21.3.07

Quem disse que havia almoços grátis?

A vida é, indubitavelmente, mais difícil para as mulheres de uma forma geral. Seja em que cisrcunstância for, têm sempre de provar mais que os homens para chegar, em paridade, onde eles chegam. Mesmo nos tempos que correm, tempos de mudança de mentalidades e de atitudes, nelas continuam a recair a grande maioria das tarefas e responsabilidades diárias. É evidente que nós, homens, somos mais participantes hoje, face a gerações anteriores, mesmo assim cerca de 70% das tarefas diárias continuam a estar, injustamente, nas mãos das mulheres. Esta constatação continua, claro, a ter por base uma visão generalista do fenómeno, porque, como em tudo na vida, há casos e casos. O difícil é, para além da constatação, poder aferir as causas, que também como em quase tudo na vida, não têm apenas uma única origem. Uns dirão que são os sinais dos tempos vividos nas sociedades modernas e na sua dura realidade, outros apontarão o dedo acusador aos homens que continuam a revelar uma lentidão atroz na mudança de atitudes e comportamentos. Outros ainda serão partidários da opinião que foram as próprias mulheres que, legitimamente, escolheram o seu novo caminho. Em meu entender e correndo o risco de ser interpretado à luz de um pragmatismo cruel, com razão. Porque a razão lhes assistia e porque é legítimo que assim seja, as mulheres recusaram ser encaradas como seres marginais do ponto de vista social e laboral. Mas não há almoços grátis e neste caso, principalmente neste caso, mais uma vez, como em tudo na vida, há um preço a pagar. E que preço. Não só o preço imediato, como o preço a pagar para se mudar no futuro. Porque o que levou gerações para se construir, levará gerações para se reconstruir. As sociedades e as economias baseadas no capitalismo moderno e liberal estão hoje dependentes das mulheres, que aqui e ali, começam a manifestar o sofoco natural de uma vida dura que elas próprias escolheram. Claro que é justíssimo que as mulheres queiram ter acesso a carreiras profissionais, claro que é justíssimo que queiram ser reconhecidas profissionalmente e obter o sucesso profissional, claro que não só é justíssimo, como um desígnio da sua própria natureza, que queiram um dia vir a experimentar esse papel sublime e superior de serem mães, papel que só elas podem desempenhar.
E é aqui que chegam as primeiras contradições, os primeiros conflitos e frustrações. Há que escolher, não se pode ser exemplar nestas duas grandes vertentes das nossas vidas. Mas dirão, “Então e os pais? Que papel lhes está destinado”? Um papel menor comparado com o da mãe. Que injustiça, que crueldade! Pode até ser, ou melhor, é concerteza. Mas voltando a fazer uso do tal pragmetismo, vejamos: passaram-se cerca de trinta anos desde que se queimaram soutiens em Lisboa, e só escolho este facto pelo que ele encerra como um marco, em meu entender despropositado, de reclamação de emancipação. Em trinta anos mudou-se muita coisa, porque será que houve outras coisas que não mudaram? E não mudaram só aqui, também não mudaram noutros países ditos mais avançados por essa Europa e esse mundo fora. Porventura não mudaram porque há leis, as da natureza, que não são passíveis de legislação e não seremos nunca capazes de mudar. Ser mãe é diferente de ser pai e esse papel está destinado às mulheres desde o dia em que nasceram meninas e desde o momento em que ao “chamamento” disseram que sim. “Ah, mas estava à espera que comigo fosse diferente”. E porque seria assim? E porque ao invés dos lamentos de hoje não se luta por uma vida diferente como as mulheres já o fizeram outrora? Afinal os destinos da vida, das sociedades e da família sempre estiveram nas mãos das mulheres e não vislumbro nenhumas razões, para além do comodismo e da distracção com coisas supostamente mais importantes, para que elas não mantenham em mãos o seu destino. Elas, tão nobres e lutadores seres. Se escolheram um caminho poderão sempre escolher outro e neste caso acredito que terão, surpreendemente, mais apoio dos homens.

2 comentários:

L. Rodrigues disse...

Aqui há uns tempos ouvi uma antropóloga afirma que este reposicionamento do papel da mulher era apenas um regresso a uma ordem ancestral. Em grande parte das sociedades caçadoras/recolectoras a mulher contribui com cerca de 60% da economia da familia. O seu papel sendo especifico pela natureza das coisas, está longe de ser subalterno.

José, o Alfredo disse...

Essa do não haver almoços grátis é que não bate muito certo com o tema. Estou convencido de que todos os dias há milhões de gajos que almoçam grátis, nomeadamente porque há milhões de gajas que lhes fazem o comer.