre criança. Consta que o santo não se importou com a teimosia da Ciência, sendo que o que era realmente importante era salvar uma vida. A primeira vida que uma espinha ia ceifar, fora salva por uma gancha. Até agora tudo faz sentido, mesmo o facto dos pitos estarem associados a santas e as ganchas a santos. Há que prosseguir antes que perca o fio à meada e o post se estrague. E também faz todo o sentido as ganchas serem doces, aceitando-se sem esforço, de que assim teriam que ser para “adoçar o bico” às crianças, e facilitar o trabalho a quem tinha a paciente tarefa de remover espinhas. A seguir fica a lenda e desconfio que começa por ter origem nos célebres dizeres populares de cariz maternal, que dizem “quem a meu filho tira uma espinha da garganta, minha boca adoça”. Quem franziu o sobrolho ao ler o título e teve a paciência para ler este breve texto até aqui, deve estar a pensar que os dizeres não são assim. Pois desenganem-se, ou como justificar que as quadras populares que associam S. Brás às ganchas sejam do teor que podem ler a seguir?

Eu vou ao S. Brás
De cu p’ra trás
Comprar uma gancha
Pr’ó meu rapaz.

Eu vou ao S. Brás
De cu p’ró lado
Comprar uma gancha
Pr’ó meu namorado.

Post dedicado à
Júlia que, por causa de travesseiros e travessuras, resolveu envolver-me em pitos e ganchas.

Bom fim-de-semana.

Rir antes de adormecer.

Eu gosto. Gosto de me rir antes de apagar a luz do candeeiro da mesa de cabeceira e ter aquela agradável sensação de adormecer rindo. Por isso tenho um livro do Calvin & Hobbes sempre por perto. Ao Calvin juntei o volume 16 de Baby Blues dos autores Rick Kirkman e Jerry Scott. Chama-se 100% Papá, mas creio que fosse mais apropriado dar-lhe o título de 100% Mamã. Recomendo. Para quem gosta de se rir. Independentemente de ser papá, mamã, ou nem uma coisa nem outra.

6.11.08

Yes they could.

Acordei e a minha rotina matinal desenrolou-se como se um dia normal se tratasse. Os compromissos familiares, o cumprimentos de horários, o pequeno almoço, o início de mais um dia de trabalho. Barack Obama, soube-o logo de manhã, é o novo presidente da nação mais poderosa do mundo. Achei que não viveria o tempo suficiente para ver um presidente preto ou uma mulher a ocupar a Casa Branca. Mas também pensara que rumaria à eternidade sem ver o Muro de Berlim cair. Não vibrei com as eleições dos EUA. Fui-me mantendo informado mas nem a recta final, com as previsões a anunciarem o que achava que nunca veria, espicaçaram o meu interesse. E mantive-me céptico até meio do dia, sabendo que o marketing é tudo mas nem tudo é marketing. Obama é um execelente marketeer e isso causou-me sempre um desconforto porque, digam o que disserem os especialistas na matéria, as pessoas só são marcas ou produtos no papel, nos estudos, em salas de reuniões e enquanto justificação de campanhas publicitárias. Já li muito sobre a vitória de Barack Obama, candidato em quem votaria, se votasse na Terra do Tio Sam, e os efeitos do marketing e da construção de uma imagem são patentes e incontornáveis. O primeiro preto presidente dos Eua, o discurso, a campanha publicitária, a personalidade e o facto de até ser bonito. Todos os ingredientes, e eu conheço-os bem, para se tornar numa marca bem sucedida. Reconheço à légua os perigos quando se tratam de líderes de países poderosos e não de marcas ou produtos. Li os apoiantes, os que vibraram com a vitória de Obama, os detractores e os cépticos que, indisfarçadamente, esperam o insucesso do novo presidente. Mas o meu cepticismo durou até à hora de almoço. Há momentos na vida em que as pessoas não precisam de um Deus e sim de fé. Barack Obama não é um Deus, e quem o quer transformar em tal, ou o faz de má fé, ou é ingénuo. É um homem, um mortal. Mas ousou questionar. Ousou desafiar. Ousou. Mostrou ser um homem com ideias e, acima de tudo, com ideais. Apresentou-se como uma pessoa de fé, de crença, de mudança. Um homem adepto de rupturas. Insurgiu-se e combateu preconceitos, tradições, comportamentos e ideias antiquadas. Libertou-se de grilhetas, dessas amarras que não nos fazem progredir, que nos mantêm no mesmo sítio, que nos empurram a passo lento pelos mesmos trilhos do passado. Isso não é progredir. Lembrei-me do meu pai e do que ele sempre me disse: não podes esperar a mudança se fizeres as coisas como sempre fizeste. Obama errará. É leviano pensar-se que isso não acontecerá. Ele não é um Deus, é um homem. Mas é um homem que devolveu a fé e a crença a um povo, fazendo-o acreditar que podiam. Que podiam tomar um rumo diferente. Que podiam romper com amarras que o prendiam ao passado. E há momentos na vida, e a História está recheada deles, que ter fé é mais importante que acreditar num Deus. Hoje não é um dia normal, como tantos outros. Hoje, principalmente para os americanos, é um dia diferente, um dia em que a crença os faz acreditar que a mudança é possível, que o futuro pode ser melhor. Eles acreditaram, eles ousaram, eles puderam. Ao contrário de nós, hoje eles sorriem, têm mais vontade, acreditam em algo. Nós continuamos cabisbaixos, soturnos, tristonhos, amarrados ao passado, venerando um fado e entregando-nos a um destino, acreditando num D. Sebastião que nunca chegou nem chegará. Porque não ousamos. Nunca ousamos. Preferimos esperar pelo insucesso dos que ousam, dos que se entregam a ideais, cultivando uma segurança que mais não é que medo. Hoje, para mim, também é um dia diferente, por ter sido surpreendido pelo povo americano. Um povo que acreditou que o futuro não pertence a mais ninguém, senão a ele.

5.11.08

À espera que alguém me diga como se chamam os doces conventuais do Marão.

E à espera que o façam sem o uso de palavras inapropriadas ou que possam ferir, legitimamente, susceptibilidades de quem as possa ou as venha a ler.

4.11.08

Esses doces chamados travesseiros.

Há uns doces que se chamam travesseiros, certo? Começo assim para que ninguém pense que estou a ficar senil, mas apenas me sinto ultrapassado por algumas coisas que, ironia das ironias, nunca chegaram a andar à minha frente. Há dias o som de mensagem recebida no telemóvel deu sinal de si e constatei que a minha mais nova me enviara uma mensagem. E li, estranhando, que ia com umas colegas fazer uns doces, mais concretamente travesseiros. Estranhei e com toda a legitimidade, já que sendo um pai presente, me teriam passado ao lado dotes culinários que não adivinhava na mocinha de dez anos. Mas não devia estar nas aulas? Que raio! Havia que reler a mensagem já que a sensação de estranheza e incredulidade se tinham, definitivamente, apoderado de mim. Reli mais duas ou três vezes. “Pai vou com Júlia, a Ana, a Luísa e a Leonor fazer doce ou travessura a casa de uma amiga delas”. Riam-se, riam-se de um pobre pai atarantado que só ao fim de largos minutos concluiu que era Dia das Bruxas e a mais nova e as amigas não iam, afinal, fazer nenhuns daqueles doces que dão pelo nome de travesseiros. Não! Não estou a ficar senil, apenas, como disse, me sinto ultrapassado por algumas coisas que nunca chegaram a andar à minha frente. E por coisas destas não me importo de me sentir ultrapassado. Até nem gosto de travesseiros, ora.

Meus companheiros inseparáveis (II)


B.B. King... velhos são os trapos, não é Mr. King?

3.11.08

Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Julia Roberts

2.11.08

Antes tarde que nunca.

Antes tarde que nunca é uma das frases de que gosto. Não por ser apologista de adiamentos ou por relativizar prioridades, que na vida convém estabelecê-las e, acima de tudo procurar cumpri-las. Gosto desta frase e, mais do que a frase, do que ela encerra no que diz respeito ao ensinamento de que as coisas importantes devem acontecer ou ser feitas, mesmo que o momento não seja o adequado ou o expectável. Lembrei-me desta frase sem que nada o fizesse prever, já que a origem deste texto nasceu de uma conversa sobre cinema e não se tratava de algum filme em particular que tivesse ficado por ver. A conversa não era de todo séria. Várias pessoas, em final de um almoço, discutiam e manifestavam diferentes opiniões sobre o cinema europeu e americano. E generalizava-se o tema, coisa que é, manifestamente, desaconselhável. Vamos mantermo-nos assim, generalizando, até porque, quer se queira, quer não, há padrões que definem essas duas e tão distintas indústrias cinematográficas. Eu sou adepto do cinema americano. Radicalizando mais a questão, direi que não sou simpatizante do cinema europeu. Assente num preconceito assumido, direi que um filme europeu com uma boa crítica, são os condimentos essenciais para não o ver. Resumindo, acho que o cinema europeu privilegia a ideia, a concepção, o rigor da narrativa e a riqueza do diálogo, sendo, invariavelmente, intelectual e chato. O cinema americano assenta numa indústria bem oleada, experiente, com grandes actores e realizadores, privilegiando o detalhe de produção e o ritmo da história, tornando-a descontraída e agradável como deve ser o lazer. A conversa continuou e rapidamente o teatro veio à baila. Assumi, e assumo, que gosto muito mais de cinema que de teatro. E concluí, logo ali, entre a amigos, que isso ajudava a explicar, de certa forma, a minha relutância em relação ao cinema europeu. As semelhanças deste com o teatro são muitas. Mas a culpa desta minha pequena aversão ao teatro deve-se, e não vou ser meigo nem imparcial ou justo, ao PREC. Em 1975, quando cheguei de Angola, os "donos da cultura” em Portugal tiveram a peregrina ideia de promover o teatro na televisão. Muitos não se lembrarão, mas poderão imaginar o que era, para um jovem de 15 anos, ver a Eunice Muñoz practicamente a declamar na televisão, em cima de um palco e filmada por uma câmara estática. A minha curiosidade foi esmagada pela monotonia daquelas imagens, que passei a associar ao teatro em Portugal. Por vezes via teatro inglês adaptado para televisão e achava-o infinitamente melhor em tudo. Pudera, eles sabiam a importância de promover o teatro noutros meios mas conheciam as diferenças entre ele e o cinema ou a televisão. Assim, e chegou o momento da confissão, a primeira peça de teatro vi-a aos 41 anos, em São Paulo. E puff!, em bom momento, já que gostei. Caso para dizer, antes tarde que nunca.

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