30.9.09

Meus companheiros inseparáveis (XVII)

Florent Pagny

O que é nacional é bom (XV)


São cerca de cinco milhões espalhados pelo mundo. Tenho um profundo respeito e admiração pelos nossos emigrantes. Pelas razões que, creio, todos sabemos, e mais alguma. São portugueses e consta que, na sua esmagadora maioria, são bons.

Brandos costumes, brando futuro.*

*Postado há cerca de um ano.

Somos uma população envelhecida porque nascemos velhos. Veneramos os anciãos e esquecemo-nos de dar a mão aos mais novos. Pior, parece que os obrigamos a pensar e a agir como as gerações passadas. Ainda pior, temos dificuldade em acolher os que pensam e agem de maneira diferente da nossa, a mesma dos nossos avós. Não questionamos e temos relutância em conviver com quem o faz. Não somos inquietos, rejeitamos a inquietação e refugiamo-nos na placidez e quietude dos actos e do pensamento. Temos terror em errarmos e falta-nos coragem para enfrentarmos e lidarmos com o que é novo. O pavor de falhar tolhe-nos os movimentos e as decisões, deixando-nos, invariavelmente, no mesmo lugar. E normalmente não conseguimos esconder um sorriso mordaz quando alguém erra, entre um murmurar "eu bem te avisei", vibrando com uma vitória assente na falha de alguém. A vitória dos derrotados que não conseguem escapar ao sentimento de inveja de quem falha, recomeça e sucede. O queixume invade-nos e entranha-se na alma, inquinando quase tudo o que vem lá de dentro. O verbo que norteia as nossas vidas é o verbo aceitar. Damos os mesmos passos de quem segue à nossa frente por não nos atrevermos a ultrapassá-lo. O início preferido das nossas frases é "no meu tempo", ou "sou do tempo". Pensamos hoje como pensávamos no passado, agiremos amanhã como agimos hoje. Baixamos sempre a fasquia e vangloriamo-nos quando a passamos, esquecendo-nos que a passámos mas continuamos na mediocridade. Tinha curiosidade em ouvir a explicação de um antropólogo sobre desde quando e as razões de sermos assim. Porque Afonso pensava por ele e tinha convicções inabaláveis, cometendo a heresia de questionar e desafiar gerações anteriores. Era inquieto e idealista mas abraçou uma causa, não se ficando pela conversa numa qualquer ameia do castelo. Aqui neste país de brandos costumes, brando pensamento e branda coragem, os jovens só são bons depois de chegarem a velhos e alguns velhos só são bons depois de mortos. Fazemos das amarras grilhetas e parece que só sabemos lançar as âncoras, nunca recolhê-las. Reclamamos mudança mas jamais abdicamos de fazer as coisas da maneira como sempre as fizemos. E teremos o futuro que merecemos. Um futuro como nós. Brando, como gostamos e achamos bem. Brando.

Talvez também por isto, a minha mais velha decidiu partir. No caso dela “isto” não vai lá com a luz única e especial de Lisboa, com a beleza do casario da capital ou com oitocentos anos de História. Diz-se cansada, não só de Portugal, mas do Velho Continente. Decidiu partir e rumar para bem longe, para as antípodas. A Austrália, essa mesmo onde ponderei acabar os meus dias a assar frangos, espera por ela. Caramba, isto para um pai, digo pai, pai mesmo, com quem ela vive desde os dezasseis anos, não é fácil, não acham? Que raio, bem que podia ir para Londres, ou Madrid, sei lá, qualquer outra cidade onde duas ou três horas de vôo abrissem perspectivas de nos vermos de vez em quando. Mas não, logo a Austrália. Mas sabes o que te digo, filha? Sabes porque já to disse. Vai, não hesites, nem olhes para trás. Vai.

28.9.09

Preparada, GJ?

São Paulo é uma cidade de trabalho. É a city brasileira. Não é uma cidade de lazer puro, como o Rio de Janeiro onde o dolce fare niente é uma realidade. Um lazer colocado a preceito para quem trabalha. Uma metrópole assustadora, pela sua dimensão, imensa população (consta que são já mais de vinte milhões) e betão erguido. Quem chega de dia, como acontece (ou acontecia quando lá vivi), ninguém deixa de se impressionar com o tamanho da capital paulistana. Pergunta-me a afortunada GJ, que dicas lhe poderei dar, apesar de A dever remeter para a Marie. A primeira questão que se coloca é se vai passar algum fim-de-semana em São Paulo. Se sim, rume ao litoral e instale-se no Beach Hotel em Maresias e jante em Camburi, no Manacá (aconselho marcação). Em São Paulo, a capital gastronómica da América Latina, esqueça o regime e delicie-se no Figueira, no Gero ou no Fasano. Não deixe de ir beber um drink e ouvir (boa) música ao vivo no Sky, no Hotel Unique, de onde avistará a cidade até perder de vista. Eu não sou grande fã de museus, mas gostei de ter ido ao MASP (Museu de Arte de São Paulo) e ao MAC (Museu de Arte Contemporânea). Aí poderá aproveitar para passear no Parque Ibirapuera. Passeie pelo bairro dos Jardins e se for o caso, perca a cabeça numa das lojas da Rua Haddock Lobo. Não deixe de ir ao teatro (lá há muito bom teatro) e depois vá cear ao Forneria São Paolo, na Rua Amauri. Um derradeiro conselho para quem chega (não, não vou falar de segurança): compre a Veja que o destacável cultural e gastronómico é completo e muito útil. Se gosta de cerveja e de lugares típicos, beba uma no Bar do Leo, um boteco que é um must em São Paulo, lá bem no Centrão. Valeu? Boa viagem, divirta-se e espero que goste tanto como eu. São Paulo é uma cidade que trarei para sempre no coração.

p.s. – Aconselho a levar palas para o Senhor Jóia, que lá até frentista* é gostosa.

* moças que trabalham nas bombas de gasolina.

28 de Setembro... e Deus criou a mulher.


Porque hoje é segunda-feira.


As minhas actrizes favoritas:

Julie Delpy

27.9.09

O povo é quem mais ordena.

Quem acompanha a desconversa que vou mantendo com quem me lê, já lá vão mais de dois anos, sabe que a política é um tema arredio por estas bandas. E, acreditem, também o é na minha vida pessoal, pelo menos de uma forma apaixonada e mercuriana. Prefiro o pragmatismo do quotidiano a conjecturas políticas, muitas vezes suportadas por jogos pouco claros ou nada transparentes. A respeito da vida política nacional e destas eleições, que eu me lembre, toquei duas vezes no assunto. Uma, a que me levou a este título, para relembrar todos os críticos de José Sócrates, nos quais me incluo, a admitirem publicamente que o povo português é tolo, ignorante e tem o que merece, aliás sempre teve. Outra fazendo menção a Manuela Ferreira Leite e manifestando a minha insatisfação por ter como expectro um primeiro ministro que devia estar em casa a cuidar nos netos e que não abria perspectivas positivas para o país. MFL, tal como o PSD, é uma marca gasta, envelhecida e conotada com uma vertente premium nociva, aburguesada, distante e pouco sedutora, por liderar um partido de barões. Marcas e produtos com estas características arriscam-se a perder. O consumidor não se identifica com elas e não as compra. Se juntarmos a isto uma campanha deplorável, sem nervo, com erros graves e sem uma, apenas uma, promessa com poder de conquista, então o mais provável é, e foi, ver as costas e não o sorriso dos consumidores. O povo é quem mais ordena e ordenou, tal como os consumidores são, em última instância, os juízes que declaram o sucesso ou o fracasso de uma marca ou de um produto. Apesar disso não nos esqueçamos, nem nos iludamos: quem sabe o que é melhor para uma marca é quem manda nela, ou seja, o markteer, e não o consumidor. Barak Obama, personalidade por quem não nutro simpatia, parece não se ter esquecido disso, mas o mesmo não aconteceu com o PSD e a MFL. O consumidor não é muito esperto, nem tão pouco muito inteligente. Acham que o povo, principalmente o português, o é? Obama deu a volta aos americanos porque foi competente, porque lhes prometeu o que eles desejavam e os convenceu. E o PSD e a MFL? Foram incompetentes e deixaram que o povo mais ordenasse. E o povo fez o quê? Ordenou!