28.8.07

Claro que não tinha entendido.

Entre aprazíveis banalidades, ia já a conversa madrugada dentro, o olhar do amigo fixa-se no dele e a pergunta chega num tom de voz meio contido. Como é isso de um homem divorciado viver com os filhos? É como uma mãe divorciada a viver com os filhos, acho eu. O silêncio instalou-se por momentos, com um a tentar perceber o significado da resposta, sem sucesso, e o outro a dar-se conta que na sua resposta a palavra mãe tinha ocupado o lugar do sujeito da frase. Ele não era um homem divorciado a viver com os filhos. Era um pai a viver com os filhos, só que era era divorciado. Será que o amigo tinha entendido? Claro que não tinha entendido, nem tal lhe era exigido. Não porque o QI do amigo fosse inferior ao normal ou porque fosse alguém despido de sentimentos e emoções, senão não seria seu amigo. Tinha a experiência de ser divorciado, mas faltava-lhe a de ser pai. Deve ser duro. Às vezes. E como é que te safas? Estando feliz, sereno. Mas e a organização da casa, os horários, as refeições? O que é que têm? Deve ser complicado. É, de facto. O amigo abanou a cabeça num sinal misto de compreensão e admiração e a conversa voltou às aprazíveis banalidades, sem nunca se terem aflorado, sequer, as coisas boas. Ainda bem, pensou ele. Se há tantas coisas boas que uma mãe divorciada a viver com os filhos não consegue explicar porque é que um pai divorciado a viver com os filhos conseguiria?

2 comentários:

CPrice disse...

.. ou será que entendeu .. entendeu tão bem que a parte que lhe falta na condição matrimonial partilhada é precisamente a existência de um rebento .. e a vivência .. ah essa grata vivência (quando serenamente aceite) vivida .. (?)


:)

devolvo-lhe o "elogio" caro Mike ..já tinha saudades de o ler.

Mike disse...

Grato :)